JULIANNE CERASOLI
DA FOLHAPRESS
O projeto da Volkswagen de entrar na Fórmula 1 deu mais um passo importante na semana passada com uma reunião positiva do conselho de supervisão do grupo, depois de ter sido aprovado pelos conselhos administrativo e fiscal. Isso significa que os planejamentos de Audi e Porsche estão a pleno vapor, mas dependem que outras coisas aconteçam para saírem do papel.
A principal delas, é claro, é a aprovação das regras das unidades de potência de 2026. A parte técnica está bem delimitada desde setembro do ano passado, e também desde então, o grande entrave é financeiro. Isso porque as regras serão diferentes para quem estiver entrando e para quem já está na categoria, e a delimitação disso é mais complicada do que pode parecer.
“Primeiramente, estamos contentes que Audi e Porsche queiram entrar na F1, isso é ótimo para o esporte”, disse o chefe da Ferrari, Mattia Binotto. “Em relação às regras em si, sabemos que o objetivo é finalizá-las até junho e votá-las. Há alguns pontos em aberto na questão financeira, mas nada a ver com a entrada deles em si, já que as regras foram pensadas com isso em mente.”
Na prática, a grande preocupação de Mercedes, Ferrari e Renault é dar vantagem à Red Bull porque eles devem ter uma parceria financeira e técnica com a Porsche para desenvolverem o que será, efetivamente, a primeira unidade de potência da Red Bull Powertrains.
Esta empresa é nova, mas eles adquiriram a propriedade intelectual da Honda, que segue fornecendo os motores à Red Bull e à AlphaTauri, ainda que eles já carreguem o nome de RBPT. E a partir de 2026, a Porsche entraria na jogada, talvez em um papel semelhante ao da Honda.
“Então, como vamos definir o que é uma nova fornecedora?”, questionou Binotto. “Quais os benefícios de uma nova fornecedora? São pontos que precisam ser esclarecidos e definidos. Além disso, tem a questão da transferência de propriedade intelectual, porque isso não deveria ser permitido. Isso foi definido e precisamos traduzir em palavras [para colocar nas regras]. São muitas coisas para serem finalizadas até junho e é muito trabalho para pouco tempo, então a prioridade é alta.”
Do lado das fabricantes do grupo Volkswagen, ainda é preciso definir como será exatamente a operação de cada uma delas. Enquanto a Porsche deve fechar um contrato de marketing e também tecnológico com a Red Bull, a entrada da Audi é mais nebulosa.
Eles fariam seu próprio motor, de maneira independente e usando parte do que a própria Porsche projetou nos últimos anos visando a F1. Afinal, embora a unidade de potência que a F1 vai adotar em 2026 seja nova, a tecnologia usada não é radicalmente diferente como na mudança de 2014. Trata-se de uma UP com maior potência vinda da recuperação de energia, mesmo com o fim do complicado MGU-H, e com motor a combustão movido a combustível 100% vindo de fontes renováveis.
Mesmo assim, as lições da Honda não podem ser ignoradas. Eles sofreram no início por ter entrado um ano depois da mudança de 2014. Os japoneses, eventualmente, chegaram lá, mas a um custo de centenas de milhões de dólares.
Uma lição que ficou dos japoneses é que a unidade de potência da F1 é tão complexa que a integração entre o projeto do carro e do motor é fundamental para o sucesso, então entrar simplesmente como fornecedora não é uma boa ideia.
Pensando nisso, a Audi investiga comprar alguma equipe, até porque começar uma do zero geraria um custo ainda mais alto. Falou-se na McLaren, mas isso foi desmentido várias vezes e perdeu força. Entre equipes potencialmente à venda, como Haas e Alfa Romeo/Saber, a segunda faz muito mais sentido devido a sua operação centralizada na Suíça com uma fábrica própria e bem equipada, enquanto a Haas compra o chassi da Dallara e depende muito da Ferrari tecnicamente. E a Audi conversa com eles.
Outra solução pode ser a Aston Martin. Eles são clientes da Mercedes, mas Lawrence Stroll vem buscando mudar o status do time à sua maneira, tentando comprar a Mercedes HPP, que fabrica os motores para o time principal e as clientes. Se essa rota estiver bloqueada para ele, uma solução seria fazer uma parceria com a Audi.
Lembrando que tudo tem sido desenhado justamente para que uma montadora como a Audi se interesse na F1, com o estabelecimento do teto orçamentário ano passado. Se há um grande teste para saber se isso dará certo, é agora.