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James McSill é especialista mundial em narrativa e autor de “Storytelling & Inteligência Artificial”, lançamento da DVS Editora
James McSill é especialista mundial em narrativa e autor de “Storytelling & Inteligência Artificial”, lançamento da DVS Editora

ARTIGO

Comunicar ainda é um ato humano

*James McSill

Vivemos um momento paradoxal na história da humanidade. Nunca foi tão fácil produzir conteúdo, e nunca foi tão difícil produzir sentido. Em meio a automações sofisticadas, textos gerados por algoritmos e narrativas otimizadas para engajamento, surge uma pergunta incômoda: o que acontece quando delegamos às máquinas não apenas a forma, mas a intenção do que comunicamos?

O maior risco do uso da inteligência artificial não está na substituição do humano, mas no esvaziamento do significado. Quando permitimos que sistemas automatizados decidam o que deve emocionar, convencer ou mobilizar, abdicamos da responsabilidade sobre o porquê da mensagem.

Sem intenção consciente, toda comunicação corre o risco de se tornar apenas uma engenharia de estímulos eficiente, mas vazia. E onde não há intenção, há manipulação, ainda que disfarçada de inovação.

Nesse contexto, o papel de quem trabalha com comunicação se torna mais complexo e mais urgente. Não basta dominar ferramentas ou acompanhar tendências tecnológicas. É preciso assumir uma ética de design: criar e utilizar tecnologias que ampliem a consciência humana, não que a anestesiem.

Um sistema de voz, um algoritmo narrativo ou qualquer tecnologia verdadeiramente útil precisa integrar diferentes campos do saber, da engenharia à psicologia, da linguagem à filosofia.

Ainda assim, há um elemento insubstituível: o humano ético. Sem essa consciência, todo avanço técnico pode se transformar em um instrumento de persuasão cega.

A responsabilidade é dupla. Primeiro, com o público, que confia naquilo que é comunicado e molda suas percepções a partir disso. Depois, com a própria humanidade, que é silenciosamente esculpida pelas escolhas tecnológicas que fazemos hoje.

A inteligência artificial não é neutra: ela reflete valores, intenções e até as sombras de quem a concebe. Cada linha de código carrega, inevitavelmente, uma visão de mundo.

Para quem teme “perder a própria voz” nesse cenário, a resposta pode parecer contraintuitiva: o primeiro passo é o silêncio. Antes de produzir mais, é preciso escutar a si mesmo, ao outro, ao que ainda não foi dito.

A IA pode replicar estilos, padrões e tons, mas não cria intenção. E a intenção é o núcleo da voz. Quem reencontra a própria intenção reencontra a capacidade de transformar ruído em mensagem.

A inteligência artificial pode ser comparada a uma orquestra poderosa: ela amplia, harmoniza, improvisa. Mas a melodia original precisa nascer da experiência humana.

Criar, escrever e comunicar continuam sendo atos profundamente humanos, quase espirituais, encontros entre consciência e linguagem. Enquanto esse encontro existir, nenhuma máquina poderá substituir o que nos move: o desejo genuíno de ser compreendido.

Talvez, no fim, a questão central não seja o quanto a IA pode fazer por nós, mas o quanto estamos dispostos a assumir a autoria ética, emocional e simbólica daquilo que colocamos no mundo. A tecnologia pode amplificar vozes, mas apenas o humano pode decidir o que merece ser dito.

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