*Rodrigo Simões Scolaro
A guerra entre Rússia e Ucrânia embaralha as previsões no mercado internacional para 2022 e já provoca os primeiros reflexos nos preços, como é o caso do petróleo, dos combustíveis e alimentos – já impulsionados pela crise energética chinesa e europeia e a alta da inflação nos Estados Unidos – e dos fertilizantes — neste caso específico pela Rússia ser um dos maiores fornecedores mundiais. No entanto, há um componente que também tem sofrido com a alta de preços, que não recebeu o devido holofote perto de sua importância: o alumínio.
O preço do minério de ferro e das chamadas commodities metálicas – como o níquel e alumínio – seguiram em tendência de alta, neste início de mês de março, devido à primeira semana de guerra e às sanções internacionais impostas à Rússia. O minério de ferro atingiu um preço acima de US$ 150 por tonelada, sobretudo na China, enquanto o alumínio chegou a US$ 3.741 a tonelada, e o níquel nada menos do que 27.976 a tonelada, índice mais alto em 11 anos.
A Rússia é o segundo maior produtor mundial de alumínio, com cerca de 11% de mercado, atrás apenas de China (31,6%) – aliada do governo russo no conflito com a Ucrânia, e acima do Canadá (8,2%) e Estados Unidos (6,8%). Sua produção em 2021 foi de cerca de 4 milhões de toneladas, o que corresponde a cerca de 6% da oferta global.
Um relatório divulgado pelo banco de investimentos UBS indica que é alto o risco de a Rússia interromper o fornecimento de alumínio, como foi feito, na sexta, dia 4 de março, com os fertilizantes. Se isso acontecer, pode ocorrer uma redução de 1,5 milhão a 2 milhões de toneladas na produção russa do alumínio. O impacto não seria imediato devido ao estoque de pelo menos dois meses, mas se esse período for superado as consequências poderão ser drásticas.
Ainda de acordo com o banco UBS, as restrições comerciais à Rusal, a gigante fornecedora de minérios no país de Putin, pode interromper os fluxos comerciais de curto prazo, o que deve impactar a oferta. Isso já aconteceu em 2018, quando os Estados Unidos impuseram restrições comerciais à Rússia, devido à suposta interferência russa nas eleições americanas de 2016. As sanções americanas envolveram a Rusal pelo fato de seu dono, o bilionário Oleg Depiraska, ser amigo de Vladmir Putin, e afetaram seriamente o fornecimento de alumínio, elevando o preço do metal em todo o mundo.
A Europa vive momento de escassez de oferta de alumínio, por conta da redução de produção, em 2021, causada pela crise energética que atingiu o continente com o aumento dos combustíveis, sobretudo do gás natural, após a volta das atividades econômicas com o arrefecimento da pandemia, antes do novo surto da variante Ômicron. O relatório do UBS aponta que o preço de metal deve permanecer alto no curto prazo, o que deve causar mais aperto ao mercado europeu.
O problema pode se generalizar com a alta quantidade de setores da indústria que depende do alumínio, amplamente adotada nos mais diversos setores, sobretudo no segmento de embalagens, por causa de sua leveza, resistência à corrosão e alta condutividade térmica.
Apesar de ser uma das maiores reservas do mundo do principal componente do alumínio, a bauxita, o Brasil já registra o reflexo na alta de preços do metal. Muito produtores nacionais estão procurando alternativas para escapar dos efeitos da crise.
A maior produtora do país, a CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), que implantou a produção nacional do metal em 1955, teve suas ações disparadas em 11% por causa do aumento preço do metal e acredita que o caminho das exportações pode reduzir os efeitos da volatilidade do mercado. A Alcoa, que é a maior produtora de alumínio dos Estados Unidos e possui forte atuação na produção brasileira, interrompeu negócios com a Rússia, parando de fornecer o metal para empresas russas e suspendendo as compras de matérias-primas do país. A Usiminas procura uma solução caseira para a compra de placas de aço, geralmente fornecidas Rússia, e vai comprar o produto de produtores brasileiros.
O efeito dominó da crise da guerra entre Rússia e Ucrânia já provocou aumento histórico em uma série de preços no mercado internacional. O petróleo ultrapassou a barreira dos US$ 100 pela primeira vez desde 2014 e chegou a ser negociado aos US$ 119. O gás o holandês TTF — principal comercializado na Europa-, disparou para 194,715 euros por megawatt hora (MWh), também considerado um máximo histórico. E o trigo, que é bastante fornecido pela Ucrânia, subiu ainda mais, voltando a valores de 2008, com alta de 22,5% no mercado internacional.