No reino da bicharada, por uma bobeada do leão, o rato passou mandar.
Claro que como rato, o novo rei se acercou de uma leva de outras espécies de animais como o fim de minar não só a resistência do leão, mas também a de seus simpáticos.
Por isso se aliou ao jacaré com dentes de serrote.
Esse, no mais das vezes, era assistido pelo seu mais leal subordinado, o sapo cururu, gordo e balofo, que repetia todos os sim e os não da sua fala. Não lhes modificava uma só vírgula e era sempre o primeiro a se manifestar quanto aos mandos e desmandos do jacaré.
Aliás, o sapo amava de paixão o rato, mas esse assunto só era ventilado às escondidas.
Na ponta oposta da mesa, sentava-se a garça que, de tão velha e com as penas descoradas, apresentava-se figura de grave aparência, apesar do esforço e cuidados no seu trajar e no seu postar. De fala mansa, quase ininteligível, copiava as palavras do jacaré, de modo que entre os três, como se houvesse um pacto mudo, banalizado apenas pelo gestual, compunham a maioria dos votos necessários das decisões do jacaré.
Dos demais, ressaltava-se a fuinha com seu bigode branco e sotaque sulista que, mostrando-se erudito, proferia palavras diferentes e verbalização enfadonha, mantendo as ordens e conceitos emanados pelo jacaré de modo que, ao que se via, a fuinha nunca teve ideia própria.
Era maria-vai-com-as-outras.
Por último e do lado direito da mesa, o camundongo lustrado, o mais novo da corte. De tão vaidoso, usava banha de porco nos pelos com o fim de assentá-los e assim, brilhante na sua vaidade, servia de leva-e-traz do rato, o ex-patrão que, com sua força política, o colocara naquela mesa.
O jacaré, em conjunto com o sapo, a garça, a fuinha e o camundongo, portanto, administrava a justiça no reino do rato. O resultado?
Nem me perguntem: o que se esperar de um rato que tem por assistentes de seus desejos um jacaré, um sapo, uma garça, uma fuinha e um camundongo lustroso?
Talvez Esopo, o maior dos fabulistas e que viveu no século VII a.C., explicaria que fábula como a narrativa com personagens animais, ilustra um preceito moral. E diria que, quando a autoridade legítima vacila, abre espaço para outras criaturas sustentarem estruturas de poder ainda piores — e o reino inteiro paga o preço.








