STEFHANIE PIOVEZAN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Se por um lado o Carnaval deste ano traz novidades do mercado de bebidas, por outro lado a medicina apresenta novos argumentos para desincentivar a ingestão de álcool em excesso.
Pesquisa publicada em novembro revelou que, entre 2015 e 2019, o consumo abusivo de bebidas alcoólicas resultou em cerca de 140 mil mortes por ano nos Estados Unidos.
Outro estudo afirma que beber qualquer quantidade de álcool põe o coração em risco, e um artigo publicado na Nature Communications aponta que o consumo desse tipo de bebida pode estar ligado à diminuição do volume do cérebro.
Além das consequências para o fígado, o coração e o cérebro, o álcool pode causar prejuízos aos rins, principalmente no consumo de longo prazo.
O álcool inibe o ADH, hormônio antidiurético que auxilia o organismo a evitar a perda de líquido. Sem essa ajuda, o indivíduo que ingere muito álcool produz mais urina –por isso aquela vontade de ir ao banheiro– e corre maior risco de desidratação.
O ADH age de acordo com o que ingerimos. Quando tomamos muita água ou consumimos muito sal, por exemplo, sua regulação também muda. A questão é se lembrar disso ao consumir bebida alcoólica.
“O hormônio existe para não deixar a gente desidratar. Se você toma muito álcool, você tende a desidratar porque vai fazer xixi mesmo que não precise eliminar mais água”, afirma Osvaldo Merege Vieira Neto, ex-presidente da SBN (Sociedade Brasileira de Nefrologia).
Entre os sinais de desidratação estão sensação de boca seca, fraqueza, cansaço e dor de cabeça. Passar seis horas ou mais sem urinar também é sintoma de desidratação. Outros aspectos, esses mais críticos, são olhos fundos e diminuição da elasticidade da pele.
“O rim é o órgão mais empático do organismo. Ele vê outro órgão sofrendo e sofre junto. Quando o fígado fica doente, o rim acaba sofrendo por consequência”, afirma Bruno Abdalla, nefrologista da BP (Beneficência Portuguesa).
Abdalla explica que, dependendo da fragilidade do rim e da quantidade de álcool ingerida, há possibilidade de lesões.
“Evitar o excesso é a melhor forma de prevenção, porque não sabemos a vulnerabilidade de cada organismo. A mesma dose pode ter consequências diferentes”, diz.
Quando o consumo é prolongado e há um quadro de alcoolismo, o maior risco para os rins é o aumento da pressão arterial. “No longo prazo, o álcool provoca hipertensão, principal causa de insuficiência renal”, alerta Vieira Neto.
Isso ocorre porque a maior pressão sanguínea provoca lesões nas arteríolas dos rins, reduzindo a capacidade desses órgãos de filtrar o sangue. “A hipertensão é a principal causa no mundo para hemodiálise.”
Para aqueles que, buscando estar em forma para curtir a folia, apostaram em dietas hiperproteicas e recorreram a suplementação de vitaminas sem orientação, Abdalla afirma que é preciso estar atento aos riscos para os rins.
“É necessário haver proteína na dieta, mas é preciso tomar cuidado com o excesso. Há doenças renais que são desencadeadas justamente por sobrecarga funcional”, diz.
Em relação às vitaminas, o nefrologista da BP explica que o aumento descuidado de vitamina D no organismo pode elevar a absorção de cálcio e fósforo, gerando lesões que às vezes não podem ser revertidas. A ingestão desmedida de vitamina C, por sua vez, pode predispor a formação de cálculos renais.
“Precisamos começar a derrubar a ideia de que existem fórmulas milagrosas. Não há dieta milagrosa.”