NICOLA PAMPLONA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O mercado vê poucas chances de mudança na política de preços dos combustíveis da Petrobras após a troca do general Joaquim Silva e Luna pelo economista Adriano Pires, anunciada nesta segunda-feira (28) pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
Pires é reconhecido como um defensor da abertura do setor de petróleo no país e a avaliação de pessoas da área e do mercado financeiro é que ele manterá seu posicionamento favorável à prática de preços de mercado.
Além disso, lembram executivos e analistas, o estatuto da Petrobras e a própria Lei das Estatais protegem a empresa contra interferências do acionista controlador sobre suas operações.
A terceira troca no comando da estatal em pouco mais de três anos, porém, foi vista de forma negativa pelo mercado. Para analistas do banco UBS BB, a mudança “pode levantar novamente questões sobre a governança e a independência da companhia”.
“Isso demonstra como o acionista majoritário interfere, ou tenta interferir, na política de preço da empresa”, afirma o presidente da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), Sérgio Araújo. “É uma empresa listada em Bolsa, isso não é muito bom.”
Araújo, porém, elogia a escolha do governo, dizendo que Pires é um dos maiores conhecedores do setor de petróleo brasileiro e que sempre demonstrou apoio à política de acompanhamento dos preços internacionais dos combustíveis.
“Não vejo risco de retrocesso. Seria uma surpresa muito ruim e não acredito, por todo o histórico, por todo o currículo do Adriano, que ele vá se alinhar numa gestão para fazer um retrocesso”, afirma.
Os analistas Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins, do Goldman Sachs, lembram que Pires já defendeu a criação de um fundo de estabilização dos preços dos combustíveis, mas ainda assim mantendo a política atual.
“Ele afirmou que o fundo seria criado com dividendos da Petrobras e royalties, enquanto defendeu que o governo não interfira na política de preços da companhia”, escreveram, em relatório divulgado nesta terça (29).
Daniel Cobucci, do BB Investimentos, reforça que as frequentes trocas são prejudiciais à imagem da empresa, mas frisou que a Petrobras “possui mecanismos que protegem os acionistas minoritários contra eventuais ações que contrariem seu interesse, como a importação e venda com prejuízo no mercado doméstico”.
“Para promover alterações nessa estrutura [de governança] e na política de preços, principal risco para a tese de investimentos da companhia, seriam necessárias alterações legislativas e no estatuto da companhia, o que não nos parece o cenário base neste momento”, escreveu.
Bruce Barbosa, sócio fundador da Nord Research, destaca que a escalada dos preços dos combustíveis é um problema global, que não será resolvido pela troca do presidente da Petrobras –segundo ele, uma “solução fácil, rápida e errada” para uma questão complexa.
“Nada mudou. Procurando uma saída para a gasolina cara, o Brasil troca mais uma vez o presidente da estatal de acordo com as vontades políticas em Brasília”, escreveu Barbosa.
A indicação de Pires foi sacramentada em reunião no domingo (27) com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e será avaliada pelos acionistas da Petrobras em assembleia agendada para 13 de abril.
Bolsonaro iniciou o mandato com Roberto Castello Branco no comando da empresa, mas o demitiu em fevereiro de 2021, já sob impacto da escalada dos preços dos combustíveis na sua popularidade.
Silva e Luna, seu substituto, chegou a reduzir a frequência de reajustes, mas manteve os preços internos dos combustíveis alinhados à tendência internacional. Em sua gestão, o preço da gasolina subiu 27% e o do diesel, 47%. O botijão de gás subiu 27% e o GNV (gás veicular), 44%.
Nesta terça, em palestra para militares, Silva e Luna voltou a defender a política de preços dos combustíveis e disse que “não há lugar para aventureiros” na Petrobras.
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