REINALDO SILVA
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Josiane de Fátima Oenning faz questão de manter em dia o esquema vacinal dos filhos Brian e Ísis, de 7 e 4 anos, respectivamente. “Sempre trago os dois. As carteirinhas estão em dia.” Na manhã de ontem, ela levou a menina à Unidade Básica de Saúde Zona Leste, em Paranavaí, para tomar a primeira dose contra a Covid-19 e deu exemplo ao falar da importância de imunizar os pequenos. “Vacina é a prevenção de doenças. Não dá para regredir.”
A certeza de Josiane não é compartilhada por uma significativa parcela da população. A resistência dos pais em vacinar os filhos contra a poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, motivou a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) a emitir um alerta sobre o risco muito alto de reintrodução da doença no Brasil.
De acordo com a Opas, a poliomielite pode se espalhar rapidamente entre comunidades com cobertura vacinal insuficiente. A doença não tem cura, mas é comprovadamente evitável com vacinas. Ocorre que atualmente o índice de imunização está abaixo de 80% em quase todos os países da América do Sul, caso do Brasil.
As declarações da coordenadora da Imunização de Paranavaí, Grazieli Barbaço, ilustram o cenário preocupante. “A dificuldade é a conscientização dos pais. Equipe a gente tem para vacinar, tem vacina, tem as salas abertas, mas os responsáveis pelas crianças não estão tendo a conscientização da importância de vacinar.” Ontem, o município se aproximou do índice de 90%, mas a meta estipulada pelo Ministério da Saúde (MS) é de 95%.
A campanha de vacinação é voltada para crianças menores de 5 anos que ainda não foram imunizadas ou que precisam receber doses de reforço. No recorte por faixa etária, Paranavaí atingiu 100% da população de 4 anos, mas o público com idade mais baixa ainda não foi totalmente vacinado, especialmente crianças com 1 ou 2 anos.
A ação de imunização tem alcance nacional e termina no dia 30 de setembro. Agora, as equipes de saúde correm contra o tempo e tentam contornar a desinformação, a fim de conseguir atingir a meta preconizada pelo MS. Conforme elencou Grazieli Barbaço, as UBSs já atenderam em horário estendido, promoveram dois dias de mobilização, levaram vacinas às creches e às comunidades. Agora, estão voltando aos estabelecimentos de ensino que apresentaram menores taxas de adesão.
Segundo a chefe regional da Vigilância Epidemiológica, Samira Silva, antes de vacinar as crianças nas escolas, as equipes de saúde enviam um documento pedindo a autorização dos pais. Só são imunizadas as crianças com o consentimento dos responsáveis legais. Em casos de resistência sem justificativa, o Conselho Tutelar é acionado para verificar a situação. Quando o problema não tem solução, é encaminhado para o Ministério Público.
Na tentativa de ampliar os números, os núcleos da Estratégia Saúde da Família (ESF) também se mobilizaram, com a chamada busca ativa, que é a procura pelo público-alvo nos bairros. “Tem pais que já foram cobrados três vezes, mas não levam os filhos”, lamenta a coordenadora municipal de Imunização, Grazieli Barbaço.
Adultos – Técnica em enfermagem da UBS Zona Leste, Márcia Miranda de Almeida conta que é servidora pública há duas décadas. Houve um tempo em que as pessoas precisavam ser organizadas em filas para receberem vacinas, mas a preocupação mudou de maneira drástica ao longo dos últimos anos, especialmente após a chegada da pandemia de Covid-19.
Na manhã de ontem, orientou os pacientes adultos que foram à unidade de saúde: “O sarampo voltou, a meningite voltou, a paralisia infantil está voltando. É a falta de vacina. A prevenção não está sendo feita”. Mesmo entre os profissionais de saúde há relutância em se imunizar.
Ela credita grande parte da recusa às vacinas aos discursos desencorajadores que circulam pelas redes sociais e até mesmo entre autoridades e lideranças. “A vacina injeta no organismo uma carga de vírus inativa, não promove doença.” O que destoa dessa comprovação científica não deve ser considerado.
Sobre a responsabilidade dos responsáveis legais quanto à imunização dos pequenos, a técnica em enfermagem enfatiza: “Vacina é dever do pai e direito da criança. Pais bem orientados, filhos vacinados”.