*Por Leonardo Giusti e Daniela Macario
A base do desenvolvimento econômico e social de um país está diretamente relacionada à capacidade de atrair, direcionar e gerar investimentos em infraestrutura. Entretanto, por aqui, o assunto não tem recebido a devida atenção. O Brasil tem investido no setor menos que 2,5% do Produto Interno Bruto durante as últimas duas décadas, quando seriam necessários, no mínimo, 4% a 5% deste volume.
Este cenário, contudo, vem registrando mudanças positivas diante do aumento de investimentos oriundos pela iniciativa privada — que respondem por quase 80% de todos os recursos do setor, percentual mais alto já alcançado no Brasil. Essa tendência vem se consolidando com a execução de dezenas de projetos de peso em infraestrutura. Vale citar, por exemplo, os novos empreendimentos no setor ferroviário, até então estagnado, que somam quase R$ 25 bilhões: a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que vai interligar os estados de Tocantins, Maranhão, Goiás e Bahia, e a Ferrogrão, que conectará a região produtora de grãos do Centro-Oeste ao estado do Pará. Tais linhas deverão proporcionar eficiência à malha de escoamento logístico brasileiro, garantindo agilidade, acessibilidade e maior competitividade no custo logístico.
Analisando a dinâmica histórica do mercado, e acompanhando os movimentos de desburocratização regulatória, é possível afirmar que os investimentos no setor logístico podem alcançar R$ 40 bilhões neste ano. Isso significa mais atenção para a construção e manutenção de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e mobilidade urbana. Já no setor de saneamento, que vem ganhando destaque e importância após a aprovação do novo marco regulatório, a previsão é que sejam investidos cerca de R$ 15 bilhões por meio das ofertas de privatização.
Além de prover a maioria dos recursos em infraestrutura, a iniciativa privada contribui ainda com a incorporação de conceitos sustentáveis e de práticas ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança). Mais do que nunca, ações de resposta à crise climática despertam enorme atenção dos principais tomadores de decisão. Nesse contexto, o setor de infraestrutura possui um papel fundamental a desempenhar, especialmente, por meio de mecanismos robustos e pela criação de soluções que considerem o uso da matriz energética limpa.
Por fim, como em demais setores da indústria brasileira, ainda há muito a avançar tanto na aderência de novas tecnologias quanto na conjuntura estrutural das organizações. A transformação digital deve se fazer presente também entre as equipes e os processos, principalmente, no setor de infraestrutura, em que se encontra justamente a maior lacuna de produtividade — em comparação com áreas como a indústria e a manufatura. Já que o conceito 4.0 é imprescindível, torna-se fundamental que os gestores das empresas busquem gerar valor através de sistemas conectados e do uso inteligente de dados, além da capacitação de funcionários, para manter-se competitivas no mercado.
*Leonardo Giusti é sócio-líder de infraestrutura, governo e saúde da KPMG e Daniela Macario é gerente do segmento de infraestrutura da KPMG no Brasil