ANANDA PORTILHO
FOLHAPRESS
A rampa que liga o térreo ao primeiro andar da escola Cebama, na qual Rayssa Leal estuda, já virou pista de treino para a medalhista de prata nos Jogos de Tóquio. Quando recebia autorização para levar o skate às aulas, a atleta adolescente não perdia a oportunidade de percorrer o obstáculo improvisado.
Aos risos, Ana Cláudia Almeida Silva, diretora da escola em Imperatriz, cidade a cerca de 600 quilômetros da capital São Luís (MA), lembra de quando Rayssa descia a rampa e todos ficavam ao mesmo tempo boquiabertos e preocupados com as manobras da skatista. “A gente tem ela como uma garota muito sapeca. Ela brinca, corre, pula. Mas nós temos outros alunos. Se a gente liberar o skate da Rayssa, os outros também vão querer trazer. Já pensou os outros alunos descendo aquelas rampas de skate?”
Rayssa, a Fadinha, como a medalhista é conhecida, cursa o nono ano do ensino fundamental e, segundo a diretora, tem bom desempenho em sala de aula. Quando volta das viagens para competir, seja dentro ou fora do Brasil, todos imaginam que ela vá pedir uma folga para ficar em casa e descansar. “Mas no outro dia já está aqui na escola”, afirma Ana Cláudia, para quem a atleta tem “muita facilidade para aprender”.
Outra característica que a diretora ressalta é a presença constante da família na vida da atleta, cujos irmãos também são esportistas. Kaymisson Leal, 17, é jogador de futebol, e Arthur Leal, 7, skatista.
Aos 13 anos, Rayssa coleciona premiações e troféus, mas quando chega em casa é uma adolescente como outra qualquer. Gosta de jogar videogame, futebol e brincar com os amigos. Miguel Teixeira, 10, é uma dessas crianças com quem a Fadinha convive fora dos holofotes olímpicos e das pistas.
“A gente se conheceu na escola, ela é uma amiga normal e joga futebol melhor do que eu”, diz o garoto.
Rayssa virou fenômeno na internet em 2015, quando um vídeo em que ela aparece vestida de fada e realizando manobras de skate foi publicado nas redes e compartilhado pelo lendário skatista Tony Hawk.
Seis anos depois, a menina que treinava sem estrutura viu a vontade de se tornar atleta profissional se tornar medalhista numa modalidade que pela primeira vez faz parte do programa olímpico.
Quem também acompanhou a evolução da Fadinha foi Gilberto Alves, 60, que trabalha na loja onde fica localizada a calçada utilizada no vídeo que fez de Rayssa um nome conhecido. Emocionado, ele lembra da “pequenininha, bem magrinha”. “A gente é da cidade, a gente fica muito emocionado.”
Aquela calçada, com uma escada, em uma das principais avenidas de Imperatriz, a Getúlio Vargas, agora virou ponto de referência. “Dá até para chamar de ponto turístico”, diz o vendedor Guilherme Sampaio.
“O pessoal do skate e do patins continua utilizando muito essa escada, porque é um local bom para manobras, e todo mundo que passa sabe que foi aqui que a Rayssa ganhou repercussão. Lembro-me quando o [skatista brasileiro] Sandro Dias veio aqui. Até tirei uma foto. Esse ponto ficou muito conhecido.”
Rayssa desembarca na quarta (28) em Imperatriz, onde vai reencontrar o pai, Haroldo Oliveira, o irmão Arthur e amigos. A Fadinha também será recebida por uma cidade que viveu um momento histórico protagonizado pela menina que é cria da praça Mané Garrincha, o principal local esportivo da cidade.