Em algumas semanas, Boris Johnson será levado de carro até o Palácio de Buckingham para entregar à rainha Elizabeth 2ª sua carta oficial de renúncia ao governo do Reino Unido. Depois, seguindo o rito, ela chamará à sua residência o novo premiê britânico –previamente escolhido pelo Partido Conservador, atualmente no poder– e vai apontá-lo como o novo líder.
Esta será a 15ª vez que Elizabeth, no trono desde 1952, vai dar a bênção a um novo chefe de governo. A mais longeva rainha do Reino Unido conviveu com líderes já nos livros de história, como os conservadores Winston Churchill –premiê durante a Segunda Guerra e autor da expressão “cortina de ferro”– e Margaret Thatcher, primeira mulher a ocupar o cargo, responsável por diminuir o papel do Estado enquanto aumentava os mecanismos de mercado na Inglaterra.
Em seus 70 anos de reinado, Elizabeth acompanhou dez mandatos de líderes conservadores e quatro de trabalhistas, até agora. Isto não significa que ela tenha interferido nos governos, pois a rainha deve se manter politicamente neutra e agir de acordo com a vontade do partido no poder, como se ficasse algo protegida das turbulências políticas, embora ciente do que se passa.
Contudo, Elizabeth “tem uma relação especial com o primeiro-ministro”, informa o site da monarquia britânica. Primeiro porque o líder é nomeado oficialmente por ela, e segundo porque ela se encontra regularmente com o chefe de governo. Nas ligações semanais e nas reuniões cara a cara esporádicas com Boris, Elizabeth era consultada sobre os assuntos do dia e lhe dava conselhos.
Quando um novo governo vai de fato começar, a rainha também é responsável por inaugurar o ano do Parlamento, lendo um discurso previamente escrito pelo governo para ela, sentada em um trono na Câmara dos Lordes, a sala com os interiores mais grandiosos de Westminster. Elizabeth só não cumpriu a tradição, estabelecida no final do século 14, em três momentos –1959 e 1963, quando estava grávida, e neste ano, ocasião na qual foi representada pelo príncipe Charles e pelo neto William.
Afora seu papel, nas suas sete décadas de reinado Elizabeth viu morrer a maioria dos primeiros-ministros com os quais conviveu e se encaminha agora, aos 96 anos, para o sétimo líder vivo a quem dará ouvidos. Antes de fazer seu discurso de renúncia nesta quinta (7), Boris avisou a rainha, como cortesia, e segundo relatos ela foi informada por ele do desenrolar das crises nos últimos dias, quando mais de 50 parlamentares do governo conservador se demitiram.
Quem também sobrevive à porta giratória de governantes é o gato Larry, morador do número 10 de Downing Street. Desde 2011, quando se mudou para a sede do governo britânico e residência oficial do líder, o felino já ronronou para dois primeiros-ministros e uma primeira-ministra, todos conservadores –David Cameron, Theresa May e Boris Johnson.
Larry, de 15 anos, foi resgatado de um abrigo em Londres por suas habilidades com ratos, o que lhe rendeu o título oficial de “chief mouser”, algo como caçador de ratos chefe, segundo o site do governo britânico. Como todo gato, Larry é independente, ou seja, ele permanece na casa mesmo com a troca de governo –seus donos são os funcionários de Downing Street, não os premiês.
Seu papel é mais do que ser a cara da fofura em momentos de histeria política. De acordo com o site do governo, “Larry passa os dias cumprimentando os hóspedes da casa, inspecionando as defesas de segurança e testando as qualidades de cochilo de móveis antigos.”
FolhaPress