Paulo César de Oliveira era bancário, fez carreira no Banco do Brasil. Não foi o seu maior talento. Tinha a alma livre (e continua). Preferia a poesia, a música, o teatro e “ganhava a vida” entre papéis e carimbos, na rotina do mercado financeiro.
Mas, a poesia o consagrou e o eterniza como um gigante paranaense, cantador das coisas simples, do passar lento do Rio Paraná e do voo soberano da Gralha Azul.
Fundador do Grupo Gralha Azul de Paranavaí, Paulo César de Oliveira tinha 67 e estava fazendo o que mais gostava quando foi vítima de um acidente. Ele pescava no Rio Paraná e caiu do barco, desaparecendo em 22 de agosto de 2018, um dia cinzento, frio e chuvoso.
Seu corpo foi encontrado dias depois e o sepultamento aconteceu no dia 27 de agosto no Cemitério Central de Paranavaí. Amigos, fãs da sua arte e tantos outros foram se despedir. Nesta segunda-feira, 22, Paranavaí lamenta os quatro anos sem o Paulinho do Gralha.
PAULO CESAR
Cantava a vida e fazia do mundo poesia
Ele transbordava poesia e transformava o mundo em canção. Distribuía sonhos e abraçava as pessoas com a alma. Foi marido, pai, avô, amigo. Foi artista. Paulo Cesar de Oliveira deixou marcas irretocáveis na história de Paranavaí e do Noroeste do Paraná e se tornou protagonista no cenário cultural da região e de todo Estado do Paraná.
Paulinho exaltava a natureza e nela se reinventava. Admirava as belezas e os mistérios dos rios. Tinha especial apreço pelo Rio Paraná, onde estava em 22 de agosto de 2018. Naquela quarta-feira, enquanto contemplava o esplendor da paisagem e dela tomava parte, caiu da embarcação em que estava. Foi encontrado quatro dias depois. Seu corpo, sepultado em 27 de agosto.
(Introdução de matéria publicada há dois anos por Reinaldo Silva, jornalista do DN)
ARTIGO
Saudade da sua calmaria, Paulinho
Adão Ribeiro
Todos o chamavam de Paulinho, alguns mais chegados, de PC. Certo é que Paulo César de Oliveira foi uma figura extraordinária de Paranavaí e levou o nome da cidade para o Paraná e para o Brasil. Sua música e poesia ultrapassaram as fronteiras e estão eternizadas, o que o torna também imortal em alguma medida.
Mas, quem teve a oportunidade da convivência diária com o músico, conheceu um Paulinho que vai muito além da arte. Ele gostava de gente, se dirigia a todos com profundo respeito e entendia o jeito de cada um, ainda que fosse “gente estranha”.
Muito jovem, tive a oportunidade de trabalhar com o Paulinho na Associação Comercial de Paranavaí. Lembro que ele cantarolava enquanto fazia a sua função de gerente. Respondendo pela Assessoria de Imprensa, eu conversava com o “Gralha” diariamente.
Nos arroubos da juventude, eu era tempestade e o Paulinho calmaria. Ele chegava todos os dias com a mesma serenidade. Portanto, nunca se deixava contaminar pelos problemas e pela rotina estressante. Talvez por isso, resolvia as coisas pelo caminho mais simples.
Passados quatro anos daquele 22 de agosto de 2018, a tristeza pela perda se tornou uma saudade pacífica, de quem aceita o destino inevitável dos homens sobre a terra. Mas, ficou outra coisa, um conforto no coração pela lembrança boa que o Paulinho deixou em todos nós.
Para a família, deixo o meu apreço. Votos de que a dor da perda tenha se transformado no único capital que ninguém pode roubar: o legado de um grande cara.
PS: Na despedida do também Gralha Azul Genivaldo (Preto, o baterista), falecido no dia 8 deste mês, encontrei a Pauline, filha do Paulinho. Relembrei um artigo, que gostaria de ter publicado por ocasião da perda do PC há quatro anos e que não o fiz por optar pela discrição. Agora não achei o artigo em meus arquivos. Mas, para em alguma medida manter a palavra, deixo aqui uma frase que me lembro bem: “Paulinho era o retrato da calmaria. Não sei por que, mas, na sua presença, a minha alma se sentia em paz”.
Obrigado.