*Isabela Candeloro Campoi
No Brasil e no mundo março se transformou no mês de homenagens às mulheres, o que é importante, afinal, todo ser humano vivente deve a vida a sua genitora, uma mulher! A maternidade é mesmo sublime, mas hoje em dia ser mulher não significa obrigatoriamente passar pela experiência de ser mãe. A ciência e a medicina desenvolveram métodos anticoncepcionais que desvincularam essa relação: teoricamente ser mãe é uma escolha, uma opção, o que não faz da mulher que não deseja ter filhos, menos mulher. Situação das mulheres transexuais que não podem engravidar, por exemplo. O tema sobre a existência de uma essência feminina é polêmico e controverso, mas isso pouco importa, pois o dia Internacional das mulheres é momento profícuo para refletirmos sobre os papeis sociais exigidos das mulheres, bem como sobre a condição feminina atual. Antes de qualquer conclusão, temos um fato: o 8 de março deve ser um dia de luta!
Isso porque, se traçarmos uma linha do tempo da História das mulheres, verificamos muitas conquistas, mas não sem resistência: do acesso à instrução escolar, passando pelo direito de votar e se votada, até as leis que instituíram o divórcio e o femincídio temos muito o que comemorar, pois a equidade entre os gêneros tem sido um caminho extenso e árduo, de longa duração, quase imperceptível para nós do tempo de agora.
Quando jovens senhoras e políticos do final do Segundo Império defendiam a presença feminina no Ensino Superior, não faltaram argumentos de que o cérebro das mulheres era menos desenvolvido, as tornando incapazes de pensamentos abstratos e altivos, ou que sua condição física (dita inferior) as impediam de se dedicarem aos estudos. As duas primeiras médicas brasileiras se formaram nos EUA, pois no Brasil não se admitiam mulheres nas faculdades de medicina até 1879. Mulheres eleitoras?? Quanto abuso, diziam muitos brasileiros no início do século XX, argumentando que isso acabaria com a família, que política era assunto de exclusividade dos homens.
Quantas mulheres enfrentaram tais argumentos para provarem que os lugares do pensamento e da política também poderiam ser seus? A conquista da cidadania foi fundamental, mas é preciso chamar a atenção também para as mudanças no âmbito dos costumes. Houve um tempo em que não se casar ou ser mãe solteira eram motivos de vergonha familiar e até de expulsão de casa ou internamento compulsório em clínicas de fama duvidosa.
É preciso, então, olhar para trás e homenagear as guerreiras que nos antecederam, feministas conceituadas ou não, que nas tribunas, na imprensa ou no seu cotidiano enfrentaram pensamentos antiquados e reacionários contrários às atitudes progressistas que exigiam outros lugares para o gênero feminino. A dupla moralidade quando se trata das diferenças entre os gêneros é uma realidade que não é recente, de modo a pesar mais densamente nos ombros das mulheres. Em casos de assédio sexual, por exemplo, a culpabilização das vítimas mulheres ainda é forte e real nos processos judicias. A violência política de gênero tem sido bastante denunciada nas instâncias de poder; é como se a voz do patriarcado dissesse grave e violentamente: “A política institucional não é lugar para vocês, mulheres!”
Assim, nesse mês de março, entre homenagens e rosas, é preciso também visualizar os espinhos, afinal, há muitas mazelas que recaem sobre as mulheres, sejam os altos índices de violência doméstica e feminicídio, seja a compreensão de que os cuidados com a casa e a prole são de responsabilidade exclusivamente feminina, ainda que ambas as partes do casal trabalhem fora, caracterizando dupla jornada de trabalho para muitas mulheres. Reconhecer essas e outras circunstâncias degradantes que recaem sobre as mulheres é um passo importante para mudanças possíveis, e porque não, uma exigência das mulheres que estão na linha de frente, como é o caso do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Paranavaí.
Rememorar as lutas e conquistas femininas, indicar os problemas que envolvem sua existência e, sim, exaltar e homenagear as mulheres é o que faremos no domingo, dia 13 de março na Praça dos Pioneiros a partir das 15h00, quando acontece o Festival Mulheres em Cena, uma parceria entre a Fundação Cultural e o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Paranavaí, que contará com apresentações e exposições artísticas, rodas de conversa, venda de artesanato, além da sexta edição da Feira Empoderaí.
Será um evento de exaltação das mulheres e também de reflexão sobre a condição feminina nos dias de hoje. Estão todos e todas convidadas para essa tarde de domingo na praça.
*Isabela Candeloro Campoi é presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Paranavaí, membro do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher