CLEO GUIMARÃES
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Aliança Nacional LGBTI+ e a Rede GayLatino, formada por ativistas da América Latina, vão lançar em abril um manual que, segundo um de seus organizadores, tem como objetivo dialogar com pessoas cristãs. “A maioria do discurso contra a nossa comunidade vem, historicamente, de quem se diz cristão”, diz Toni Reis, presidente da Aliança Nacional e da Associação Brasileira das Famílias Homotransafetivas.
Ele conta que a ideia do manual, elaborado por doutores em teologia e filosofia, é ajudar os integrantes da população LGBTQIA+ a entender o livro sagrado e aproximá-los tanto dos religiosos que já os aceitam quanto de fundamentalistas que os rejeitam, muitas vezes com discurso de ódio.
O livro analisa passagens da Bíblia consideradas discriminatórias e busca fazer uma interpretação que as coloquem dentro de um contexto atual. “Nossa alternativa, para quem o Cristianismo ainda faz algum sentido, é buscar nossas próprias formas de ler não apenas esses textos, mas a mensagem bíblica como um todo. No que segue, são apresentados alguns exercícios possíveis para libertar a mensagem bíblica e espiar pela fechadura”, diz um trecho da obra.
O livro será lançado em quatro capitais (Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília) em “ambientes pensantes racionais”, como universidades, e deve contar com a participação de palestrantes, que ainda estão sendo convidados.
Uma curiosidade sobre a Aliança Nacional LGBTI+ é a ausência das letras Q (de Queer) e A (Assexuais) em sua sigla oficial. Reis afirma que as exclusões têm sua razão de ser e que ambas estão contempladas no sinal de +.
“Colocar essa letrinha [Q] no meio é uma contradição”, diz. “Teoricamente todos nós somos ‘queer’, que são pessoas que tramitam entre as noções de gênero. Queer também pode ser uma pessoa torta, desviada. Equivale, por exemplo, a ‘bicha louca’ em inglês. Usá-la oficialmente elimina as outras identidades”, diz Reis. Já os assexuais não têm grupos ou coletivos organizados, tampouco uma pauta política, por isso não fazem parte da sigla adotada pela Aliança.