Opção por Deus…
O acento principal deste primeiro domingo da Quaresma é a opção pela fé em Jesus Cristo e no Deus que Jesus faz presente em nossa vida.
Como mostra o Evangelho de hoje (Lc 4,1-13), Jesus mesmo nos deu o exemplo da opção por Deus, quando o diabo lhe apresentou opções, inclusive sob a aparência de bem.
A primeira leitura (Dt 26,4-10), contém um rito, uma oferta e a profissão de fé. Oferecer a Deus os primeiros frutos estimulava à generosidade, superando a tentação da ganância e do acúmulo de bens. O rito se encerrava com uma festa de confraternização. A fé israelita está ancorada na história e a expressão dessa fé é a gratuidade e a ação de graças. ‘Por isso trago agora os primeiros frutos que o Senhor me deu”. A seguir o ofertante se prostrava diante do Deus libertador, reconhecendo-o como o Deus que caminha com os oprimidos da história.
O texto do evangelho, vem antes do Projeto proclamado em Nazaré, como colocar em prática, quais as contradições e tentações?
Jesus humano, descendente de Abraão, por isso as tentações por ele sofridas são as mesmas que nós enfrentamos no esforço de atuar no Projeto divino.
NO DESERTO: LUGAR ONDE O POVO ÀS DURAS PENAS CONSTRUIU UM PROJETO ALTERNATIVO. Deserto da Quaresma, até chegar à Páscoa da ressurreição.
40 DIAS – NÚMERO SIMBÓLICO: Moisés ficou na montanha sem comer e beber, a fim de escrever os Mandamentos. Elias no Monte Horeb… 40 ANOS DE ISRAEL NO DESERTO COM AS TENTAÇÕES DE VOLTAR AO EGITO, mesmo que fosse para viver como escravo, desde que fosse de barriga cheia.
– Todo o desenrolar da tentação poderia ser resumida na ação do demônio para levá-lo a fechar-se em si mesmo e a reação de abertura e generosidade.
Uma vez que dispunha de poder porque não usá-lo em seu próprio benefício. É A PRIMEIRA TENTAÇÃO, A RESPOSTA DE CRISTO É QUE NÃO DESEJA SER O PRIMEIRO A SER SERVIDO, MAS QUER SER O PRIMEIRO A SERVIR.
O demônio quer que Jesus liberte os oprimidos num passe de mágica, utilizando Deus em seu próprio benefício. – Quer um deus que seja garantia de prosperidade, um deus de palanque. – Jesus recusa-se a ser o Messias da abundância para si, pois sua proposta é a partilha e pão para todos. = SER RICO E PODEROSO VALE O SACRIFÍCIO DE SUBMETER-SE AOS BENS MATERIAIS. Assim se apresenta a 2ª TENTAÇÃO: A ÚNICA SUBMISSÃO VÁLIDA É A DEUS, O QUAL MERECE SER ADORADO E SERVIDO. Quer perverter o Projeto mediante a usurpação do poder, a proposta é que, liberte os oprimidos através do poder: “Eu te darei todo poder. Como chefe político de estruturas injustas. Como poderá libertá-los tornando-se dono das vidas e controlando a liberdade das pessoas? Fazer isso era se tornar um novo faraó.
O Projeto em Lucas é o SERVIÇO: ESTOU NO MEIO DE VOCÊS COMO QUEM ESTÁ SERVINDO. = O que enche os olhos poderá criar a euforia do coração: é o triunfalismo do espetáculo. Mas confiar no poder de Deus é entregar-se em suas mãos e não utilizar-se desse mesmo poder para a própria ambição.
O diabo tenta Jesus para que abuse do poder de Deus, a fim de livrar da morte. Jesus recusa ser o Messias do prestígio. Recusa, sobretudo, escapar da morte, pois o Projeto de Deus, que é libertação para os oprimidos, passa pela morte de Jesus: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Ser Messias do prestígio constitui idolatria. O evangelho conclui dizendo que “tendo esgotado todas as formas de tentação, o diabo se afastou de Jesus, para voltar no tempo oportuno”. O tempo oportuno é o final da prática libertadora de Jesus, onde vai enfrentar os chefes dos sacerdotes, doutores da lei e anciãos. Eles personificam as tentações que Jesus venceu: creem que Deus lhes garante a prosperidade; acham que é o suporte político para as estruturas injustas que defendem e promovem; vivem envolvidos pela busca do prestígio. Jesus vai enfrentá-los. É sua última tentação. Eles o matam. Mas a ressurreição é a prova de que o projeto do Pai é mais forte que as forças de morte. “Se és o Filho de Deus, desce desta cruz e creremos em ti!”.
Quais são as nossas tentações, diante da ilusão da propaganda da sociedade de consumo: acúmulo, egoísmo, orgulho, vaidade, prestígio, ambição, fake news? Quais os ídolos modernos que nos enganam? Nesta quaresma somos convidados a lutar contra as tentações e vencê-las, convertendo-nos dos nossos apegos, ódio, vingança, maldade, egoísmo, convertendo o nosso coração para Deus e para os irmãos. O nosso coração acompanha a fé de Israel, para renová-la em torno de Jesus de Nazaré, o qual também faz a sua travessia no deserto. Jesus resiste ao tentador, para concluir até o fim a doação de sua vida, na vitória definitiva sobre aquele que se quer colocar no lugar de Deus.
Pe. José Bortolini (Roteiros Homiléticos); (Francisco Taborda\Johan Konings).
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.