NATALIE VANZ BETTONI
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS)
“Olá, você foi selecionado para um trabalho de meio período online, com salário diário de R$ 500 – R$ 1000. Entre em contato comigo pelo link…” Se você recebeu uma mensagem similar a esta, prometendo empregos remotos com alta remuneração diária, tome cuidado: provavelmente é uma tentativa de golpe.
Há casos em que o esquema é relativamente simples. O golpista entra em contato anunciando a seleção para uma vaga, mas pede um pagamento, supostamente para a realização de um exame admissional ou de um curso necessário ao trabalho. Em versões mais complexas, o golpe pode envolver esquemas de pirâmide, manipulação de avaliações em plataformas digitais, fraude e roubo de dinheiro e de dados.
Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky no Brasil, explica que tudo começa com uma mensagem: “Eles estão usando todas as plataformas possíveis. Começou muito forte no WhatsApp e por SMS, hoje a gente já tem visto usando contas no iCloud, para proprietários de iPhone, e até no Telegram.”
As mensagens normalmente contam com um número de telefone ou link para iniciar uma conversa, em que o usuário recebe um endereço para cadastro em uma plataforma. “A maioria destes cadastros tem um código passado para a pessoa, que é o código do afiliado, para identificar quem é o recrutador e para que ele receba uma parte”, relata Assolini. O analista explica que quem recruta pessoas para a plataforma ganha um valor, aumentando o alcance do golpe.
Após o cadastro, é solicitado ao usuário que faça uma transferência inicial via PIX. “É um valor baixo, pode ser de R$ 20, para uma conta física que você não sabe de quem é. E eles fazem a promessa de que ao fazer este aporte você receberá de volta este valor e mais uma comissão, só por ter se cadastrado.”
Esta etapa serve para ganhar a confiança do usuário: “Eles realmente cumprem com esse combinado. Você recebe o primeiro aporte e a comissão, que pode até dobrar o valor enviado”, afirma Assolini.
Cadastrado, o usuário passa a receber tarefas diárias. “Dentro dessa plataforma, eles pedem para que você simule a compra de um produto e o classifique com cinco estrelas, para receber o dinheiro aportado e mais um valor de volta.”
Assolini diz que o esquema usa a gamificação, ou seja, estratégias de jogos para motivar o envolvimento e participação do usuário. Mas, conforme as tarefas são executadas, são solicitados aportes maiores e tarefas mais difíceis, para que os golpistas ganhem tempo e aumentem o número de recrutados. Em determinado ponto, quando a plataforma já recebeu muitos cadastros, as plataformas são encerradas e as pessoas perdem o dinheiro aportado.
Além do dinheiro não devolvido, que fica com os criminosos quando encerram a plataforma, há ganhos com a manipulação de avaliações de produtos, tarefas realizadas pelos usuários como condição para o pagamento. “Quando você simula a compra, dá estrelas, na verdade, você está manipulando reputações em lojas online”, explica Assolini.
“Isso faz com que você crie um número inflado e irreal de vendas, especialmente em marketplaces, e se uma loja tem um número muito alto de avaliações cinco estrelas ou de vendas, a probabilidade do algoritmo colocar o produto em primeiro lugar nas buscas reais é maior.
COMO RECONHECER O GOLPE?
Assolini recomenda desconfiar de ofertas muito generosas, enviadas por desconhecidos. Mesmo se a mensagem incluir o nome de uma empresa conhecida, entre em contato pelos canais oficiais para confirmar a oferta. Maria Sartori, diretora associada da empresa de consultoria em recursos humanos Robert Half, indica acessar o LinkedIn da organização e verificar se você tem conexões em comum com a empresa, com quem você pode falar para obter referências.
Ela ressalta que exames admissionais são necessariamente pagos pela empresa que está contratando. Além disso, é muito raro ser necessária a realização de um curso profissionalizante por conta do profissional durante a seleção. “Nenhum candidato nunca deveria desembolsar nenhum tipo de dinheiro para participar de um processo seletivo”, diz.
O delegado Laércio Ceneviva Filho, da Deic (Divisão de Crimes Cibernéticos do Departamento Estadual de Investigações Criminais), da Polícia Civil de São Paulo, complementa: “Na dúvida, procure a própria empresa e cheque qual o destinatário do pagamento solicitado. Se não for no nome da empresa, jamais faça qualquer tipo de pagamento.”
Caí. E agora?
“Se a pessoa caiu no golpe, a gente recomenda que ela imediatamente procure registrar os fatos em uma delegacia de polícia ou pela delegacia eletrônica, no site da Polícia Civil. Se houver suspeita de envolver uma organização criminosa, que procure a Divisão de Crimes Cibernéticos do Deic”, orienta o delegado. “Nós da Polícia Civil e do Deic temos condição, uma vez registradas as ocorrências, de fazer o rastreamento dessas informações e tentar chegar no autor dos fatos.”
Assolini diz que é importante que a vítima contate o banco e peça o ressarcimento o mais rápido possível. “Os golpistas são imediatistas, então quando recebem o valor, não o deixam na conta por muito tempo.” Também sugere ficar atento a contatos futuros que possam ser feitos utilizando os dados da vítima.
O WhatsApp recomenda que as pessoas reportem condutas inapropriadas diretamente nas conversas, por meio da opção “denunciar” disponível no menu do aplicativo (menu > mais > denunciar). Os usuários também podem enviar denúncias para o email support@whatsapp.com, detalhando o ocorrido com o máximo de informações possível e anexando uma captura de tela.