Um manuscrito atribuído aos jesuítas encontrado em 1703 numa arca da Igreja de São Francisco de Curitiba, localizada na atual Praça João Cândido, Centro Histórico da Capital, estará em exposição no Museu Paranaense (Mupa) a partir desta quinta-feira (7), até 8 de maio de 2022. Será a primeira vez que o manuscrito será exposto no Paraná.
Composto por uma coleção de receitas preparadas pelos jesuítas, o documento estará disponível para visitação na sala Lange de Morretes de terça a domingo, das 10h às 17h. A entrada é gratuita.
No dia 7 de abril, às 19h, o Mupa promove a mesa-redonda “Formulário médico jesuíta: o documento histórico em debate”. Estarão presentes a historiadora e chefe da Seção de Obras Raras da Biblioteca de Manguinhos da Fiocruz, Maria Claudia Santiago, e a historiadora Heloisa Meireles Gesteira. O público terá a oportunidade de conhecer mais detalhes sobre o documento por meio de análises recentes, com base no recém-publicado livro “Formulário médico: manuscrito atribuído aos jesuítas e encontrado em uma arca da Igreja de São Francisco de Curitiba”.
Para participar não é necessário inscrever-se previamente. A liberação dos lugares será a partir de 18h30, por ordem de chegada, até completar a capacidade do local.
Já durante o período de 8 de abril até 6 de maio acontece uma visita mediada pelas educadoras do Mupa, incluindo a ida à Praça João Cândido, que fica à frente do museu, e é o local onde o formulário médico jesuíta foi encontrado. A visita trará informações técnicas e aprofundadas sobre o documento, o contexto da época em que foi produzido e as recentes pesquisas feitas pelo Departamento de Arqueologia do Museu Paranaense.
Sobre o documento – A constituição de uma medicina no contexto colonial da América portuguesa se deu, em grande medida, por meio de trocas e apropriações culturais dos sujeitos históricos que compunham o território naquela época: colonizadores e colonizados. O manuscrito atribuído aos jesuítas permite uma reflexão sobre esses movimentos, que dizem respeito não apenas à produção e registro de conhecimento, mas também à ocupação de espaço e formação de imaginários.
Na coleção de receitas medicinais preparadas pelos jesuítas, cada uma traz a dose dos ingredientes que a compõem, modos de preparo, indicações e maneiras de administrá-la. Ali estão transcritas instruções para várias doenças, como a varíola, sífilis e tuberculose ou ainda para incômodos que na época afetavam os habitantes da Colônia – como azia, impotência, cólicas ou dor de dente. O documento, considerado raro, está salvaguardado atualmente na Biblioteca de Manguinhos – Icict/Fiocruz e é reconhecido pela Unesco no programa Memória Mundo.
As atividades e a exposição integram a programação geral do Programa Público “Se enfiasse os pés na terra: relações entre humanos e plantas”, que segue com atividades e ações gratuitas até maio de 2022 e busca refletir, através de diferentes perspectivas culturais, artísticas e científicas, a correlação entre humanidade e natureza.
Pesquisadoras – Maria Claudia Santiago é historiadora e pós-graduada em Preservação e Gestão de Patrimônio Cultural das Ciências da Saúde. Desde 2011, exerce o cargo de chefia da Seção de Obras Raras e Especiais da Biblioteca Manguinhos/Icict/Fiocruz. Possui experiência nas áreas de conservação e restauração de acervos em papel, gestão de acervos bibliográficos e segurança de acervos. É uma das organizadoras do livro “Formulário médico: manuscrito atribuído aos jesuítas e encontrado em uma arca da Igreja de São Francisco de Curitiba”, publicação vencedora do 6º Prêmio ABEU em 2020, na categoria Ciências da Vida.
Heloisa Meireles Gesteira é doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é pesquisadora titular da Coordenação de Pesquisa e Arquivo do Museu de Astronomia e Ciências Afins; professora do Programa de Pós Graduação em História UNIRIO/MAST; Coordenadora do Mestrado Profissional em Preservação de Acervos de Ciência e Tecnologia. Atua na área de História Social da Ciência com interesse nos estudos sobre os artefatos de ciência e tecnologia; História das ideias e práticas astronômicas na Época Moderna; Estudos sobre as relações entre o conhecimento e o processo de conquista das Américas (séculos XVI e XVIII); Circulação de plantas e trocas culturais. É uma das organizadoras do livro “Formulário médico: manuscrito atribuído aos jesuítas e encontrado em uma arca da Igreja de São Francisco de Curitiba”, publicação vencedora do 6º Prêmio ABEU em 2020, na categoria Ciências da Vida.