“És Tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?
Mt 11,2-11.
João Batista está penando no fundo de uma prisão. Seu crime fora ser coerente: acusara Herodes por viver amasiado. Chegaram-lhe notícias controversas sobre o desempenho da missão de Jesus. A imagem do Messias que tinha em mente e pregara não correspondia a essa realidade. Anunciara um Messias Juiz e justiceiro, que derrotasse todos os pecadores e exterminasse os inimigos de Deus a ferro e fogo. No entanto chega Jesus que se apresenta como cartão de visita da misericórdia divina: senta-se à mesa com os pecadores, oferece a sua mão sem distinção de pessoas. João sente-se como alguém que anunciou à platéia um espetáculo e é levado à cena um outro completamente diferente. Nem por um momento se questiona sobre a sua pregação. Deve estar havendo um engano, mas fora de João. Por isso, manda que seus discípulos perguntem a Jesus: “És Tu aquele que deve vir ou devemos esperar outro?”
João começa a viver como um “homem do deserto”. Traz como vestimenta um manto de pelo de camelo com um cinturão de couro e alimenta-se de gafanhotos e mel silvestre (Mc 1,6). Assim se vestiam os profetas. João aparece como o profeta que chama à conversão e oferece o batismo para o perdão dos pecados. Os evangelistas recorrem a dois textos da tradição bíblica para apresentar sua figura. João é “voz que grita no deserto: ‘Preparai o caminho para o Senhor, aplanai suas veredas” (Is 40,3). Esta é a sua tarefa: ajudar o povo, a preparar o caminho para Deus que já está chegando. Dito em outras palavras, ele é “o mensageiro” que novamente guia Israel pelo deserto e volta a introduzi-lo na terra prometida.
João prega a penitência, anuncia profeticamente o juízo divino que a todos ameaça. O futuro, pois é a ira de Deus seu inexorável julgamento. Não adianta dizer-se filho de Abraão, eleito.
As palavras: “o machado”, “a peneira”, “o fogo”, são três palavras a indicar a pregação de João sobre o juízo, palavras do profetismo antigo.
As expectativas de salvação apontam certos personagens: “Suscitarei um profeta como meu servo Moisés”, (Dt 18,15); Messias davídico, “O Profeta dos últimos tempos”; “O Mensageiro da Sabedoria”, “O Enviado”; “Aquele que devia vir”, “O mais forte”, “O Filho do Homem” como juiz. Um fato é certo Jesus foi batizado por João no rio Jordão. As primeiras comunidades se perguntavam o significado disto e quem era maior: João ou Jesus, quem deveria batizar? Qual era o lugar de João em relação a Jesus, os evangelhos de certo modo respondem dizendo: “Ouviu-se uma voz que dizia: Este é o meu Filho querido, o meu predileto” ou “Este é o meu Servo em quem coloco meu bem querer”.
No evangelho Jesus responde a João e seus discípulos definindo sua identidade messiânica (Mt 11,1-6). Jesus define a missão do Batista e explica a reação dos judeus (VV 7-15.16-19).
Jesus responde primeiro sobre sua pessoa e missão apontando para uma imagem alternativa da Escritura. Aponta os milagres realizados (v.5), nos quais ressoa um eco de profecias (Is 35,5-6; 61,1). Em outras palavras, o cumprimento de profecias messiânicas confirma sua missão. A bem-aventurança, traduzida de forma positiva, felicita a quem o recebe como Messias. Tropeçar é sentir-se frustrado por ele e não reconhecê-lo como Messias. 11,7-15 Em seguida Jesus define a missão de João, Por sua conduta ascética é como o primeiro dos profetas, Elias, que se retirava ao deserto e enfrentava o rei e sua corte (1Rs 17-18). Por seu estilo de vida atraiu o povo, e não por um luxo ostensivo ou por volubilidade caprichosa. Pela sua atividade devidamente reconhecida, João é o Elias anunciado (Ml 3,1; Eclo 48,10-11). Até ele chegou a velha economia: ele apresenta à nova, anunciando a presença do reino e do Messias. Sua atividade supera a todos os anúncios proféticos, mas não se iguala a pertencer ao novo Reino.
Qual a diferença entre a pregação de João e a mensagem de Jesus de Nazaré? Em primeiro lugar o batismo de João, constitui um apelo e um compromisso de conversão, mas não realiza a salvação. A renovação do ser humano concretiza-se mediante o batismo no Espírito daquele que deve vir. Em segundo lugar, para João, Deus vem como juiz severo, enquanto que para Jesus, Deus vem com sua misericórdia. Com Jesus, o tempo é de graça e de misericórdia, não de julgamento. Com Jesus tudo começa a ser diferente. O temor do juízo dá lugar à alegria de acolher a Deus, amigo da vida. Ninguém mais fala de sua “ira” iminente. Jesus convida à confiança total num Deus Pai. Não só muda a experiência religiosa do povo. A própria figura de Jesus se transforma. Pelo que estava acontecendo, pela realização das profecias não era preciso esperar outro. Jesus de Nazaré era o Messias.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.