REINALDO SILVA
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A seca e a fome devastavam violentamente a Samaria, mas Deus disse a Elias que faria chover. O profeta acreditou nas palavras e pediu ao servo Acab que subisse ao cimo do monte Carmelo. Por seis vezes ele foi e nada viu. Na sétima, retornou e contou que uma nuvem do tamanho da palma da mão subia do mar. Num instante, o céu se cobriu de nuvens negras, soprou o vento e a chuva caiu torrencialmente.
A narrativa bíblica vem do primeiro livro de Reis e sustentou a fé dos empresários Marcelo Alexandre de Freitas e Stella Zonta, de Paranavaí, enquanto o filho Pedro, de 5 anos de idade, lutava contra um câncer no cérebro e enfrentava complicações no quadro de saúde a cada cirurgia.
A história começa com o menino se queixando de dores de cabeça. Poderia ser sintoma alérgico ou efeito das altas temperaturas, por via das dúvidas, os pais decidiram levá-lo para uma consulta médica. Logo veio a desconfiança de que se tratava de meningite. Exames detectaram a presença de um tumor que impedia a circulação intracraniana de líquido, causando hidrocefalia.
No dia 21 de setembro, Pedro foi submetido à primeira cirurgia, com a instalação de um dreno, um pequeno tubo para ajudar a retirar o excesso de líquido. O objetivo era aliviar a dor intensa que sentia. Então, o tumor tinha 3,5 centímetros.
Alguns dias depois, o filho dos empresários voltou a reclamar da dor. Novamente buscaram ajuda médica e o menino passou por uma tomografia, que apontou o crescimento do corpo cancerígeno, agora com 4,5 centímetros. A evolução rápida elevou os níveis de preocupação e a orientação para Marcelo e Stella foi que levassem Pedro para Curitiba, onde receberia o tratamento adequado.
Os três partiram com a intenção de voltar a Paranavaí dentro de uma semana, talvez em dez dias. Chegaram ao Hospital Nossa Senhora das Graças, onde o menino foi internado, mas a família viu ruir o plano de permanecer pouco tempo na capital paranaense. A situação era grave. Tratava-se de um câncer raríssimo, apenas dez casos conhecidos no mundo todo, conforme disseram os médicos.
Sempre em oração, Marcelo e Stella se apegaram às palavras que ouviram de um pastor: Deus operaria o milagre. Apesar da crença, nem sempre é fácil manter a fé inabalada. O desejo de ver o filho curado e o medo de que não houvesse solução para o caso se misturavam em um turbilhão de sentimentos. Se o milagre de fato viria, por que esperar tanto tempo?
As dúvidas davam lugar à esperança sempre que recebiam mensagens de apoio. Pessoas de diferentes regiões do Brasil acompanhavam a situação e enviavam orações constantemente. Mesmo assim, a realidade batia à porta. Pedro precisou fazer mais sete cirurgias, ora para a retirada de coágulos, ora para a implantação de drenos, ora para a remoção do tumor. Nesse processo, contraiu meningite duas vezes.
Apesar de todos os esforços da equipe médica e da luta diária que os profissionais travavam para reverter o quadro clínico, o menino de cinco anos perdeu os movimentos e o cérebro já não fazia mais conexões. Ainda assim, os tratamentos foram mantidos. E começaram a dar resultados.
A felicidade tomou conta do casal quando o menino abriu os olhos pela primeira vez. Piscou e deu sinais de que conseguia ouvir e entender o que falavam com ele. “Naquele momento, acreditamos que era Deus fazendo milagre”, contou Stella Zonta.
Demorou quase 50 dias até que a mãe voltasse a pegar o menino no colo. “Foi a melhor coisa da minha vida.” O calendário marcava 2 de dezembro. A partir daquele dia, pouco a pouco, Pedro começou a emitir sons. Foi possível captar um inesquecível “eu te amo, mamãe”.
Os médicos informaram que ele não tinha mais hidrocefalia, o coágulo fora removido e o tumor, retirado. Para a surpresa de todos, Pedro reagiu rapidamente. Depois de 59 dias internado na UTI, estava pronto para voltar para casa.
O retorno a Paranavaí aconteceu em 8 de dezembro, 78 dias após a chegada dos três a Curitiba. Em casa, foram recepcionados por familiares, amigos e vizinhos que comemoraram a vitória de Pedro e a perseverança dos pais. Uma faixa de boas-vindas, cartazes, músicas e muitos sorrisos acolheram a família.
Pedro está em casa, fazendo fisioterapia, acompanhamento com fonoaudióloga e aula de música. Os pais estão sempre acompanhando cada movimento, cada avanço, ainda que aconteçam lenta e gradativamente. Não escondem a certeza de que ciência e fé caminharam juntas em toda a trajetória.
“Milagres acontecem em situações extremas e nós recebemos um”, comemora Stella Zonta. Foi assim que aconteceu no tempo de Elias, em Samaria, é o que está acontecendo agora em Paranavaí, sintetizam os cansados, porém satisfeitos, gratos e exultantes pais do pequeno Pedro.