*Flávia Spadafora
A velocidade das transformações em todos os setores aumentou de forma considerável, nos últimos anos, devido à rápida incorporação de tecnologias digitais pelas empresas e à qualificação dos profissionais que contribuíram para o aumento da produtividade, qualidade e resultados obtidos.
Na indústria automotiva, essa transformação não tem sido diferente. Ao contrário, tem ocorrido de maneira acelerada, provocando mudanças significativas e em alguns casos disruptivas.
Abordaremos aqui os aspectos tecnológicos envolvidos no processo fabril, no que convencionamos de indústria 4.0, também conhecida como Manufatura Inteligente. Independente da forma como a chamamos, ela basicamente converge o mundo físico ao digital. Na essência, trata-se da forma como os dados ou a correlação deles impacta a eficiência da produção ou, indo mais longe, impacta a formulação de novos modelos de negócios.
Os pilares tecnológicos quando aplicados na produção dos carros, caminhões, ônibus, peças habilitam a indústria 4.0, saindo do isolamento das atividades dos sistemas MES (da sigla em inglês para Sistemas de Execução de Manufatura) que gerenciam todas a fábricas e que por si só já tem a missão de conectar a produção (máquinas, conectores, sensores) a tudo o que acontece no chão de fábrica com o planejamento de produção e com os sistemas ERP (sigla em inglês para Sistema Integrado de Gestão Empresarial).
E quais são esses pilares? Internet das Coisas (IoT), análise de dados (Big Data), robótica; impressão 3D; computação em nuvem; segurança cibernética, simulação digital (digital twins); realidade aumentada e toda a integração (horizontal e vertical) de sistemas. Muitas destas tecnologias certamente já estão incorporadas ao dia a dia das pessoas ou, seguramente, vocês já ouviram falar.
Permeando todos os pilares e com igual importância, a conectividade tem sido um fator chave para que tudo isso funcione no chão de fábrica, de forma praticamente digital e precisa (no meu artigo anterior, comentei sobre a chegada e impacto do 5G nos veículos autônomos), mas podemos e devemos extrapolar para dentro das fábricas, em redes privadas ou não, a relevância da conectividade.
Na prática, o que a gente observa acontecendo nas linhas de produção são tecnologias em torno de sistemas MES e ERP, eliminação do papel como forma de apontamentos, indo para digitalização (aumento de produtividade e redução de erros), conexão das máquinas e sensores para extrair os dados e levá-los para os sistemas de tomada de decisão.
Em processos que envolvem maior complexidade, como em algumas linhas de autopeças, o uso da tecnologia e robotização está em um nível menor de maturidade.
Um grande paradoxo que surge é o que fazer com os dados levantados por conta de toda essa automatização descrita acima. Isso leva à necessidade do entendimento do dado e o que fazer com este, ou seja, na transformação em informação. E, indo além, na medida em que é gerado um volume significativo de dados, a criação e uso de algoritmos para aprendizado, ou seja, ações executáveis, vão resolver os problemas do chão de fábrica.
A KPMG publicou, recentemente, o estudo “Indústria 4.0 no Brasil” do mercado brasileiro. Considerando as empresas entrevistadas que se encontram em estágio mais avançados de maturidade tecnológica e levando em conta os projetos que temos trabalhado, foram observadas na indústria de manufatura e no segmento automotivo pelo menos cinco tendências tecnológicas que devem impactar de forma positiva nos próximos anos, a seguir:
1) Crescimento de projetos de inteligência artificial com melhores resultados econômicos, ou seja, casos de uso mais assertivos e que impactam os resultados das empresas.
2) Digitalização mais intensa dos processos com a ampliação significativa de sensores nos equipamentos e objetos (internet das coisas) e dados armazenados e processados diretamente na nuvem;
3) Aumento do número de projetos de simulação digital (digital twins), mesmo com alcance ainda parcial e permeando fabricante de carros, caminhões, ônibus e autopeças;
4) Fábricas integradas e inteligentes com processos logísticos mais eficientes e máquinas com aprendizado de máquinas (machine learning) para ajuste eficaz e automático às condições ambientais, à qualidade dos insumos e aos tipos de produtos produzidos;
5) Avanço da tecnologia 5G que possibilitará novas aplicações, especialmente, aquelas relacionadas à visibilidade em tempo real.
*Flávia Spadafora é sócia líder do setor automotivo da KPMG Brasil