MARIANA VERSOLATO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O chá e o suco para o bebê estão fora do cardápio, a papinha não deve ser uma mistureba liquidificada e o açúcar só pode ser oferecido depois dos dois anos de idade (e olhe lá). O aleitamento materno e o parto normal recebem mais apoio, com consultoras, doulas e fisioterapia pélvica. As palmadas e outros tantos castigos físicos, antes corriqueiros, viraram objeto de lei e encontram mais resistência, apesar de alguns se vangloriarem da violência por aí.
A lista do que mudou de uma geração para outra, da gravidez à educação, vai longe. E as novas práticas, como era de se esperar, podem causar estranheza, especialmente entre os mais velhos.
Segundo a pediatra e mãe Luiza Menezes, que oferece o curso Avós Fora da Caixa para prepará-los para os novos tempos e reduzir eventuais atritos com os pais das crianças, não é que os avós de hoje tenham criado seus filhos errado.
“Eles fizeram o melhor que podiam à luz das informações que tinham. Mas o fato é que a ciência mudou, evoluiu, e eu os convido a se atualizarem”, diz.
“A maior treta é o açúcar, que antes era visto como luxo. Os avós têm essa memória afetiva do doce como recompensa, então hoje, diante da recusa dos pais, às vezes querem dar o doce escondido. Mas quando a pessoa descredibiliza o cuidador principal e pede para a criança esconder algo dos pais, criam-se dois problemas: um é a exposição em si ao açúcar, e o outro é normalizar que haja segredos dos pais nessa idade. A maioria das crianças que sofre abusos não conta para os pais porque o abusador pediu segredo.”
Presidente do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), Tadeu Fernando Fernandes também vê o choque cultural cotidianamente.
“Mudou tudo. Antes era OK dar chá, suco com açúcar, comida com sal, e privilegiavam-se os carboidratos. Os nossos problemas eram a desnutrição e as doenças infecciosas. Hoje é a obesidade”, afirma Fernandes.
As mudanças não são só em relação às orientações médicas e à alimentação. Hoje os pais se tornam pais mais velhos, com mais independência financeira e com acesso a uma enxurrada de informações. E os avós se tornam avós mais tarde, com menos netos, ansiosos e sedentos por eles, e, em geral, com vontade de mimá-los e oferecer uma educação menos rígida do que a que receberam.
A editora Elisabete Junqueira é exemplo dessa transformação. Ela diz brincando que foi uma mãe “dinossaura” diante dos novos tempos.
“Naquela época toda ajuda era bem-vinda. Fui mãe jovem e não tive tempo de ler, de me preparar. Criei meus filhos no padrão da família antiga, em que os avós opinavam e isso era considerado ajuda, e não invasão de privacidade. Quando meu neto mais velho nasceu, percebi que tudo tinha mudado e ninguém tinha me avisado”, diz ela, que criou o site Avosidades, há sete anos, para tratar do tema, e vê conflitos de todas as ordens.
Há pais que reclamam de avós muito permissivos, refratários a mudanças ou intrometidos; tem avós que reclamam de filhos muito rígidos, com pouco jogo de cintura; há relações difíceis entre pais e filhos e também entre genros, noras e sogros. O desafio é achar o caminho para a convivência pacífica, que sempre passa pela conversa franca, sem guardar só para si mesmo o que incomoda.
“Os pais precisam deixar claro suas regras, com sinceridade e com afeto, e ver os avós como aliados. E os avós precisam respeitar as decisões dos pais, para que possam curtir muito seus netos sem tirar o protagonismo deles como principais cuidadores. Assim todo mundo ganha, especialmente a criança”, afirma Junqueira.
Menezes, do curso Avós Fora da Caixa, tem ainda mais uma recomendação: “Eu aconselho que os avós perguntem: ‘No meu tempo era desse jeito, ainda se faz assim?’ em vez de impor”.
Ambas discordam da ideia de que o papel dos avós é “estragar” os netos. “Se você deixar a criança comer porcaria e ficar vendo TV, vai ser exceção, avô de datas comemorativas. Os pais não vão confiar em você para fazer parte dos cuidados cotidianos”, diz Menezes.
“Não pode fazer contrabando. Tem que seguir à risca, principalmente nos primeiros anos de vida. O refrigerante não serve pra nada, por que vai dar? Tem avó que me diz ‘mas meus filhos tomaram e estão bem’, e eu falo: ‘que bom que hoje a gente tem mais informações e o seu neto não vai tomar'”, afirma Junqueira.
Para Edna Maria de Albuquerque Diniz, professora do departamento de pediatria da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e avó, enquanto os pais falam “não” o dia inteiro, os avós dizem um pouco mais de “sim”, é verdade -especialmente quando as crianças já estão um pouco maiores. Mas ela lembra que esse contato tem o potencial de fazer muito bem aos envolvidos.
“Os avós já criaram seus filhos, estão numa fase mais tranquila da vida, e sentem um carinho e um amor incontestáveis pelos netos que é difícil até de descrever”, diz Diniz.
“Avós são porto seguro, são ponto de apoio de ensinamentos e ajudam no desenvolvimento emocional dos netos, que se beneficiam do fato de ter outras pessoas além dos pais que os amam incondicionalmente e de forma acolhedora.”
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