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OPINIÃO

A bendita marvada e o preconceito de classe

ADÃO RIBEIRO

adao@diariodonoroeste.com.br

O Brasil passa por momentos difíceis. Políticos fazem declarações desastrosas e são aplaudidos pelo “Tiozão do Zap” de qualquer idade, sob o argumento de que é sincero e disse tudo o que gostaríamos de falar. Será?

Na terça-feira o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Partido Novo), confirmou um auxílio de emergência estadual de R$ 600,00 para famílias em situação de extrema pobreza, com renda per capta de até R$ 89,00 e que não recebem o Bolsa-Família. Em outras palavras, um recurso para quem nada tem.

Como se o simples fato de receber o auxílio já não fosse triste o suficiente, o governador acrescentou mais uma humilhação ao combo da impotência alheia. Disse textualmente: “Nós sabemos, infelizmente, que muitas pessoas ao receberem esse dinheiro não fazem uso adequado do mesmo, vão para o bar e ali já deixam uma boa parte ou quase tudo o que receberam. Então, se o valor fosse pago de forma parcelada, muito provavelmente a sua efetividade social seria maior”.

As declarações são literais e não cabem interpretações. Portanto, basta uma reflexão sobre a fala governamental na hora de socorrer quem já não tinha nada e ficou sem esperança por causa da pandemia de Covid-19.

O governador parte do pressuposto de que a pobreza está diretamente ligada ao hábito de consumir cachaça e outras bebidas ricas em graduação alcoólica. Também relaciona que o consumidor de cachaça não tem capacidade de gerir os seus gordos R$ 600,00 e vai “beber tudo” assim que avistar um boteco aberto.

A Organização Mundial de Saúde considera o alcoolismo uma doença. O Brasil vai na mesma linha, inclusive com campanhas do Ministério da Saúde alertando para o problema e sugerindo tratamento.

Só para constar, alcoolismo tem até CID – Código Internacional de Doenças (CID 10 F10 – Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool).

Supondo ser verdade que toda a grana dos assistidos vai para a cachaça, o governador cometeu duas falhas, além do “sincericídio” que agradou aos tiozões de 9 a 90 anos de idade: expôs publicamente pessoas doentes e não falou o que o governo mineiro está fazendo para combater o mal do vício etílico.

Nestes dias marcados por coisas tão ruins, incluindo a fila do osso, o pé de frango inflacionado e a procura desesperada pela pelanca descartada, para ter o mínimo de proteína, aparece um governador sugerindo que a suada ajuda designada aos mais pobres (suada, pois é mais um esforço feito pelo povo já que se trata de dinheiro público), vai apenas para a “marvada pinga”. E ainda que fosse, cabe refletir: Você tem sede de quê?

Adão Ribeiro é editor do DN, historiador pela Unespar

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