Não foram poucas as vezes que a vida tentou desviar o caminho de Amauri Marcondes da literatura. Mas, sonhador, seguiu por essa trajetória mesmo com as dificuldades. De uma infância humilde, completou apenas o ensino fundamental, porque a zona rural onde morava não ofertava a educação formal completa. Na necessidade de sustentar a família, tornou-se pedreiro.
Leitor assíduo de histórias de super-heróis e de autores como Stephen King e Agatha Christie, aprendeu a contar histórias também e, no momento, lança o quinto livro da carreira: No tempo que o rei jogava. Autodidata, estudou sobre escrita e construção de narrativa, principalmente a partir das experiências com seus escritores favoritos.
“Escrever não é o mesmo que ler, então fui praticando ao longo de muitos anos até que consegui escrever algo que se pudesse ler”, explica ele, que rascunhou vários cadernos até construir um primeiro enredo que o agradasse. Desde então, não parou.
Sobre a carreira literária e sua relação com os livros, reflete: “A leitura é vida e, sem ela, eu não vivo. Se o homem parar de sonhar, vai se equiparar aos animais irracionais. Sempre fui um sonhador, fazer o quê?”. Confira a entrevista na íntegra:
1 – “No tempo que o rei jogava” conta a história de dois jovens órfãos que voltam no tempo para assistir a um jogo de Pelé, mas enfrentam ameaças mortais. Como surgiu a ideia para o enredo? É, também, uma homenagem ao jogador?
Amauri Marcondes: Sim. Com certeza é uma homenagem ao grande rei do futebol, Pelé. Quanto a ideia, para ser sincero, foi meu filho Daniel que me veio com essa quando eu escrevia ainda meu primeiro livro, “O Homem Anônimo”, em 2014. Eu escrevia à noite e ele digitava durante o dia para agilizar o trabalho. Ele disse: “Seria legal se os personagens pudessem voltar no tempo em que o Pelé jogava”. Não era viável naquele momento inserir isso no enredo, pois o primeiro livro já estava se encaminhando para o final. Mas gostei da ideia e anotei para futuramente trabalhar uma trama para ela. Fiz isso em 2017.
2 – A fantasia e a ficção científica produzida no Brasil ainda costumam não ser tão valorizadas entre os leitores. Qual a importância de apresentar um livro que traz elementos nacionais, como a paixão pelo futebol e a referência a Pelé?
- M.: Acredito que usar nomes de lendas como Pelé num livro agrega valor e pode trazer leitores para esse tipo de ficção, que tem grandes autores estrangeiros como Isaac Asimov, Edgar Rice Burroughs, Júlio Verne e tantos outros, mas que, talvez por preconceito, autores brasileiros não conseguem furar a bolha e se sobressair, mesmo que o livro seja bem escrito e tenha uma trama interessante.
3 – Além de “No tempo que o rei jogava”, você tem outros quatro livros e também escreve contos. Como começou seus trabalhos no meio literário?
- M.: Depois de muitos anos lendo praticamente de tudo, desde revista em quadrinhos de super-herói e faroeste, livros de terror de Stephen King, de detetive de Agatha Christie, de aventuras e ficção cientifica, comecei a desejar criar minhas próprias estórias. Escrever não é o mesmo que ler, então fui praticando ao longo de muitos anos até que consegui escrever algo que se pudesse ler.
4 – Na zona rural em que você morava, a escola ia apenas até o ensino fundamental. Por isso, você não fez o ensino médio, também porque teve que trabalhar para sustentar a família. Como você se aprofundou nos estudos sobre produção literária?
- M.: Posso dizer, sem medo de errar, que o que me capacitou a escrever foi a leitura. Como disse antes, lia de tudo e não só um gênero. E pratiquei muito com minha caneta e meu caderninho. Muito mesmo!
5 – Em sua biografia, você afirma: “até mesmo um simples pedreiro do interior pode se tornar um escritor”. Você espera que sua carreira seja inspiração para outras pessoas? De que forma?
- M.: Estou trabalhando para conseguir ser lido por quantos mais leitores possíveis. Se meu esforço servir para inspirar alguém, melhor. O que posso dizer é que, quem tiver a oportunidade de estudar, estude, porque vai facilitar sua vida.
6 – Com várias obras literárias já publicadas e equilibrando essas produções com o trabalho como pedreiro, o que a literatura significa para você?
- M.: A leitura é vida e, sem ela, eu não vivo. Se o homem parar de sonhar, vai se equiparar aos animais irracionais. Sempre fui um sonhador, fazer o quê?
Sobre o autor: Amauri Marcondes de Oliveira nasceu em Corbélia, no interior do Paraná, mas hoje mora em Cascavel. De uma família humilde, teve poucas oportunidades de estudo na zona rural onde morava. Por isso, tornou-se autodidata após terminar o ensino fundamental. Atualmente, trabalha como mestre de obras na construção civil para conseguir o sustento diário, mas começou a desenvolver, em paralelo, sua paixão pela literatura. Lia vários livros e, depois, passou a escrever histórias. “No tempo que o rei jogava” é sua quinta obra literária publicada. Tem no currículo outras publicações: “Trajetória rumo ao desconhecido”, “O regresso”, “A jornada” e “O homem anônimo”.