Relatos de inúmeros casos de violência, especialmente envolvendo escolas, inundaram os noticiários e as redes sociais recentemente e causaram dor, revolta, medo e uma infinidade de outros sentimentos. Diante desse cenário, o Hospital Pequeno Príncipe, maior exclusivamente pediátrico do país, chama atenção de pais e responsáveis para a necessidade de conversar com seus filhos sobre o assunto. Para saber como abordar o tema em casa, a psicóloga Leila Calegari Huscher, do Hospital, tece algumas considerações que podem contribuir com a família nesse momento. A especialista lembra que a escuta é fundamental para que a criança ou o adolescente se sinta acolhido e confortável para falar sobre seus sentimentos. Abaixo seguem algumas orientações:
Mesmo que a criança ou adolescente ainda não tenha tido acesso às informações e notícias sobre os casos de violência, é importante falar sobre esse assunto?
O tema deve ser abordado conforme a curiosidade das crianças. Como esse assunto está em pauta é possível que as crianças entrem em contato com ele, seja na escola, na casa de amigos, familiares ou pelas redes sociais. É importante que a família acolha e converse sobre a situação, escolhendo uma oportunidade adequada e mais tranquila. Evitar falar, por exemplo, quando se está assistindo a uma notícia, porque provavelmente os adultos estarão influenciados pela emoção ou sentimentos de medo, revolta, indignação, preocupação…, podendo aterrorizar as crianças.
E como deve ser a abordagem dos pais ou responsáveis nessas conversas?
Pensando nas crianças menores (até a faixa dos 7 anos, aproximadamente), o indicado é usar uma linguagem acessível, compatível com o grau de entendimento. Como sugestão, os pais podem utilizar metáforas e exemplos simples. Palavras como massacre e atentado devem ser evitadas, porque dificilmente a criança vai entender seu significado. Entretanto, se os pais explicarem que uma pessoa pode machucar a outra, ela poderá compreender melhor a questão. Já os adolescentes têm condições de entender a situação real, por isso o diálogo com eles também é fundamental, considerando outro aspecto imprescindível que é sempre falar a verdade e ser realista.
E como conversar com a criança ou o adolescente que passou por uma situação de risco ou ameaça? A abordagem é a mesma?
A dica é ser acolhedor, ouvir sobre os medos e preocupação e validar esses sentimentos. Os responsáveis podem perguntar como a criança está sentindo-se e explicar o que é o medo. Isso pode ajudá-las na compreensão de seus sentimentos. Muitos pais têm uma tendência de acreditar que se falarem sobre a violência com seus filhos poderão intensificar seus medos. Mas quando eles externalizam seus sentimentos e percebem que o outro está validando esses sentimentos, e assim têm mais condições de regular suas emoções. A criança pensa “minha mãe está me entendendo e me apoiando” e se sente mais segura e confiante.
As situações de violência também deixam as famílias inseguras. Como elas podem enfrentar os medos e ansiedades para ajudar as crianças e adolescentes?
A forma como os pais se comportam vai repercutir no comportamento da criança e do adolescente. É importante que os pais também consigam entender os seus sentimentos e seus medos e não deixem transparecer a insegurança ou angústia para os filhos. Para controlar a emoção, os adultos devem tentar encontrar estratégias internas. Por exemplo, ao perceber que estão ansiosos, com medo ou inseguros, os pais podem tomar atitudes como procurar outros pais que possam ajudar por estarem vivendo a mesma situação ou podem até escolher outras pessoas ou familiares com quem se sintam confortáveis para conversar. Essa atitude pode contribuir à medida que o adulto também compartilha o que está sentindo e encontra condições para regular as emoções.
E quando é preciso buscar ajuda de um profissional?
Uma criança ou adolescente pode ter mais recursos emocionais que outro. O acompanhamento psicológico é bastante importante para aquelas crianças que estejam vivenciando um medo muito exagerado de tudo e que acabem psicossomatizando por meio do surgimento de sintomas físicos e de mudanças bruscas de comportamento como agressividade ou distúrbios do sono e do apetite. Quando se chega a esse extremo é necessária a avaliação de um especialista.