ANA BOTTALLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A pandemia da Covid-19 trouxe muitos efeitos na saúde da população, além do impacto direto da doença que já matou mais de 635 mil brasileiros.
Um desses efeitos é a piora nos cuidados com a saúde e a alimentação, embora os dados sobre hábitos de vida durante a pandemia estejam ainda em atraso.
Agora, uma nova pesquisa mostra que as buscas por informações sobre diabetes em geral, incluindo prevenção, cuidados e sintomas, caíram nos dois últimos anos, coincidente com a pandemia.
O levantamento, feito pela SA365 Health+Life, apontou um crescimento nos últimos cinco anos de dados sobre diabetes na internet e nas redes sociais, com base em termos populares no Google Trends, postagens no Twitter, Facebook e Instagram e visualizações de vídeos no YouTube.
Porém, apesar de alguns períodos de alta procura, como nas datas próximas ao dia Mundial do Diabetes, em 14 de novembro, os anos de 2020 e 2021 registraram uma leve redução nas buscas em relação aos três anos anteriores.
“Esse leve decréscimo pode ser creditado à pandemia pois, com a Covid-19 em evidência, as campanhas de conscientização para o diabetes foram deixadas de lado, assim como a procura dos pacientes por atendimento médico, com medo de contrair o coronavírus”, afirma Breno Soutto, responsável pela pesquisa, completando que a grande maioria das pessoas deixou de fazer exames de rotina no período.
A tendência de aumento que vinha se desenhando anteriormente, no entanto, deve aproximar as buscas agora aos níveis verificados antes da pandemia, principalmente considerando que os novos casos de diabetes em todo o mundo cresceram 16% nos últimos dois anos, de acordo com o Atlas Diabetes 2021.
No Brasil, país que ocupa a quinta posição de maior incidência da doença no mundo, há 16,8 milhões de adultos convivendo com a doença.
De acordo com o estudo, cujo período analisado foi de agosto de 2016 a agosto de 2021, os assuntos que geram mais compartilhamento e engajamento do público em relação à doença são hábitos de alimentação e prática de exercícios físicos, rotina de cuidados, prevenção, incluindo diagnóstico, complicações e tratamento, sedentarismo e sobrepeso, consolo, troca de experiências e rede de apoio e tratamentos alternativos e aplicativos.
Foram identificados também oito perfis de usuários que procuram informações sobre diabetes no país: médicos, nutricionistas, fisioterapeutas, treinadores pessoais, pacientes, cuidadores, familiares e veículos de mídia tradicional.
Segundo Soutto, cada plataforma possui um tipo de conteúdo que gera mais engajamento, mas os médicos são os principais responsáveis por trazer educação e informação, tendo como o principal e mais influente o oncologista Dráuzio Varella, somando mais de 2 milhões de visualizações em diferentes vídeos sobre o tema.
De acordo com dados do Google Trends, porém, os usuários não fazem uma distinção inicial entre os termos diabetes e diabetes mellitus, apontando que a procura por informações sobre a doença não é restrita apenas àqueles diagnosticados com a forma da doença de origem genética.
A análise da separação por tipo de diabetes aponta que há pouca diferença entre os usuários que procuram termos como “diabetes tipo 1”, “diabetes tipo 2” ou “diabetes tipo 3”.
Para o epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Paulo Lotufo, o impacto da pandemia em motivar busca por informações sobre diabetes, se houver, seria por eventual aumento do peso no período.
“A única coisa que podemos especular seria o aumento de diabetes pelo aumento do peso [causado] pela redução da atividade física e maior ingestão de alimentos calóricos, principalmente ultraprocessados”, diz.
Para Gabriel Laudares, analista de marketing e comunicação do SA365, uma das lacunas nos dados sobre diabetes encontradas pela pesquisa é de informação com validade, seja de empresas que atuam no ramo da saúde, seja de hospitais e laboratórios que fazem o diagnóstico.
“No contexto pandêmico, muitas pessoas podem ter descoberto serem pré-diabéticas, principalmente por causa da piora na alimentação e na prática de atividade física já constatadas durante o período, e essas pessoas buscam tomar alguma decisão mais norteadora sobre como agir, um terreno em que essas empresas podem ocupar”, diz.
Um dos principais perfis de engajamento, segundo a pesquisa, são os familiares de pacientes convivendo com diabetes, especialmente mães. “É algo que vemos muita procura no Instagram, por exemplo. Esses perfis vão ter o papel de influenciadora ao contar o cotidiano da doença”, afirma Soutto.
Segundo um estudo alemão publicado na revista da Sociedade Americana de Diabetes, a incidência de diabetes tipo 1 em crianças e adolescentes durante a pandemia, no período de 2020 a 2021, foi 15% maior do que a observada de 2011 a 2019.
Há, também, um nicho para falar da doença no contexto mais científico, com informações embasadas em estudos, mas traduzidas para o público leigo, como faz Dráuzio Varella em seu canal. “Existe uma demanda por essa informação mais técnica”, completa.
De acordo com o estudo, a discussão sobre o tema no ambiente digital hoje vê espaço para dar uma “autonomia a médicos e pacientes para conduzir as conversas e influenciar outras pessoas”.
“Nota-se que o debate sobre alimentação e exercícios como controle e tratamento ganha destaque e é liderado pelos próprios usuários, enquanto a prevenção é pouco abordada. Com o aumento da doença nos últimos dois anos e uma projeção pessimista para o futuro, há uma grande lacuna que pode ser preenchida para tirar as dúvidas de pacientes com diabetes, trazendo informações que tenham respaldo científico e clínico”, diz o texto.
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