DO ANÚNCIO DA BOA NOVA AOS EVANGELHOS ESCRITOS: DO EVANGELHO AOS QUATRO EVANGELHOS
A história da formação dos evangelhos foi objeto de muitas investigações. Foi também assunto de muita polêmica. A Constituição Dei Verbum traz o resultado sereno desta longa pesquisa (DV 19). Podemos distinguir quatro etapas:
= O anúncio da Boa Nova da Ressurreição suscita comunidades onde se inicia a viver e a partilhar a vida nova em Cristo animados pelo Espírito de Jesus, os discípulos e as discípulas começam a lembrar “PALAVRAS E GESTOS DE JESUS” para animar a vida das comunidades e responder às muitas dificuldades e conflitos da missão.
= As comunidades se espalham pelo mundo: Jerusalém, Judéia, Samaria, Síria, Ásia, Grécia, Itália. Elas transmitem as “Palavras e Gestos de Jesus” com uma dupla preocupação de fidelidade: a Jesus que está na origem da Boa Nova e ao povo que é o seu destinatário. De acordo com a situação diferente das comunidades nos diversos países, começam a aparecer diferenças na maneira de se transmitir as palavras de Jesus. Por exemplo, o Pai-Nosso é diferente em Lucas e em Mateus (Lc 11,2-4 e Mt 6,9-12).
= Com a morte dos apóstolos, cresce nas comunidades o desejo de conservar tudo o que eles tinham transmitido sobre Jesus. Em vários lugares tomam-se iniciativas de juntar e de organizar “PALAVRAS E GESTOS DE JESUS”.
Surgem as primeiras coleções: PARÁBOLAS, MILAGRES, ENSINAMENTOS, DISCUSSÕES DE JESUS COM OS JUDEUS. (MC 1,1-3,6).
= Por volta dos anos 70 d.C. e sobretudo depois da destruição de Jerusalém, durante a lenta e trágica separação entre judeus e cristãos, foram redigidas várias sínteses do que nas comunidades se transmitia sobre Jesus (Lc 1,1-3). Só quatro destas sínteses foram conservadas no Novo: MARCOS (COMUNIDADES DA ITÁLIA); MATEUS (COMUNIDADES DA SÍRIA-PALESTINA); LUCAS (COMUNIDADDES DA GRÁCIA); JOÃO (COMUNDADES DA ÁSIA MENOR.).
Cada uma destas sínteses tem o seu objetivo, a sua visão. É como pedir a quatro irmãos que pintem o rosto do pai. Farão quatro pinturas que serão, ao mesmo tempo iguais e diferentes.
OS EVANGELHOS SINÓTICOS E O EVANGELHO DE JOÃO
Os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas são chamados SINÓTICOS. Vêm da palavra grega syn-optein: ter visão de conjunto. Os três quando colocados em paralelo, apresentam muitas semelhanças, mas também diferenças marcantes. Do ponto de vista literário, existe uma interdependência entre eles. Muito se investigou sobre esta questão, chamada ‘questão sinótica”. Para nós, o que importa é saber que a comparação entre os três pode ajudar a perceber as peculiaridades de cada evangelista: como ele olhava Jesus; qual a sua visão da Igreja e da Boa Nova; qual era a situação do povo; quais os conflitos que as comunidades enfrentavam nas várias regiões.
Comparando então o evangelho de João com os sinóticos, podemos dizer; OS TRÊS TIRAM FOTOGRAFIAS, JOÃO TIRA RAIO-X. João tenta revelar na vida de Jesus uma dimensão escondida que a olho nu não se vê, mas que só a fé revela. Ele nos ensina como fazer leitura orante dos sinóticos e como ler nossa própria vida com um olhar de fé.
CRIAR OS OLHOS CERTOS PARA LER OS EVANGELHOS.
- a) A fé na ressurreição é a fonte que gerou os quatros evangelho. E também a condição e fruto da leitura dos mesmos. A experiência da ressurreição é a nova luz nos olhos que ajudou a perceber o sentido das “Palavras e Gesto de Jesus”.
- b) A vontade de viver como discípulo é o ambiente de vida em nasceram os evangelhos e que levou os cristãos a reunir “Palavras e Gestos de Jesus” para animar a Vida da Comunidade e ajudá-la a enfrentar os muitos conflitos.
- c) O compromisso com a missão é a preocupação em torno do qual cresceram os evangelhos e que levou os cristãos a reunir “Palavras e Gestos de Jesus” para mostrar aos outros que em Jesus se realizaram as Escrituras.
- d) O desejo de conhecer o Cristo vivo é a vivência mística a partir da qual se formaram os evangelhos e que muito contribuiu para aprofundar o sentido das “Palavras e Gestos de Jesus” para a vida.
- e) A luz e a força do Espírito de Jesus são o dinamismo que dava (e continua dando) atualidade permanente às “Palavras e Gestos de Jesus”. Sem o Espírito Santo não é possível descobrir o sentido que os evangelhos têm para nós hoje.
A luz da ressurreição fez cair o véu que encobria o Antigo Testamento (2Cor 3,14-16). Os discípulos percebem que Jesus estava no centro da Escritura.
Moisés e os profetas já falavam dele. Começam a ver a vida de Jesus como a realização das promessas (Jo 19,18). “ELES CRERAM NA ESCRITURA E NA PALAVRA DE JESUS” (JO 2,22).
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.
Texto para o dia 25 de setembro.