A Nasa teve de adiar por um problema técnico com um dos motores sua primeira tentativa de lançar a missão Artemis 1, voo-teste inaugural do foguete SLS (Space Launch System) com a cápsula Orion, destinada a levar humanos de volta à Lua. A agência espacial americana agora analisa os próximos passos, contemplando duas datas de reserva: 2 e 5 de setembro.
A janela de oportunidade para o lançamento nesta segunda (29) se abria às 9h33 (de Brasília), com duração de duas horas. A contagem regressiva, porém, começara 48 horas antes, com o veículo estacionado sobre a plataforma 39B do Centro Espacial Kennedy, em Cabo Canaveral, Flórida. Tempestades na tarde de sábado (27) sobre o sítio de lançamento provocaram a queda de raios nas imediações do foguete, captados pelos para-raios circundantes (um na torre 1 e dois na torre 2). Aparentemente foram descargas de baixa magnitude, mas a ocorrência exigiu a checagem nos sistemas de solo e do veículo.
E, antes de iniciar o abastecimento, no início da madrugada desta segunda, o mau tempo levou a uma breve pausa na contagem. A partir dali, a contagem prosseguiu sem sobressaltos até a manhã. Com a retomada e a autorização para o início do preenchimento dos tanques de combustível e oxidante, os técnicos e engenheiros tiveram de lidar com sinais de pequenos vazamentos de hidrogênio (que é combinado a oxigênio nos motores para propeli-lo, gerando água como subproduto da queima), bem como uma dificuldade de condicionar o motor 3 do primeiro estágio do foguete (que precisa ser resfriado antes de ligar).
A análise do aparente vazamento despreocupou a direção de voo, mas o problema com o motor persistiu. Isso atrasou o avanço dos preparativos, com o congelamento não planejado da contagem em T-40 minutos, às 8h53. Quando ficou aparente que as tentativas de induzir o resfriamento não funcionaram, e os engenheiros ficaram sem ideias de como resolver o problema rapidamente, a direção de voo decidiu pelo adiamento.
Não é incomum para veículos espaciais, sobretudo em um voo inaugural, que haja imprevistos de última hora. Não custa lembrar que, no último “ensaio molhado” (em que o foguete é levado à plataforma e abastecido, simulando todas as etapas até o lançamento), a agência espacial americana acabou interrompendo a contagem faltando 29 segundos. De acordo com os técnicos, o problema que impediu o cumprimento da meta -chegar aos 5 segundos finais da contagem do lançamento simulado- foi então identificado e solucionado.
Entrevistado pouco depois do adiamento desta segunda, o administrador da Nasa, Bill Nelson (que foi senador e chegou a voar ao espaço no ônibus espacial Columbia, em 1986), lembrou que a decolagem de sua própria missão à órbita sofreu quatro adiamentos na plataforma até que tudo parecesse perfeito para o voo, na quinta tentativa.
É o que a agência espacial pretende fazer a partir de agora, após analisar a situação e reiniciar a contagem regressiva. Se partir até o dia 5, a missão Artemis 1 pode ter uma duração de cerca de seis semanas, tornando-se o mais longevo voo de uma cápsula destinada a levar tripulação ao espaço profundo. Contudo, se não for possível lançar até esta data, o atraso para o voo promete ser mais longo, pois será preciso levar o foguete de volta ao hangar, a fim de recertificar o sistema que permite destruir remotamente o veículo em caso de emergência (a cápsula, projetada para levar humanos, naturalmente é ejetada em uma situação desse tipo).
A Orion viajará levando experimentos e dois manequins a uma órbita lunar retrógrada distante, antes de voltar à Terra e aterissar no oceano Pacífico.
Se tudo correr bem com o voo-teste, o caminho estará aberto para a Artemis 2, primeira missão a levar humanos aos arredores da Lua desde a Apollo 17, em dezembro de 1972. A Nasa espera realizar esse próximo voo em 2024, com possibilidade de que acabe ficando para 2025.
FolhaPress