Renato Benvindo Frata
Relatos não oficiais contam que lá pelos idos de 1880, o rótulo teria sido inventado por um industrial cansado de ver seu produto igualado ao da concorrência. E, querendo diferenciá-lo, teria escrito seu nome em um papel, pregando-o na garrafa. Pronto. Estava inventado o rótulo, essa etiquetinha colorida que enfeita prateleiras a causar nos olhos a sensação de querer. Na verdade, o rótulo foi resposta da criatividade versus necessidade, aliás como muitos inventos, de onde saiu a expressão: “a necessidade faz o gato pular”. Quem produz deve melhor mostrar seu produto diferenciando-o da concorrência porque, pela lei do mercado ou você aparece ou fenece e, convenhamos, um rótulo bem feito vende mais que muitos vendedores que de cara feia e braços cruzados, ficam às portas de lojas a espantar clientes.
Essa etiqueta colorida que dá destaque ao produto vale mais que muita conversa de vendedor, ou tanto quanto, com as informações diversas e necessárias preocupadas em atrair olhares de quem sai para comprar. É um chamariz, a impactação estética e sensorial que induzem à compra.
Tá bom. Disso aí todo mundo sabe. Servindo o rótulo para bem mostrar algo, nesses tempos conturbados ganhou entre nós outros contornos nem tanto simpáticos, outras nuances nem tanto brilhantes e um simbolismo nem tanto celestial. De rótulo virou pecha e essa tem sinônimos nada agradáveis, como defeito moral; vício, falha, imperfeição. Sim, passamos a ser rotulados. Com rótulos impuros.
Uns como rebanho que recebem nas ancas a marca do dono, o que levou, ao tempo, a pecha de fascista com uma série de nomes ruins de entremeio; e, quem teve predileção à oposição, recebeu o rótulo de petezada, esquerdalha, comunista e até xingamentos não publicáveis. Isso é, nossa liberdade política de escolha foi para a cucuia. Claro que esses ‘rótulos’ não foram pregados nas costas, nas mangas ou lapelas das roupas como fez Hitler com judeus e outras minorias perseguidas. Esses nossos rótulos se fixaram no olhar das pessoas com quem conversamos, no seu gestual, na vestimenta escolhida, nas discussões inflamadas em botecos, nas brigas loucas de família, na incompreensão inimaginável de casais. Virou bandeiras vibrantes que se encalacraram nas almas a arrancarem não somente suspiros e desejos, mas gritos histéricos, alaridos insanos, apupos amedrontadores, quando não se transformaram em agressões verbais, corporais e até em mortes. Em resumo, o rótulo virou loucura pela insanidade polvilhada do nós e eles.
Depois de 8 de janeiro, dia em que muitas pessoas motivadas pela rotulação induzida, credulidade desmedida ou ignorância arrogante, não conseguindo atendimento aos implorados pedidos de intervenção às FFAA e nem às orações aos santos invocados por mais de 70 dias nas ruas sob sol, chuva, calor e frio, se transformaram – com ou sem ajuda maléfica de contrários, – de hora para outra em vândalos e, num ato de extrema extravagância, deixaram consequências desastrosas para si, para o país e para o mundo.
Como resultado dessa trapalhada, além de se sujeitarem às penalidades da justiça de respeitabilidade duvidosa, são agora rotulados de fanáticos, golpistas, delinquentes… enquanto os ganhadores ostentam o rótulo de mariposas a se ofuscarem na claridade com direito a ter e manter por tempo indefinido, suas asas abertas em leque a abanarem vaidade.
Todavia, como o rótulo em si não faz o produto, melhor ser exigente para que amanhã não se os rotule de imprevidentes, por comprar sabendo, gato por lebre. Olho no rótulo, então…