Aleksa Marques / Da Redação
Muitas pessoas ainda tem uma caixa de sapatos empoeirada guardada na parte de cima do roupeiro com fotos antigas. Algumas reveladas, outras ainda no negativo ou então envoltas por um plástico já danificado pelo tempo. Fotos do casamento dos avós, do batizado dos netos ou das férias na praia. Momentos que a memória pode apagar, mas que perpetuam por diversas gerações graças às fotografias.
De vez em quando, a família abre a caixa para relembrar acontecimentos e pessoas que passaram por suas vidas. Aí é história que não acaba mais. Mas você já pensou o que seria disso tudo se não existissem as fotografias?
Elas são muito importantes para o mundo como forma de registro histórico de guerras, eventos marcantes, posses de políticos ou simplesmente aquela festa de aniversário do neto. “Antigamente a gente tirava foto e não sabia se ia sair boa. Tinha que esperar dias para ver o resultado. E essa ansiedade já não existe nos dias de hoje”, disse Júlio Tomita de 67 anos, um dos fotógrafos pioneiros de Paranavaí.
Tempo bom que não volta mais – O cheiro forte de químicos reveladores dominava os laboratórios com a clássica luz vermelha. A sequência certa e o tempo cronometrado davam vida ao negativo tirado do filme de 24 ou 36 poses. Júlio lembra que o trabalho começava pelo olhar do fotógrafo, que precisava entender sobre a regulagem da câmera para sair tudo certo. “Não tinha margem para erro, a pessoa não podia piscar ou se mexer, tinha que entender a temperatura da luz. Hoje as máquinas fazem tudo sozinha”, comentou.
Ele começou a fotografar em 1969 na era analógica. Desde então, registra um pedaço da história da nossa região através de suas lentes, como por exemplo a vez que decidiu o vencedor de uma corrida de cavalos a partir de suas fotos. Júlio conta que montava uma cabine de revelação ali mesmo onde era feita a corrida e levava até 7 minutos para revelar os negativos.
Ele colocava um espelho do outro lado da linha de chegada e utilizava um filme que trabalhava de forma contínua na câmera, como se estivesse registrando um filme. Assim, conseguia ver dos dois lados dos cavalos que chegavam juntos à linha final. “Tinha que ser muito ligeiro na hora de clicar para pegar o exato momento da chegada. Nesse dia, a minha foto decidiu o vencedor e foi por um focinho de cavalo”, lembra.
Mas nem só de eventos empolgantes ele vivia. “Fotografia de pessoas mortas era muito comum na época, pois as famílias moravam longe e às vezes não dava tempo de chegar para o enterro. Aí ligavam pra eu ir registrar o momento. Colocava uma cadeira no pé do caixão, subia e fotografava. Era bem complicado, mas era meu trabalho”, conta.
Júlio também vendia fotos em sua loja. Como por exemplo a da Festa dos Navegantes de Porto Rico que reunia milhares de pessoas para acompanhar as procissões com barcos. “Eu deixava exposta uma foto pequena, que chamávamos de “provinha”. A pessoa passava na vitrine, escolhia uma delas e a gente revelava para colocar no porta-retrato. Era o único jeito de conseguir fotos de eventos na época. Por isso os fotógrafos eram extremamente importantes.”
Casamentos, formaturas, nascimentos, famosos que visitaram a região e jogos de futebol. Todo registro possível foi feito pelas mãos de Júlio que lembra com saudades dessa época. “Hoje as pessoas não dão mais valor para as fotografias. Você consegue tirar um monte de fotos com o celular e já ver ali na hora. Se não ficou legal, apaga e tira outra. Antigamente, se o filme fosse colorido, por exemplo, tinha que mandar até para outras cidades para revelar, demorava semanas para ver o trabalho pronto. Isso não existe mais”, relembra.
A fotografia revelada faz parte da nossa história. Armazenar somente em meios digitais é um risco e, uma vez o arquivo perdido, é um momento de sua vida que se apaga para sempre. O fotógrafo que começou no fim dos anos de 1960 sente que ainda atua nos dias de hoje e lembra com orgulho de tudo o que já fez e dos negativos que deu vida. E neste Dia Mundial da Fotografia (19 de agosto), fica a pergunta: qual foi a última vez que você revelou suas fotos?
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