LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Em um cenário de auxílios do governo às vésperas das eleições, trégua da inflação e retomada incipiente da renda, os brasileiros começam a migrar parte do consumo para produtos mais caros nos supermercados.
A conclusão é da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), a partir de dados divulgados nesta quinta-feira (13). A migração, diz a entidade, foi observada na composição de uma cesta de mercadorias que inclui desde alimentos até itens de limpeza e higiene.
Em agosto de 2021, 55,5% dessa cesta era formada por produtos vendidos na categoria de preços baixos. Em agosto de 2022, o percentual recuou para 52,7%.
Enquanto isso, os itens da categoria de preços médios avançaram de 28,2% para 30,2% da cesta de consumo pesquisada. A participação das mercadorias premium, por sua vez, com valores mais altos, aumentou de 16,3% para 17,1% no mesmo período.
Na visão da Abras, os brasileiros estão voltando a procurar marcas que consumiam antes da disparada dos preços e da perda de renda na pandemia.
A entidade atribui as mudanças recentes a fatores como a trégua da inflação e os benefícios turbinados pelo governo federal às vésperas das eleições.
“O consumidor está voltando a comprar aqueles produtos que ele tinha o hábito de consumir”, disse Marcio Milan, vice-presidente da Abras.
Pressionado pela inflação elevada em ano eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) apostou no corte de tributos para frear os preços, bem como na elevação do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600.
Em setembro, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) caiu pelo terceiro mês consecutivo, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O índice oficial de inflação recuou 0,29% no mês passado, puxado mais uma vez pela gasolina, que teve alívio tributário. Em junho, Bolsonaro sancionou a lei que determinou teto para cobrança de ICMS (imposto estadual) sobre os combustíveis.
O grupo alimentação e bebidas do IPCA também caiu em setembro. A baixa foi de 0,51%, a primeira desde novembro de 2021 (-0,04%).
Analistas consultados pela Folha de S.Paulo não esperam mais deflação para os alimentos até o final do ano. A expectativa é de avanços mais moderados do que os registrados no começo de 2022. Em 12 meses, o grupo alimentação e bebidas acumulou inflação de 11,71% até setembro.
A carestia da comida afeta especialmente a população mais pobre, que gasta uma parcela maior do orçamento familiar para a compra de produtos básicos.
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