RENATO MACHADO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os representantes brasileiros das redes de fast food McDonald’s e Burger King enviaram ao Senado Federal cartas na qual rebatem a acusação de propaganda enganosa com os seus sanduíches (respectivamente, o McPicanha e o Whopper Costela). As empresas afirmam que sempre deixaram claro para os consumidores qual era a composição das carnes usadas.
O McDonald’s foi além e afirmou que os brasileiros estão acostumados a consumir e comprar produtos cujos nomes não remetem necessariamente à sua composição.
“O consumidor brasileiro está acostumado a adquirir produtos que sejam identificados por nomes que remetam ao sabor, ao aroma e à experiência que oferecem, e não necessariamente à sua composição”, afirma trecho da carta, obtida pela reportagem.
A empresa afirma ainda que o uso de um molho com esse sabor específico de picanha adicionava mais sabor ao sanduíche do que o uso da carne propriamente. Ainda acrescenta que, ao moer a carne de picanha para produzir o hambúrguer, a mesma perde a maior parte de suas propriedades, não transferindo ao hambúrguer o seu sabor característico.
Representantes das duas redes de fast food foram convidados a participar de audiência no Senado Federal nesta quinta-feira (12) para explicarem os casos. Tanto os responsáveis pelo McDonald’s no Brasil como pelo Burger King, no entanto, avisaram as parlamentares que não iriam comparecer e resolveram enviar cartas com as suas justificativas.
A audiência segue marcada, a princípio, com a possível participação de representantes do Procon do Distrito Federal, da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
No fim de abril, o Ministério da Justiça notificou o McDonald’s após a rede confirmar publicamente que os lanches de sua recém-lançada linha de McPicanha não são feitos com picanha. O sanduíche, na verdade, é feito com um molho aromatizado.
Consumidores apresentaram reclamações em série nas redes sociais, a ponto de a rede chegar a retirar o sanduíche do cardápio em todo o país. Dias depois, no entanto, anunciou que ele seria reincorporado, mas com um novo nome. Em vídeo em sua página no Instagram, o gigante do fast food disse que “vacilou” ao escolher o nome do sanduíche.
Dias depois, foi a vez do Burger King se ver envolvido em polêmica semelhante.
Na segunda-feira (2), o Procon do Distrito Federal suspendeu a venda na capital federal do lanche Whopper Costela, que não contém costela. O Burger King afirma que o hambúrguer é feito com paleta suína e tem “aroma natural de costela”.
Na carta enviada ao Senado, a Arcos Dourados Comércio de Alimentos, dona do McDonald’s no Brasil, reforça que suspendeu a venda dos sanduíches da série “Novos McPicanha” tão logo verificou a polêmica. Disse que agiu com “boa-fé e transparência” tanto no desenvolvimento dos produtos quando na veiculação das campanhas de publicidade.
“Os sanduíches dessa nova linha foram desenvolvidos para conter, além do hambúrguer de carne 100% bovina, produzido com cortes selecionados, com o maior tamanho oferecido pela empresa, um exclusivo molho, sabor picanha (com aroma natural de picanha desenvolvido pela Kerry do Brasil) para trazer aos consumidores uma experiência ainda mais intensa do sabor da picanha brasileira”, afirma.
A representante do McDonald’s acrescenta que as explicações de que se tratava de um hambúrguer bovino com molho sabor picanha estavam em todas as peças publicitárias e mesmo na embalagem do sanduíche.
E por fim conclui que os consumidores brasileiros estão acostumados com esse tipo de prática.
“Há décadas são comercializados no Brasil produtos que levam no nome o sabor ou o aroma que ostentam, mas que não necessariamente contêm a matéria-prima que origina esse sabor, em sua composição. Cumpre destacar ainda que, especialmente a menção a sabores, é uma prática absolutamente comum, com a qual os consumidores estão amplamente habituados”
A BK Brasil, máster franqueada no Brasil da marca Burger King, também ressaltou que a composição do sanduíche Whopper Costela sempre foi de conhecimento dos consumidores e das autoridades brasileiras. Citou que o lanche foi registrado no “Ministério do Meio Ambiente, Agricultura e Pecuária” –na verdade seriam duas pastas, o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Estaria informado para as autoridades, portanto, que o hambúrguer é composto de 95% de carne suína e o restante são ingredientes de tempero.
“Esclarece-se que o hambúrguer do Whopper Costela por carne suína com aroma –e sabor– de costela de porco. Essa informação durante todo o tempo de comercialização foi clara e disponível ao consumidor: o sabor era de costela, não o corte da carne de costela”, afirma trecho da carta enviada ao Senado.
A empresa ainda afirma que vários produtos do setor alimentício qualificam seus sabores sem conter a matéria-prima correspondente. Cita como exemplo sorvete de sabor morango que não contém a fruta.
A BK Brasil ainda afirma que a repercussão foi “anormal” e “injustificada” e que provocou um “frenesi” na busca por alguns consumidores a nomes de produtos ou alegações de propaganda que não condiziam com os ingredientes in natura.
A empresa também acrescenta que trocou o nome do sanduíche para Whopper Paleta Suína em nome da transparência e por sua política de manter um diálogo perene com os seus consumidores.
“Por isso, longe de caracterizar confissão de culpa ou assunção de responsabilidade, BK Brasil tomou essa decisão em respeito ao consumidor”, afirma o texto da carta.
Autor do requerimento para a realização da audiência, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) ressalta que as justificativas apresentadas pelas empresas não correspondem totalmente aos fatos, considerando que as observações sobre a composição dos hambúrgueres estavam em tamanho pequeno.
“Não podemos tratar o caso como um mero equívoco na campanha de divulgação. Em um dos casos, o sanduíche tem o nome de um corte de carne, é divulgado em uma imagem em que o lanche aparece ao lado do mesmo corte e apenas nas letras miúdas, muito miúdas, por sinal, é esclarecido que se trata de ‘aroma de costela”, afirmou à reportagem.
“No outro caso, também em letras pequenas de um banner, está escrito que a campanha é válida para maiores de 12 anos. Qual o problema para o consumo abaixo dessa faixa etária? Respeitar o direito de todos à saúde e à informação precisa e detalhada sobre os produtos é um princípio que deve balizar todas as ações de quem se propõe a atuar no mercado. É importante que esse caso seja tratado com a máxima seriedade e que sirva de exemplo. O consumidor brasileiro é exigente e está atento”, completa.
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