THIAGO BRAGA
SÃO PAULO, SP (UOL-FOLHAPRESS) – O técnico Vítor Pereira desembarcou no Brasil com uma missão peculiar. Contratado pelo Corinthians para comandar a equipe, o português precisa não só fazer o seu novo time render em campo, mas sobretudo mudar uma forma de jogar que parece ter ficado enraizada no Parque São Jorge. Nos últimos anos, quem tentou transformar o jogo reativo do Corinthians em um futebol dominante sucumbiu até a demissão.
A favor de Vítor Pereira está o fato de o Corinthians já vir dominando as ações contra a maior parte dos adversários. Análise da reportagem a partir de dados da plataforma Sofascore mostra que mesmo com o criticado Sylvinho no comando técnico do Corinthians, a equipe já dominava os rivais.
No atual Campeonato Paulista, em nove jogos, o time venceu cinco, perdeu duas e empatou as outras duas. Marcou nove gols e sofreu sete. Em todas as partidas, o Corinthians teve mais posse de bola que seus adversários, média de 65%.
O auge foi contra o Botafogo de Ribeirão Preto. Já com Fernando Lázaro comandando interinamente, a equipe teve 75% de posse de bola fora de casa. O time trocou 674 passes, dominou o jogo, criou chances, chutou 10 vezes a gol, mas só três acertaram o alvo. Na ocasião, apenas Róger Guedes iniciou o jogo. Renato Augusto, Giuliano, Paulinho e Willian só entraram no segundo tempo da partida, que acabou empatada em 1 a 1.
No primeiro jogo em que o quinteto alvinegro atuou junto, vitória tranquila sobre o São Bernardo. Os 3 a 0 mostram o caminho para juntar o domínio territorial com a efetividade pretendida por Vítor Pereira. O time soube se aproveitar do fato de ter a bola por 71% do tempo e da troca de passes (674), para criar chances – chutou 11 vezes e acertou sete no gol -, e ganhar com tranquilidade.
“Com as características dos jogadores que temos, com uma certa idade, temos que jogar um jogo que não seja de transições, de ficar correndo sempre. Não pode ser esse o nosso jogo. Nosso jogo tem que ser circulado, de paciência. Sei que queremos ir mais depressa, mas ir mais depressa tem o risco de perda de bola. Se perdemos muitas bolas, temos que reagir mais e defender mais. Vamos ter que encontrar o equilíbrio entre uma circulação de qualidade, com paciência”, afirmou Vítor Pereira, logo após a derrota para o São Paulo, no clássico do último sábado.
No Majestoso, apesar ter dominado as ações no campo de ataque, com posse de bola de 69% e ter dado 13 chutes a gol, a equipe de Vítor Pereira só levou perigo efetivamente no primeiro tempo, quando acertou a trave e obrigou Tiago Volpi a fazer uma boa defesa. No aspecto defensivo, além de ter permitido que o Tricolor chutasse 11 vezes contra a meta defendida por Cássio, sofreu com a desatenção e permitiu o gol rival com menos de um minuto de jogo, decretando a derrota alvinegra.
No Campeonato Brasileiro do ano passado, após um início de torneio ruim, o Timão resolveu que teria que qualificar o elenco para brigar na parte de cima da tabela. O resultado foi a 5ª colocação, o que valeu ao clube uma vaga na Libertadores deste ano.
Em 38 jogos, a equipe teve média de 54,7% de posse de bola. A troca de passes ficou na casa de 457 por jogo. A cada partida o time finalizou 11 vezes, mas apenas três em média acertaram o alvo, a cada 90 minutos. Assim, a produção ofensiva ficou abaixo da expectativa: foram apenas 40 gols em 38 partidas.
Sem Paulinho, que foi contratado somente neste ano, o então quarteto formado por Renato Augusto, Giuliano, Willian e Róger Guedes só atuou juntos por cinco vezes. E saiu invicto com três vitórias e dois empates. Das cinco partidas, em apenas uma o time teve menos posse de bola. Contra o Palmeiras, na Neo Química Arena, os 51% do tempo em que o Palmeiras controlou o jogo pouco importaram. Tampouco o fato de o Palmeiras ter finalizado 16 vezes contra oito do Timão, nem ter trocado mais passes, já que Róger Guedes marcou duas vezes contra o ex-clube e decretou a vitória alvinegra no dérbi.
Em 2022, o Corinthians só pode contar com seu quinteto em três partidas (vitórias sobre São Bernardo e Red Bull e na derrota para o São Paulo). Além de não saber quando poderá contar com os jogadores que formam a linha ofensiva e têm mais qualidade para decidir jogos, Vítor Pereira terá de driblar o imediatismo do futebol brasileiro e terá de saber lidar com a paciência que a diretoria terá com ele. Das outras vezes em que tentou romper com o estilo de jogo mais reativo em direção ao domínio dos adversários, o Timão sofreu até desistir de encontrar uma saída. Foi assim com Adílson Batista, Cristóvão Borges, Tiago Nunes e, mais recentemente, Sylvinho.
Só que dois expoentes do meio de campo atual podem servir como parâmetro para o treinador portugês. Renato Augusto e Paulinho trabalharam no Corinthians com o único técnico que conseguiu transformar o time em uma equipe que envolvia os rivais até vencer seus jogos, feito que rendeu ao elenco o título do Brasileirão de 2015, que tinha Tite no comando e Renato Augusto no meio de campo.
Além disso, Willian e Giuliano foram comandados por Tite na seleção brasileira e no Internacional, respectivamente, dando a Vítor Pereira a segurança de que eles conseguirão desempenhar no Corinthians o sistema que o português pretende implantar no time.
“Em relação aos experientes, temos que jogar um jogo onde nós controlamos o ritmo e a bola. E é isso que vamos tentar fazer. O que temos que melhorar, e a grande dificuldade foi o pouco tempo de trabalho, é a dinâmica ofensiva. Tem que ser mais provocativa, uma dinâmica com mais movimentos de ruptura, nos passes, buscar o espaço, e hoje nos faltou isso. Temos que ter paciência no jogo posicional. Não é porque a bola está de um lado e não chega, que temos que ir todos para o lado que ela está. São aspectos que necessitam de trabalho, e vamos trabalhar”, finalizou Vitor Pereira.
O tempo pedido para aprimorar a equipe poderá ser utilizado nesta semana livre pelo treinador. O Corinthians só volta a campo no próximo sábado, quando enfrenta a Ponte Preta, pela 11ª rodada do Campeonato Paulista.
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