Nos três sinóticos aparece como importante baliza no caminho de Jesus a sua pergunta aos discípulos sobre o que as pessoas diziam e pensavam acerca d’Ele (Mc 8,27-30; Mt 16,13-20; Lc 9,18-21). Nos três evangelhos Pedro responde em nome dos doze apóstolos com uma confissão que se distingue claramente da opinião das “pessoas”. Nos três evangelhos, Jesus anuncia logo a seguir sua paixão e sua ressurreição e continua o anúncio do seu próprio destino com um ensinamento sobre o caminho do discipulado, do seguimento dos seus passos que é o crucificado. Nos três evangelhos, Ele explica, porém, este seguimento da cruz de um modo radicalmente antropológico, como o necessário caminho da renúncia, sem o qual não é possível ao homem encontrar-se (Mc 8,31-9,1; Mt 16,21-28; Lc 9,22-27). E, finalmente, segue-se nos três evangelhos o relato da Transfiguração de Jesus, o qual explica e aprofunda a confissão de Pedro e ao mesmo tempo faz sua ligação com a morte e a ressurreição de Jesus.
Aos olhos dos discípulos Jesus se colocava muito aquém do que lhe era de justiça. Apresenta-se com muita modéstia. Passava até despercebido. Vivia um contexto da vida humilde plenamente humana. Solidarizava-se com os pequenos. Sua verdadeira identidade permanecia oculta. Não se aproveitava das grandes oportunidades para ser exaltado. Com o correr do tempo rareando os milagres. Vai-se afastando das multidões para dedicar-se mais à instrução dos discípulos. Neste momento começa a dizer aos discípulos que Ele vai para Jerusalém que lá seria rejeitado pelos anciãos, que sofreria a morte. Tudo isso é muito forte para eles que tinham a expectativa de um Messias Glorioso, triunfalista, juiz severo eles eram portadores das expectativas populares. Com clareza, se dirigia aos discípulos e apresenta as condições para segui-lo: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” (Mt 16,24). Os discípulos sentem-se desanimados depois de escutar o anúncio da paixão de Jesus e conhecer as consequências de seu seguimento. A Transfiguração é uma palavra de ânimo, pois nela se manifesta a glória de Jesus e se antecipa sua vitória sobre a cruz. Temos neste relato completa apresentação de Jesus. Nele se manifestou a Glória de Deus; Ele é verdadeiramente o Messias esperado de Israel, mais ainda, é o Filho de Deus um título no qual Mateus insiste ao longo de todo o seu evangelho.
“Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e conduziu-os a sós a um alto Monte. E transfigurou-se diante deles”. (Mc 9,2) Encontraremos de novo os três no Monte das Oliveiras (Mc 14,33), na derradeira agonia de Jesus como a réplica da Transfiguração. Aqui também se relaciona Moisés que toma consigo na sua subida Aarão, Nadab e Abiu e setenta anciãos de Israel. Os vários montes da vida de Jesus: O Monte da tentação, do grande Sermão, da oração, da Transfiguração, da Agonia, o Monte da cruz e o monte do ressuscitado; por trás aparece os montes – Sinai, Horeb, o Moriah, montes de revelação do Antigo Testamento, que são todos ao mesmo tempo montes de paixão e de revelação. A partir da história conhecemos a história de Deus que fala e a experiência da paixão com o seu ponto mais elevado no sacrifício de Isaac, no sacrifício do cordeiro, que chama antecipadamente a atenção para o cordeiro oferecido sobre o monte do Calvário. Moisés e Elias tiveram de receber a revelação no monte de Deus; eles estão agora conversando com aquele que é em pessoa a revelação de Deus. Então aparecem Moisés e Elias e falam com Jesus. A Lei e os profetas falam com Jesus, falam de Jesus. “Eles apareceram na glória e falavam sobre o seu ‘êxodo’, a sua saída, que devia realizar-se em Jerusalém (Lc 9,31). O tema do seu diálogo é a cruz, mas entendida de um movo envolvente como o êxodo de Jesus, cujo lugar devia ser Jerusalém. A cruz de Jesus é êxodo: partida desta vida, passagem através do “mar vermelho” da paixão e ida para a glória, na qual permanecem os sinais das chagas.
“E Ele se transfigurou diante deles”. “O seu rosto resplandecia como o sol, e os seus vestidos tornaram-se brancos como a luz”. A Transfiguração é um acontecimento da oração; (Lc 9,29) torna-se claro o que acontece no diálogo de Jesus com o Pai; a mais íntima penetração do seu ser com Deus, que se torna pura luz. Na sua unidade de ser com o Pai, o próprio Jesus é Luz de Luz. O que Ele é no seu mais íntimo, e o que Pedro tentou dizer na sua confissão, tornam-se sensivelmente perceptível neste momento: o ser de Jesus na luz de Deus, a luminosidade própria da sua condição de ser Filho.
A caminho de Jerusalém, Jesus fala do seguimento e da cruz que seus seguidores devem assumir. Em seguida leva-os consigo à solidão da montanha pra orarem com ele, e então eles o contemplaram transformado pela glória de Deus. A finalidade dessa visão é que confiem nele e escutem a sua voz, endossada pela autoridade do Pai: “Este é o meu Filho, o escolhido, escutai o que ele diz”. (Lc 9,35.
(Texto escrito a partir de: Jesus de Nazaré de Bento XVI)
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.