A atmosfera daquela sala onde se trancaram os apóstolos era de tensão. Transpirava-se uma situação de morte, onde o assunto era a lembrança da crucifixão de Cristo. Misturava-se a isso o medo de uma provável perseguição aos seguidores de Jesus.
A presença do Ressuscitado provoca uma mudança radical. O primeiro dom é a paz. Como conseqüência a alegria invade os discípulos. Nosso Senhor lhes confere uma missão. A mesma missão que lhe fora atribuída pelo Pai, a transmite aos discípulos. O Espírito Santo lhes dará a força necessária para o seu cumprimento. A missão os torna criaturas novas, rejuvenescidas pelo sopro de vida. Serão portadores, então, deste mesmo gesto de vida aos homens mediante o perdão.
O encontro com o Ressuscitado e a missão, suscita um processo de mudança-conversão e abre-lhes o horizonte de uma nova crença: O Crucificado ressuscitou e os envia em missão.
A Comunidade de Jerusalém, citada nos Atos dos Apóstolos, é o grão de mostarda, o fermento que se expande. Crescia na fidelidade aos ensinamentos dos apóstolos. Foi o testemunho dos apóstolos, sua pregação que produziu a nossa Comunidade. Ali se acham as raízes do nosso ramo. Tiveram fé para valer, não recusando sacrificar a vida por ela. Assim deveria ser a nossa fé. A Comunidade era um espelho da Vida com o Ressuscitado, no meio de nós.
Tomé à primeira vista, deposita inteira confiança nas provas dos sentidos. Mas desconfia do ouvido: não aceita as vozes dos dez apóstolos que lhe afirmam ter visto Jesus Ressuscitado. Põe fé na sua visão: precisa ver para crer. Mas não é suficiente: é preciso acrescentar o sentido do tato: tocar nas chagas.
Mas tem algo, porém, que se destaca não se afasta da Comunidade embora sofra por não poder compartilhar os mesmos sentimentos. Convenceu Tomé não tanto a aparição do Ressuscitado, mas a sua disponibilidade em sujeitar-se às suas condições. É o mesmo Jesus que veio para servir e não para ser servido. Também para nós, foi que deu as provas, para que nós hoje crêssemos.
Tomé revê Jesus, quando se reúne aos outros apóstolos: quando aceita humildemente permanecer com os outros, mesmo não os compreendendo.
Tomé precisou de ajuda para crer. Muitas vezes nós também precisamos. Há duas maneiras de você crer no que alguém diz: acreditando na pessoa ou esperando que ela prove que diz a verdade. Se alguém diz que ama você, como você reage? Aceita a sua palavra, ou responde: Ok então prove. Jesus diz a Felipe: “Crede-me que estou no Pai e que o Pai está em mim”. Pelo jeito Felipe era do tipo desconfiado, pois Jesus acrescenta: “Crede, ao menos por causa das minhas obras”. Os judeus queriam ver, os gentios entender. Em Cristo Crucificado encontramos as duas coisas: o poder de Deus e a sabedoria de Deus, mas de modo que é loucura para a mente carnal.
Tomé que entrou na história como símbolo de incredulidade, superou de modo absoluto ao professar sua fé dizendo diante do Ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus”. Ter dúvidas e desconfiança não é problema nenhum, afinal acreditar cegamente em tudo não é saudável. Mas superar a descrença nos faz crescer e amadurecer na fé.
Acreditar não é um salto no escuro, mas também não é conclusão de um raciocínio frio, matemático, preciso. Se fosse salto no escuro, seríamos loucos; se fosse resultado de um raciocínio não seria fé. O cristão tem o direito de saber em quem crê e por que crê, embora não seja capaz de ver e provar aquilo que crê. Temos que dar razão da esperança que está em nós (1 Pd 3,15). “A fé é um modo de já possuir aquilo que se espera e um meio de conhecer realidades que não se vê” Hb 11,1
Nenhum de nós viu nem tocou Jesus Ressuscitado, e por isso nossa fé é alicerçada no testemunho daqueles que O viram. E a gente crê de fato que Cristo Ressuscitou? Mesmo sem tê-Lo visto ou ouvido sua voz depois de ter saído das cadeias da morte você acredita que Ele está vivo no meio de nós? “Creio Senhor, mas aumentai a minha fé.”
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.