Com Selic em alta, o acesso ao crédito ficou mais caro desde o segundo semestre do ano passado. Some-se a isso que várias linhas emergenciais disponibilizadas pelo Governo foram descontinuadas e ainda não foram divulgadas novas opções para este ano. E mesmo alternativas que se tornaram permanentes, como o Pronampe – Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte – que trabalham com juros mais baixos e prazos maiores para pagar, ainda não têm prazo certo de quando serão oferecidas este ano e qual a quantidade de recursos que será disponibilizada.
A sugestão do especialista do Núcleo de Acesso ao Crédito da Federação das Indústrias do Paraná (NAC), João Baptista Guimarães, é de que, antes de recorrer a qualquer tipo de recurso, que o empresário pesquise o mercado porque o custo do crédito está muito alto por conta da Selic, que hoje opera com taxa de 10,75% ao ano. “A recomendação é sempre sugerir que seja feita a lição de casa. Organizar as contas e os estoques, rever despesas, negociar com fornecedores, otimizar recursos operacionais e só depois disso pesquisar o mercado”, resume.
Ele completa sugerindo que as melhores opções disponíveis para as empresas são as linhas de longo prazo, que geralmente são mais baratas. Outra dica é buscar instituições de fomento e desenvolvimento que oferecem opções com taxas mais atrativas e prazos maiores do que os bancos tradicionais de varejo. “A Selic baliza as principais linhas de crédito oferecidas para as empresas atualmente, mas estes bancos de fomento eventualmente oferecem subsídios que as tornam mais baratas para as empresas”, reforça Guimarães.
O crédito para capital de giro segue como principal alvo da maioria das empresas que precisam de crédito. Ainda em um movimento de retomada, diz o especialista, elas buscam recursos para se recuperar, manter o fluxo de caixa ou até para aumentar a produtividade. Mas ele explica que tem crescido a procura por linhas de crédito que resultam em redução de custos.
Exemplos disso são as ligadas a projetos de eficiência energética que financiam a instalação de painéis fotovoltaicos e incentivam a aquisição de motores e equipamentos mais eficientes para redução de despesas operacionais. Outra opção disponível são as linhas para programas de transformação digital e indústria 4.0, que contam com custo subsidiado. “Esse movimento começou em 2019, foi reduzido posteriormente em 2020 e 2021, por conta da pandemia, mas agora os bancos estão retomando o incentivo para desengavetar projetos que tornem as empresas mais eficientes, rentáveis e competitivas”, complementa João Baptista Guimarães.
Sobre o cenário do crédito para este ano, Guimarães avalia que tudo vai depender das medidas do Governo. Uma delas é o Pronampe, que pode auxiliar as micro e pequenas empresas. Ele reforça a cautela para os empresários tendo como base o último relatório Focus divulgado este mês pelo Banco Central, que estima que a Selic deve se manter alta até o fim de 2022, chegando a 12,25% ao ano. “O custo dos empréstimos e financiamentos devem subir ainda mais até dezembro. Por isso o empresário deve ficar atento não só aos empréstimos que for fazer agora, mas também aos já contratados, uma vez que podem ser influenciados pela alta da taxa básica de juros da economia. Todo cuidado é pouco para evitar o endividamento”, alerta. Somente em 2023, segundo o relatório, a Selic deve começar a cair.