Aleksa Marques / Da Redação
Você não entendeu errado. É isso mesmo. Gisele Santos, de 40 anos, tem a mesma quantidade de apóstolos que Jesus teve, a mesma somatória de meses do ano, o total de signos do zodíaco, uma dúzia, doze. Doze filhos muito bem criados e orgulhosos da mãe que tem.
A primeira reação que tive ao saber da família numerosa de Gisele e quantos anos ela tinha, foi de espanto. Encontrar avós e mães mais velhas que tenham tido mais de 10 filhos é muito normal, uma vez que eles ajudam nos trabalhos de casa ou na roça. Mas para os dias atuais, é bem incomum se deparar com famílias tão grande assim, certo?
Em poucos segundos minha mente me levou a uma situação caótica: imagina só o desafio de gerar e criar, levar à escola, comprar fraldas, roupas, tarefa, quantos litros de leite, aniversários… e a pilha de louças? Por um momento eu confesso ter me assustado, não consegui me imaginar em meio ao caos criado. Mas, por ironia da vida, após 10 minutos de conversa com essa mãe simpática e com um falar tranquilo, a rotina dessa família soava para mim como uma sinfonia muito harmoniosa de Beethoven. Já explico o porquê.
Gisele se casou aos 26 com Antônio dos Santos, antes de ele completar 30 anos. Ela é de uma família de 5 irmãos e, ele, de 9. Aos 27 anos ela ficou grávida do primeiro filho, Davi, que hoje tem 13 anos. Depois vieram os próximos, como uma cascata. Maria Isabel tem 11 anos, Ana Rita com 10, Ester de 9 anos, Miguel tem 8, Mariana demorou um pouco mais para nascer, tem 6, o Bento tem 5, Carmen com 3 anos, Francisco com 2, Ana Catarina tem 1 aninho e os gêmeos, mais novinhos, Joaquim e Benjamim com 10 meses de vida.
Quando perguntei a ela o motivo de tantos filhos ela respondeu: “Por que eu quero e fui enviada para gerar vidas. A maternidade, para mim, foi uma opção. Eu tinha uma vida e depois que engravidei, as coisas se encaixaram como peças de quebra-cabeça”, diz ela sorridente e com os olhos marejados.
Com uma família tão numerosa e precisando manter a harmonia nos afazeres domésticos, ela comenta que aprendeu a concentrar sua atenção naquilo que era realmente útil, como por exemplo, ter shorts sem botão e com cintura de elástico para que as crianças pudessem ir sozinhas ao banheiro. “Praticidade tem que ser a palavra lá em casa, senão nada acontece”, brinca.
Gisele se sente realizada quando o dia é produtivo e diz não ficar cansada com as atividades intensas. Para ela, quanto mais turbulento e atarefado, mais recompensador. Além de cuidar dela, do marido e dos 12 filhos, essa mulher ainda arruma tempo para dar dicas em suas redes sociais e influenciar outras mães. Ela faz diversas entrevistas sobre os mais variados assuntos em seu Instagram como feminilidade, fala de sua rotina como mulher, educação dos pequenos e entre eles, sobre métodos contraceptivos. “Quando a gente se casa na igreja, nós assumimos um compromisso real e a Bíblia diz que devemos ter os nossos filhos sem interromper o ciclo natural da vida. E é o que fazemos, não evitamos de nenhuma forma e vou continuar tendo filhos até quando Ele permitir”, afirmou Gisele. “As pessoas se assustam, mas não é o que parece. Não foi um furacão que passou todo ano em casa, parece que eu dormi e acordei com os 12 filhos”, brincou.
Rotina
O dia começa às 6h. Ela e o marido acordam, se arrumam, preparam um café preto e começam a chamar alguns dos filhos. Os mais velhos vêm primeiro, se trocam, comem alguma coisa e o marido os leva para a escola. “O café é simples, sempre tem um saco de pão, margarina e um leite com achocolatado”, fala.
Pouco depois, às 8h, ela começa a chamar os menores. Troca fraldas, escova os dentes, leva as meninas para pentear os cabelos e mudar de roupa. Enquanto eles brincam, a mãe faz os serviços de casa. Recolhe a roupa do varal, dobra as que estão secas, tira as peças batidas da máquina e estende as que já estão prontas. “Roupa eu tenho que lavar todos os dias, se acumular eu danço”, comentou.
“Pense em tudo o que você precisa fazer nos afazeres domésticos, agora eleve à décima quarta potência. Tudo na minha casa é multiplicado por 14, porque ainda temos eu e meu marido: roupas, louça, panelas, sapatos no chão.. se não tiver cooperação e organização, a casa não flui”, afirma Gisele.
