Em 5 de dezembro de 2013, participei da revisão preliminar da missão espacial conjunta entre Brasil e Argentina, o satélite Sabia-Mar – Satélite Argentino-Brasileiro de Informação Ambiental do Mar. Nessa época, a cooperação já apresentava problemas, não pela Argentina que sofre crise econômica muito maior que a nossa há décadas, mas entende bem a prioridade espacial.
Em 8 de junho último, na Argentina, durante as comemorações do Dia Mundial dos Oceanos, data destinada a aumentar a conscientização sobre o impacto da atividade humana no mar e a necessidade de cuidar desse recurso vital para o nosso planeta, a CONAE – Comisión Nacional de Actividades Espaciales, destacou a contribuição dos satélites para a gestão do meio ambiente e a nova missão espacial SABIA-Mar que contribuirá para o estudo do mar e das costas da Argentina e da América do Sul. Informou que este satélite está atualmente em fase de construção e seu lançamento está previsto para 2024…
Pois é, este satélite teria o custo dividido entre o Brasil e a Argentina, com o desinteresse brasileiro, os argentinos assumiram todos os custos, até mantiveram a sigla, mas mudaram o nome, agora é Satélite de Aplicaciones Basadas en la Información Ambiental del Mar.
A Argentina criou a Comissão Nacional de Pesquisas Espaciais (CNIE) em 1960, sob a administração da Força Aérea, substituída pela civil CONAE em 28 de maio de 1991. Neste mesmo ano firmou um acordo com a NASA. Tiveram que abandonar o desenvolvimento de foguete. O Brasil não fez o acordo, então entramos na lista negra dos Estados Unidos da América, no famigerado ITAR, International Traffic in Arms Regulations.
Enquanto o “Department of Defense” boicotava a venda de componentes e serviços para o INPE por conta de um foguete condenado ao fracasso pela falta de verbas (VLS), os argentinos aprendiam na NASA durante o desenvolvimento dos Satélites de Aplicações Científicas (SAC).
Em 4 de novembro de 1996, foi lançado o primeiro satélite argentino, o SAC-B, para estudar a física solar e astrofísica, pelo foguete Pegasus, o mesmo utilizado pelo Brasil para lançar os dois SCD. Infelizmente o foguete falhou.
Então, vieram os bem sucedidos SAC-A em 1998, SAC-C em 2000, SAC- D em 2011, ARSAT-1 (geoestacionário de telecomunicações) em 2014 e SAOCOM-1A (radar de banda L, não esses que os militares brasileiros compraram e que não nos interessa) em 2018. Estes três últimos, tive oportunidade de acompanhar in loco o desenvolvimento, em 2009 e 2010, quando estive na INVAP acompanhando o desenvolvimento do sistema de controle de atitude (apontamento) e órbita do Amazonia-1. Depois, em 2015, lançaram ARSAT-2, e o SAOCOM-1B em 2020.
Ah! Claro! Em 1998, a Argentina criou a estatal de capital aberto VENG para desenvolver foguetes, os chamados Tronador. Já estão trabalhando no Tronador III que tem dois estágios, 28 metros de altura, 90 toneladas, diâmetro de 2,5 m e lançará 750 kg de carga útil em uma órbita de 600 km.
Enquanto isso, nossos políticos camuflam 19 bilhões de reais em um escandaloso orçamento secreto. Essa é a prioridade tupiniquim.
*Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano