O rei Charles 3º, seus filhos, os príncipes William e Harry, e outros membros da realeza se juntaram ao cortejo solene que levou o caixão da rainha Elizabeth 2ª do Palácio de Buckingham ao Parlamento nesta quarta-feira (14), enquanto canhões de artilharia disparavam e o Big Ben tocava. Na primeira grande cerimônia em Londres após a morte da rainha Elizabeth 2ª, o corpo foi levado em uma carruagem até o Salão de Westminster, onde ficará por quatro dias.
Com pontualidade britânica, a comitiva que acompanha o caixão, coberto com o estandarte real, flores e a coroa imperial, saiu às 14h22 (10h22 de Brasília) de Buckingham. Junto com Charles e seus filhos, também marcharam a pé na procissão seus irmãos Anne, Andrew e Edward. A rainha consorte, Camilla, a esposa de William, Kate, princesa de Gales, e a esposa de Harry, Meghan, duquesa de Sussex, viajaram para o salão de carro.
O cortejo foi acompanhado por duas bandas militares, que interpretaram as marchas fúnebres de Beethoven, Mendelssohn e Chopin, além do terceiro movimento de sua Sonata para piano nº 2, também interpretada nos funerais dos primeiros-ministros britânicos Winston Churchill e Margareth Thatcher.
O trajeto de 38 minutos por cerca de 1,5 quilômetro foi acompanhado a cada 60 segundos por uma salva de tiros de canhão no vizinho Hyde Park e pelo som dos sinos do Big Ben.
A administração do aeroporto de Heathrow anunciou que voos devem ser cancelados ou adiados entre as 13h50 e 15h40 (9h50 e 11h40 em Brasília) de hoje, para garantir silêncio na cidade. Quando o caixão chegou ao Parlamento, o arcebispo de Canterbury celebrou uma solenidade em homenagem a Elizabeth.
Milhares de pessoas saíram às ruas nesta tarde ensolarada de Londres para acompanhar a procissão. A maioria, no entanto, não conseguiu chegar perto dos locais por onde o cortejo passou. Devido à grande multidão, a polícia fechou o acesso e não permitiu mais entradas horas antes do evento.
O casal de brasileiros Cícero e Laura Moura estava um pouco desapontado por não ver o caixão de perto, mas eles comemoraram o fato de estarem em Londres na ocasião. “Planejamos essa viagem há quatro meses e, quando ela morreu, percebemos que seria ainda mais interessante”, disse Cícero. “Tô gostando”, aprovou sua filhinha, Helena.
Cada pub ao redor do Palácio de Buckingham estava repleto de pessoas que, impossibilitadas de chegar mais perto, resolverem acompanhar o cortejo pela televisão ao lado de uma pint (568 ml) de cerveja. Estar num desses pubs lotados foi arrepiante: a maravilhosa música fúnebre, as batidas regulares do bumbo, que marcavam os passos de Charles, William, Harry e demais membros da família real, o ribombar do Big Ben a cada minuto, respondido imediatamente por pela salva de tiros no Hyde Park, também a cada minuto.
Os rostos constritos e entristecidos dos britânicos olhando a TV, fazendo “shiuuu” para que as bartenders falassem baixo, os famosos guardas de túnica vermelha e chapéu felpudo preto marchando à frente do caixão, as dezenas de enormes bandeiras do Reino Unido ladeando a avenida com a escultura dourada do Victoria Memorial ao fundo, a coroa sobre uma almofada púrpura. Tudo isso vai ficar para sempre.
Às 17h, o Salão de Westminster será aberto ao público, que poderá caminhar em volta do caixão. A visitação poderá ser feita dia e noite, até às 6h30 da manhã da próxima segunda-feira (19), quando haverá a missa de funeral na Abadia de Westminster e o enterro no castelo de Windsor, a oeste de Londres. Os visitantes vão ver o caixão fechado, em cima de uma plataforma vigiada por guardas. A imprensa britânica especula que quase 750 mil pessoas devem passar pelo local, o que significaria filas de mais de 10 quilômetros às margens do rio Tâmisa.
Na manhã desta quarta-feira, segundo a AFP, os primeiros da fila estavam com cobertores, cadeiras de camping, barracas e capas de chuva, sinais de que passaram a noite no local. Para se aproximar do caixão, o público terá que passar por medidas de segurança similares às dos aeroportos e obedecer regras rígidas, como usar roupas adequadas, não tirar fotos nem usar telefones celulares. As orientações do governo incluem “se vestir apropriadamente”, evitando “roupas com mensagens ofensivas ou políticas”, e respeitar a dignidade do evento. Apenas bolsas pequenas serão permitidas. Flores, pelúcias e outras homenagens estão proibidas no interior do edifício e devem ser depositadas em uma área específica do Green Park, perto do Palácio de Buckingham.
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FORTUNA HEREDITÁRIA
Charles 3º vai herdar uma fortuna considerável de sua mãe, que era uma das pessoas mais ricas do mundo. Elizabeth também herdou a maior parte de sua fortuna, mas é sabido que fez bons investimentos durante a vida. Estima-se que a fortuna seja de £ 17 bilhões (R$ 100 bilhões), e a maior parte dela provém da posse de terras e imóveis espalhados há séculos pelo reino.
Mas uma reportagem do jornal The Guardian revelou que cerca de cem funcionários da Clarence House, residência oficial de Charles até agora, receberam notificações de que podem perder o emprego quando o rei se mudar para o Palácio de Buckingham. A razão seria redundância de cargos. Secretários, governantas e as equipes de finanças e de comunicação estão entre os possíveis demitidos.
A maioria acreditava que seria incorporada ao staff de Buckingham, uma vez que serviram diretamente ao príncipe por anos. Isso até a chegada da carta de Clive Alderton, o principal auxiliar de Charles. “Todo mundo aqui está lívido com a notícia. Estamos abalados”, disse um dos funcionários ao jornal britânico. Um sindicato divulgou nota afirmando a decisão é “nada menos que sem coração”.
FolhaPress