ALEX SABINO
DA FOLHAPRESS
Ester Silva, 33, não se conforma que o filho Ian Kawe, 18, não tem interesse em jogar futebol.
“Um homem de 1,90 m, com esse perfil de zagueiro, não quer saber de bola”, lamenta.
Foi por causa dele que Ester, uma lateral esquerda que atuava em times amadores de Macapá, enterrou o sonho de ser jogadora. Ela engravidou aos 15 anos e ficou impossível continuar. Mas, se correr pelas beiradas do campo era difícil, não se compara ao que faz hoje.
Ester é coordenadora de futebol feminino do Ypiranga, o principal clube da modalidade do Amapá. A equipe estreia no estadual deste ano como favorita ao título. A primeira partida será nesta quinta-feira (9), contra o Lagoa.
“Fazer futebol masculino aqui já é difícil. Você não faz ideia do que é o feminino”, lembra o presidente da agremiação, Ricardo Oliveira.
O Ypiranga é considerado a referência da região porque paga salários e dá alojamentos para suas atletas. Isso é um luxo. O Amapá foi o último colocado no ranking de federações da CBF em 2022, o de piores resultados. O estadual, que não aconteceu em 2022, terá apenas cinco equipes. Dois times são amadores.
A discrepância é grande. O sistema do Brasileiro é em disputa de mata-mata. A CBF paga R$ 10 mil para o time mandante e R$ 5.000 para o visitante. Quem for eliminado na primeira fase sai apenas com R$ 15 mil. Cada clube da Série D masculina, o patamar mais baixo da pirâmide do futebol, embolsa R$ 300 mil.
“A premiação para o campeão do Amapaense feminino, em 2021, foi de R$ 2.000. No torneio amador masculino, foi R$ 10 mil”, completa Ester.
Nesta temporada, o clube vencedor ficará com R$ 7.000.
Repasse de dinheiro da Federação Amapaense, não há. Segundo dirigentes ouvidos pela reportagem, a entidade ajuda a apagar incêndios, como quando não há uniformes ou faltam bolas para treino e jogos.
“A gente aqui não faz só futebol. Se fosse só futebol, seria mais fácil. É muito mais do que isso”, resume Ester Silva.