A situação do povo era muito grave, oprimidos de um lado pelo império romano e de outro pelo sistema político-religioso do templo…
Quanto mais sofrimento e dor, opressão, decepções com as lideranças, más notícias, mais cresce a expectativa, a esperança de que virá “Algo melhor”, “Boas-Notícias”. E um clamor subia aos céus. Ao Deus único Javé: “Eu ouvi os clamores do meu povo, por isso vou libertá-lo”. (Ex 3,7-8).
Jesus surpreendeu a todos com esta declaração: “O Reino de Deus já chegou”.
“Uma voz grita: No deserto: preparai um caminho para o Senhor, aplanai na estepe uma estrada para o nosso Deus…” (Is 40,3). O arauto vem pelo deserto anunciando a chegada próxima do Senhor, que ostenta o título da aliança.
O Caminho do Senhor… lembra o êxodo, o caminho “Da casa da Escravidão” para a libertação e a terra prometida; onde Deus fez maravilhas. Para os exilados a Boa-Notícia é que Deus está promovendo com a força de sua Palavra, Novo Êxodo, diferente do outro, será uma procissão alegre, festiva, fácil e cômoda. O próprio Deus chefia a marcha do seu povo para a liberdade e a vida, pois ele voltou a ser “o nosso Deus”.
Os capítulos 3 e 4 de Mateus preparam a vinda do Reino do Céu. No evangelho de Mateus o Reino pode ser traduzido em termos de justiça. Jesus, o Deus-Conosco(1,23), é aquele que inaugura a Justiça do Reino (Mt 3,15). João Batista, com sua pregação, introduz as pessoas na nova dinâmica do Reino que está para chegar.
Por esse tempo… O nome, o título: João, “o Batista’. Onde? No deserto? Tudo isso tem o seu significado. É a ligação entre os profetas e Jesus: o que os profetas viram e entreviram como futuro, João o mostra presente. O povo de Deus no deserto fez uma experiência do projeto de Deus, na vida comunitária, os profetas convidaram à conversão e à mudança no modo de vida. João Batista no deserto, como profeta convida à conversão e à mudança de vida, para acolher “O Reino de Deus” que está para chegar. Jesus no deserto, se prepara para a sua missão: “Anunciar: o Reino de Deus, chegou!”
Saem de Jerusalém, como se o templo e seu culto não satisfizessem o exercício da penitência e a preparação para a chegada do reinado anunciado.
João Batista anunciou no deserto do Jordão a vinda salvifica de Deus e ali se revelou a salvação de Deus. De fato, Cristo manifestou-se a todos em sua glória quando, depois do seu batismo, os céus se abriram e o Espírito Santo, descendo em forma de pomba, pousou sobre ele; e a voz do Pai se fez ouvir, dando testemunho do Filho: Este é o meu Filho amado, escutai-o (Mt 17,5).
O batismo de João Batista conclama os homens para um esforço: “aplainar as montanhas, aterrar os abismos para que se possa caminhar livremente para Deus. João Batista realizou-se sendo o que Deus lhe confiara como missão: “Voz do que clama no deserto”. Aí encontrou a dimensão maior do outro: “depois de mim vem aquele que é mais forte do que eu do qual não sou digno de desatar a correia das sandálias”. Por isso João não se sente ameaçado como se o outro lhe fizesse sombra e sabe retirar-se do palco da vida, na hora certa “para que ele cresça e eu diminua’ (Jo 3,30). “O que vem”, ou há de vir, o vindouro (equivale ao nosso futuro) podia ser título do Messias esperado. É ele que traz o autêntico batismo: não na água que limpa, mas do Espírito Santo que “vivifica e consagra”, não na água do rio, mas vento ou “Alento” que desce do céu e transforma o deserto em Jardim (cf. Is 32,15). O Senhor vem, preparemo-nos no “Caminho do Senhor”.
As pessoas iam até João no deserto para ouvi-lo, confessavam os seus pecados, como sinal de arrependimento e eram batizados como sinal de compromisso com o “novo” que era “O Reino dos Céus”, anunciado.
Por meio da pregação do arrependimento… A pregação básica de João Batista, durante todo o seu ministério, foi sobre a necessidade de cada pessoa experimentar o arrependimento, para poder participar do Reino de Deus. Preparar o caminho do Senhor significa trabalhar o terreno do coração do homem no qual o Senhor deseja entrar, removendo os obstáculos à Sua presença. Os corações sem Jesus estão cheios de maldade, ódio, rancor, mentira, indiferença e outras coisas mais. Isso representa as sujeiras do caminho a serem removidas, para que Ele possa vir às nossas vidas. Sem arrependimento, não há como Ele ter comunhão com o homem. Arrependimento significa mudança de pensamentos, de sentimento e de atitude. O arrependimento genuíno é resultado de um milagre sobrenatural operado no coração do homem.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.