REINALDO SILVA
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“O significado de ser mulher hoje em dia é polissêmico, plural. Há mulheres que não têm útero, caso das mulheres trans, as quais assumem as expressões do gênero feminino, mas não engravidam. Há mulheres que têm útero e não desejam ter filhos. Há mulheres lésbicas que podem ou não apresentar expressões e estéticas consideradas femininas e que não deixam de ser mulheres. Diversidade é a palavra de ordem nesse quesito e isso precisa ser respeitado.”
As palavras da presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Paranavaí, Isabela Candeloro Campoi, fazem referência ao Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta terça-feira (8). “Penso que relembrar as conquistas é o grande mote para essa data, pois o 8 de março nasceu assim, como denúncia da degradação da situação das mulheres trabalhadoras, mas também como exigência de direitos; então que seja uma data para exigirmos o fim das diversas formas de violências e a igualdade de gênero.”
Professora da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) e integrante do Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres, Isabela Candeloro Campoi destaca que a objetificação e o controle dos corpos femininos de alguma forma justificam a violência doméstica e o feminicído, denominação para o homicídio de mulheres em razão do gênero. Ela afirma que é recorrente a ideia “se não é minha, não será de mais ninguém”, exemplo da demonstração de poder que os homens praticam em relação às companheiras.
Em Paranavaí, a rede de proteção às mulheres se desenvolveu a partir das preocupações do CMDM, sendo formada por órgãos públicos municipais, estaduais e federais de educação, saúde, segurança, além das representações da sociedade civil. Recentemente, o Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres do Paraná aprovou o plano de trabalho para o período de 2022 a 2025, elencando como tema principal o enfrentamento à violência.
Segurança – A Polícia Militar está integrada à rede municipal de proteção às mulheres de Paranavaí e conta com a Patrulha Maria da Penha, especializada no atendimento às vítimas de violência doméstica. A soldado Camila Dias Gonçalves, de 33 anos, é parte da equipe há quase três anos e afirma que o trabalho exige sensibilidade, característica marcante das mulheres.
Os casos são mais frequentes nos finais de semana, quando há confraternizações e consumo de bebidas alcoólicas e outros entorpecentes. Sempre que presencia situações assim, tenta ter paciência, ser imparcial e agir conforme a lei.
A orientação para as mulheres é que busquem ajuda, denunciem, não se omitam, em casa, no trabalho, na rua, no dia a dia. É comum que a vítima se sinta diminuída, impotente e não saiba como reagir diante de uma situação de violência. O mais importante é que não se sinta culpada.
Na corporação, assim como na sociedade, a evolução foi relevante. O fato de ser mulher não impediu que Camila Dias Gonçalves chegasse até a Polícia Militar. Inspirada em familiares que também atuaram na força de segurança, ela diz que o trabalho faz com que se sinta útil para a sociedade.
O machismo existe e geralmente os casos são resolvidos com diálogo. A policial militar garante que só emprega força física se não houver alternativa.
Educação – O diálogo também é fundamental para a profissão de Simone Pereira da Silva Niehues, 35 anos. Professora da rede municipal há nove anos, que o ambiente de trabalho é predominantemente feminino, por isso nunca teve dificuldades com manifestações machistas, a não ser situações isoladas com pais de alunos, sempre resolvidas com paciência e sensibilidade.
Um dos principais desafios da atualidade é recuperar os danos provocados pela pandemia de Covid-19. Por mais de um ano, as crianças ficaram afastadas das salas de aula, privadas da convivência com os colegas de classe. A crise sanitária trouxe danos pedagógicos, emocionais e sociais. Mas os pequenos aprendem com facilidade e é uma grande recompensa ver como evoluem todos os dias.
Ainda que precise se dividir entre o trabalho na escola e as tarefas domésticas, a professora comemora o fato de contribuir com o sustento da casa. Ser esposa e mãe é gratificante. A jornada dupla é difícil, mas quando fica sem uma das atribuições, sente falta.
Ontem, estudantes da Escola Municipal Ayrton Senna da Silva, orientados pela professora Simone Pereira da Silva Niehues, preparavam homenagens às mulheres. Entre as atividades, a cofecção de um cartaz com imagens de mulheres que fazem parte da comunidade escolar.
Negócios – No caso da empresária Taíse Andrade, 34 anos, o desafio é se reinventar e acompanhar de perto todos os avanços tecnológicos. As ferramentas digitais evoluem muito rápido, e para o setor de fotografias ter novas possibilidades disponíveis para os clientes é condição indispensável.
A liderança de mulheres no meio empresarial é cada vez mais comum e pode ser ainda mais expressiva. Para isso, é necessário que se sintam confiantes, saibam que são capazes. A força está dentro de cada uma.
Já são 15 anos de dedicação à empresa, e hoje Taíse Andrade é responsável pela gestão dos negócios, que começaram há mais de 50 anos com o avô. O pai veio em seguida e passou o legado para ela. Ao longo das cinco décadas, as mulheres sempre participaram das decisões, lado a lado.
(BOX)
Delas para elas – As mulheres entrevistadas pelo DN para esta edição especial de 8 de março deixaram mensagens de incentivo e apoio às leitoras. Comemoram o Dia Internacional da Mulher com a certeza de que é preciso avançar cada vez mais na igualdade de direitos.