*Edson Godinho
“Observar é um exercício que justifica a nossa existência humana”!
Ontem fui ao shopping comprar presentes de Natal para minha família. Cansado de um ano de trabalho intenso, não me apercebi muito dos detalhes ou do clima natalino à minha volta. Não que a magia do Natal não me envolva, muito pelo contrário. É que após dois anos intensos de pandemia, todos nós tivemos que reaver um tempo que para alguns foi perdido. Na minha visão, não foi tempo perdido, foi um tempo de reflexão e consciência, e não se vai para frente sem refletir. As mortes e a escassez foram um lembrete de que somos humanos.
Após escolher os presentes, estava na fila para pagar e comecei a observar dois meninos conversando sobre os brinquedos que queriam ganhar no Natal. E do filme que estavam ansiosos para ver no cinema. Aquele recorte de infância me fez lembrar de mim e do meu primo quando crianças durante as férias.
No Natal nossa família costumava ir para o Rio de Janeiro na casa do meu avô. Na época não tínhamos shopping próximo da nossa cidade. Então, no final do ano tivemos a oportunidade de aproveitar os benefícios de um grande centro urbano.
Foram muitos Natais, e com eles também muitas estreias no cinema. Porém um dos filmes dessa época, que até hoje ressoa na minha cabeça é “A Chave Mágica” (1995). Um menino ganha um guarda-louças velho, e toda vez que ele coloca algum brinquedo no guarda-louças e o fecha com a chave mágica o brinquedo ganha vida. Dessa forma o menino solitário passa a ter a companhia de diferentes personagens, porém dessas vivências também surgem os dilemas das relações. Penso que esse filme chegou tão forte para mim, porque um dos meus únicos amigos era meu primo. E na maior parte do tempo a dinâmica da solidão era meu dia a dia.
Também lembro de alguns brinquedos que comprávamos durante esse período. Aliás, essa fase de fim de ano era ótima, sempre ganhávamos dinheiro dos pais e avôs e íamos para as Lojas Americanas comprar brinquedos. Na época quase não haviam lojas Americanas próximas, se não me engano a mais perto era a do Calçadão de Londrina. Um dos Natais mais mágicos foi quando compramos os bonecos dos Power Rangers que giravam a cabeça, ora era o capacete do herói, ora o próprio herói.
Quantos pensamentos me tomaram em poucos minutos na fila. Hoje, já não sou mais próximo do meu primo. Mas tenho certeza, que essa amizade foi uma das melhores coisas da minha infância. Assim como os sorvetes do MCDonald ‘s que tomávamos no verão no Barra Shopping próximo ao Natal.
*Edson Godinho é artista visual, filmmaker, entusiasta, performer e professor