Os quatros evangelhos contam o milagre – o que mostra a grande veneração com que as primeiras comunidades conservaram e transmitiram.
O 4º sinal acontece “do outro lado do mar da Galiléia” (6,1), ou seja, em território pagão. Segue a Jesus grande multidão, aqueles que viram o que ele fez em favor do paralítico. (5,9).
Jesus sobe a montanha como Moisés no tempo do deserto. Moisés subiu e desceu várias vezes, Jesus sobe, senta: Ele é superior a Moisés. É com esse povo que ele celebrará a Páscoa que não tem fim, a Festa da Vida, a Aliança.
No tempo do deserto, o povo passou fome. Também no 4º sinal aparece a questão da sobrevivência. Jesus realizou para suscitar a fé. (20,31). O sinal realizado aponta pra Jesus como aquele que sacia a fome da humanidade.
Jesus que sensibilizou-se diante da doença, da morte, exclusão, vendo o Povo como “ovelhas que não tem pastor”, sensibiliza com a fome material do povo. Imediatamente pretende compartilhar com os apóstolos, começa informando-os da necessidade do povo e provoca sua iniciativa, para que fossem realmente participantes daquela situação: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. ‘Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” Resposta que nos questiona hoje também, diante das necessidades do nosso povo.
Aparecem os personagens: Felipe, André, o menino. Neles vemos nossos rostos estampados, porque esboçam as nossas atitudes.
Felipe – os limites dos números? É o homem dos cálculos. Na frieza dos seus raciocínios, coloca num dos pratos da balança as necessidades do povo – 5000 pessoas. Do outro lado, os recursos indispensáveis para resolver o problema: 200 moedas. O balanço resulta na impossibilidade de resolver o problema. Portanto, não há o que fazer. Felipe somos nós quando confundimos o difícil com o impossível, quando nos apavoramos diante dos problemas e os agravamos com nossa imaginação. Batemos em retirada com a consciência tranquila de manter os braços cruzados. “Não dá mesmo!”.
André – a criatividade – tenta dar uma passo na busca da solução do problema: “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes”. Afinal é melhor do que nada. Mas quase se desculpando, invalida tudo concluindo que não adianta nem pensar. André somos nós que temos ideias e aventamos soluções, mas ficamos receosos do que o primeiro passo poderá exigir de nós. Amedrontados preferimos refugiar-nos nas boas intenções, quando muito avançamos até a elaboração de planos, mas a prática nos paralisa. Contentamo-nos em ter boas ideias.
Jovem anônimo – não tem nome, só gesto porque se adapta nele o rosto de qualquer um que o queiramos. Adiantou-se para oferecer o seu pouco, mas era o seu lanche, a sua provisão, o seu tudo. Seu sacrifício não constituiu em renunciar apenas, deixa de possuir, mas foi o presente que depositou nas mãos de Jesus. Tirou de si para doar, não perdeu simplesmente trocou com muito mais. Correu o risco da inutilidade: ser elogiado pelo bom coração, mas reprovado pela insignificância da sua dádiva. Mas ele não confiava no valor dos seus pães e sim nas mãos de quem os recebia. Não se deixou impressionar pelo ótimo, fez o bem que podia. Muitas vezes a pretensão de fazer o perfeito impede-nos até de executar o bom.
5 pães e 2 peixes – 7 totalidade – pão de cevada e peixe eram comida dos pobres. O rapaz lembra os pequenos que estão dispostos a servir e a partilhar os bens da vida, sem submetê-los à ganância do comércio. Isto desencadeia a novidade de Jesus.
Sentar-se – Jesus manda o povo sentar para a refeição – somente pessoas livres é que sentavam para tomar refeição. O gesto portanto, funciona como tomada de consciência, a própria dignidade e liberdade. Jesus quer que os discípulos tomem consciência disso.
Dar Graças – reconhecer que os bens vem de Deus – dando graças Jesus está tirando os bens da vida das garras da ganância do comércio para coloca-los no âmbito da partilha e da gratuidade.
O gesto de Jesus é a grande catequese sobre o projeto de Deus, que é liberdade e vida para todos. O ensinamento dele, não visa acumular para depois distribuir, antes partilhar o que cada um tem, para que todos fiquem saciados;
O povo se farta. E ainda sobra muito coisa. Disso aprendemos que se os bens da vida forem partilhados entre todos, todos ficarão satisfeitos e ainda sobra muita coisa. 12 cestos.
Jesus manda recolher os pães que sobraram: “Recolham os pedaços que sobraram, para não se desperdiçar nada”. O que Jesus quer dizer com isso é que sua comunidade não pode acumular pois gera ganância. E o que e acumulado por alguns falta aos outros.
O povo reage ao sinal que Jesus realizou: “Este é mesmo o Profeta que devia vir ao mundo”.
Quando Jesus mandou a multidão sentar, queria o povo livre. Este agora, quer se tornar escravo de um rei. Por isso, Jesus foge para a montanha, pois não se deixa manipular. O povo não entendeu o sinal.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.
Escrito a partir de: Como ler o Evangelho de João, José Bortolini.