EMERSON VICENTE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em busca de músicos de excelência, orquestras brasileiras têm apostado em bolsas de estudo como ferramenta de inclusão para encontrar profissionais. Os programas também são estratégicos para ajudar a suprir necessidades dentro das próprias bandas, que ganham fôlego e se renovam com a descoberta de talentos. São várias as ofertas –mas ser bolsista envolve disciplina e dedicação.
Além do aperfeiçoamento musical, algumas orquestras também oferecem ajuda financeira, cujo valor varia conforme o estado. Em São Paulo, por exemplo, ela fica em torno de R$ 2.000. Na Paraíba, pode chegar a R$ 2.200.
As orquestras operam hoje de diversas formas. Podem ser ligadas diretamente a estados ou municípios, ter parte do orçamento público e outra com investimento de patrocinadores, ou ainda ser independentes, com financiamento da iniciativa privada e parcerias com secretarias governamentais para criar programas educacionais.
A Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, tem orçamento de R$ 120 milhões. Deste valor, aproximadamente metade vem do governo de São Paulo. O restante é captado via leis de incentivo, receitas operacionais de bilheteria e locação, royalties e outras receitas, segundo Marcelo Lopes, diretor-executivo da instituição.
É daí que sai o recurso para a formação de músicos. Criada há 15 anos, a Academia da Osesp conta com 44 alunos, que tocam na orquestra, junto aos músicos profissionais. É um programa com duração de dois anos, com bolsa de R$ 2.055.
“É muito inspirada na academia da filarmônica de Berlim. Os alunos são tutelados pelos principais músicos da orquestra. Uma preparação intensa, em regime de exclusividade, tem que se dedicar só ao estudo da música, em regime integral”, diz Lopes.
O contrabaixista Gustavo Mosca, de 28 anos, é um dos membros da atual formação da iniciativa. Nascido em Aguaí, no interior de São Paulo, ele começou aos 13 anos na música, quando ingressou no Projeto Guri –programa do governo estadual que desenvolve o ensino musical para crianças e adolescentes. De lá, foi para o Conservatório de Tatuí, também ligado ao estado. Fez bacharelado de música na Unesp e, agora, está na Osesp.
“Sem esses projetos eu não teria nem conhecido esse instrumento que eu toco”, afirma Mosca. Segundo o músico, a bolsa faz com que a dedicação possa ser maior. “Recebendo a bolsa, há a oportunidade de só estudar e tocar o instrumento.”
Hoje na Osesp, num elenco com aproximadamente cem profissionais, há quatro músicos que passaram pela academia. “Até alguns anos atrás, o estudante tinha que ir embora do Brasil para terminar a sua formação”, diz o diretor-executivo da orquestra.
A Orquestra Sinfônica de Outro Preto, em Minas Gerais, também conta com uma academia para a formação de novos músicos. Criada em 2000 como Orquestra Experimental da Ufop, a Universidade Federal de Ouro Preto, hoje ela atua de forma independente, bancada por patrocinadores e por leis de incentivo estadual e federal. Sua academia tem 34 alunos, que recebem uma bolsa de R$ 800.
Neste ano, a instituição abriu três novas vagas na academia, com a novidade para uma dedicada a maestro assistente. “Ensinamos a tocar em orquestra, o que é talvez 80% do futuro desses jovens que vão ser músicos”, diz o maestro Rodrigo Toffolo.
Em alguns locais, os projetos são mais amplos e acabam por agregar mais membros para a orquestra. Em Goiás, a Orquestra Sinfônica de Goiânia também abriu programa de bolsas neste ano para 137 vagas. Os selecionados vão receber incentivo no valor de meio salário mínimo –ou R$ 606–, com a obrigação de frequentar as aulas, ensaios e apresentações do grupo para o qual for selecionado.
A Orquestra Sinfônica da Paraíba também ofereceu 22 bolsas para contratação imediata e outras 22 para cadastro de reserva. Já para a orquestra jovem foram oferecidas 70 bolsas. Os valores variam de R$ 700, para a Orquestra Jovem, a R$ 2.200, para a sinfônica.
Com pagamento de R$ 450 mensais, a Universidade Estadual do Ceará distribuiu 92 vagas no final do ano passado. Foram dadas oportunidades para coral, banda e orquestra. Na Orquestra Sinfônica do Recife, a mais antiga do Brasil, com 91 anos de idade, um programa de bolsas ainda será estudado.
Na Orquestra Sinfônica do Recife, a mais antiga do Brasil, com 91 anos, um programa de bolsas ainda será estudado.
Segundo Emiliano Patarra, professor de regência do curso de música da Faculdade Santa Marcelina e diretor artístico da Orquestra Jovem Municipal de Guarulhos, as bolsas são fundamentais na formação. “A pessoa tem talento, mas não tem recurso. A bolsa serve para que ela possa se dedicar e seguir adiante na profissão”, diz Patarra.
Outra preocupação nas orquestras é de se manterem atuais e próximas aos mais diversos públicos. A Orquestra Ouro Preto, por exemplo, já fez uma homenagem ao grupo de rock Nirvana, na celebração dos 30 anos do lançamento do disco Nevermind, em setembro do ano passado.
“As orquestras devem ser organismos modernos e atrativos, com gostos culturais da nossa época”, diz o maestro. “Por que não celebrar o Nervemind? Isso é modernizar o conceito de orquestra.”
Venha nos visitar
Av. Paraná, 1100 - Jardim América - Paranavaí - PR
CEP 87705-190
Fale com a Recepção: (44) 3421-4050