Perto das 11h, ela já começa os preparativos para o almoço. “Em casa não tem frescura, faço sempre o básico do brasileiro que é o arroz com feijão e uma mistura”. Quis saber sobre a quantidade de comida que eles gastam mensalmente em casa, ela disse comprar de 3 a 4 pacotes de 5kg de arroz, ou seja, de 15 a 20kg do alimento por mês. “Se for pensar na quantidade de pessoas, não é muito, né?!”, disse ela orgulhosa. Ela ainda lembra que não gastam uma quantidade tão maior de comida pois as crianças ainda comem pouco.
Depois do almoço, com todos os pratos, copos, talheres e panelas na pia, os mais velhos ajudam a retirar a mesa,a mãe lava a louça, enquanto o pai leva os outros para a escolinha. À tarde, a rotina se repete só que agora com os outros filhos, os que foram para a escola de manhã.
Seguindo o dia, perto da hora da janta, a mãe diz que começa a aprontar a comida para a família, e começa tudo outra vez. “Tenho o maior orgulho de servir os meus filhos como uma mãe amorosa e vejo isso no olhar deles, da forma que me dão carinho, isso vale todo o esforço”, completa. O marido chega do trabalho após as 18h, ele é servidor público e tem uma van que usa para transporte de alunos e também da própria família.
Todos alimentados, é hora de descansar na sala enquanto não dá a hora de dormir. “Perto das 22h a gente já começa a se recolher, cada um tem seu horário de ir para a cama. Enquanto eu e meu esposo estamos acordados, tem filho rodeando a gente”, brinca. E, finalmente, perto das onze da noite, as luzes da casa se apagam e todos adormecem. É hora de recarregar as energias para vivenciar a rotina outra vez. E tudo isso no lar onde moram, uma casa de 47m² cheia de amor, que foi reformada recentemente e está maior para abrigar melhor os filhos.
Mas as tarefas do dia a dia ficam mais fáceis à medida que os pequenos vão crescendo. “No primeiro momento parece assustador para quem não está acostumado, mas depois vai ficando mais fácil, porque um ajuda o outro e eu não preciso dar tanta atenção a tudo,” salienta. “O maior ajuda os menores, a mais velha auxilia nas tarefas da escola, os que já sabem ler ajudam os que não sabem. Assim tudo vai acontecendo de forma tranquila e organizada”, completa a mãe.
Gisele fala que um dos segredos para manter tudo em ordem é a distribuição das tarefas, extremamente necessária, e a boa criação dos mais velhos. “Cada um sabe o que precisa fazer, eu não preciso ficar delegando todo dia, isso facilita muito”. Além disso, ela comenta que uma boa educação e preparo dos primeiros filhos, ajuda no crescimento dos outros, pois servem de espelho para os que estão aprendendo.
Despesas da família
E para quem pensa que a família gasta muito, se engana. Gisele disse que mesmo com todos os eletrodomésticos ligados como máquina de lavar, microondas, televisão e geladeira, ela consegue controlar bastante os gastos por ficar em casa com os filhos. “Para você ter uma ideia, pagamos, em média, R$400 na conta de luz e mais R$400 de água. E o restante do salário, que não é destinado para as contas, vai todo para comida.”
E quanto às roupas? Parece custar uma fortuna ter sempre roupas novas para os filhos de diferentes idades. Mas a mãe faz um rodízio muito valioso para que todas as peças sejam usadas por todos da melhor forma possível. O vestido da mais velha fica para a mais nova, as roupas dos maiores vão sendo passadas para os menores e o ciclo se renova. “Muitas pessoas nos presenteiam com roupas que não vão mais usar, e como eu tenho filhos de todos os tamanhos, para mim tudo é sempre muito bem-vindo”, diz Gisele.
Dia das Mães
“Todo ano o Dia das Mães é uma festa. Meus filhos sempre dão um jeito de preparar algo especial para mim. Tem uma lembrancinha da escola, um presente do marido, é uma semana cheia de surpresas e eu adoro. Nos divertimos muito juntos,” fala com um sorriso largo em seu rosto. “A maternidade é um grande serviço que me melhora, que me traz satisfação. Me olho no espelho, sei que tenho muitas falhas, mas estou fazendo o que posso e fico feliz com o resultado.”
Ela ainda lembra da importância de seu marido para a criação dos pequenos. “Minha maternidade nunca seria possível sem a paternidade do meu marido. É uma parceria e eu fico muito tranquila estando ao lado dele. O Antônio é muito paciente, ele me acalma e me ajuda muito com as crianças. Somos cúmplices nessa empreitada”. Gisele ainda lembra que não precisa de presentes caros ou almoços luxuosos para comemorar o Dia das Mães, que sua maior conquista é ter saúde, estar perto da família linda que ela tanto ama e que tanto retribui o amor por ela.