Recentemente foi divulgado que colaboradoras da Petrobrás relataram em um grupo de WhatsApp os casos de assédio que sofreram por outros funcionários da empresa. A notícia ganhou repercussão nacional pouco após o prazo final de 180 dias, estabelecido pela Lei 14.457/2022, tornar obrigatório o combate ao assédio moral, sexual ou qualquer outro tipo de violência por parte das empresas com Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio (CIPA) estabelecida.
O caso em questão enfatiza a urgência do combate ao assédio nas organizações brasileiras. Segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgada em março deste ano, 11,9 milhões de mulheres sofreram algum tipo de assédio no ambiente de trabalho em 2022.
Para Renata Torres, co-founder da Div.A — Diversidade Agora! e especialista em diversidade e inclusão, o desafio engloba muito mais aspectos e precisa de uma medida rápida. “Existem várias formas de violência dentro do ambiente de trabalho, seja assédio moral, sexual, preconceito, sobrecarga de trabalho e até mesmo incidentes de incivilidade. É muito importante que as empresas se adequem a essa nova lei, para que elas possam garantir um ambiente de trabalho mais seguro e saudável para todas as pessoas”, explica Renata.
O assédio moral é outro exemplo de um problema que vem se ‘adaptando’ e tomando novas formas com o passar das décadas. O acúmulo de funções e sobrecarga de trabalho fizeram surgir cobranças de metas de forma abusiva, ou metas impossíveis de serem cumpridas. “Para prevenir esses tipos de violência, as organizações precisam adotar medidas de conscientização e treinamento, tanto para as lideranças, como para as pessoas colaboradoras. Alguns exemplos dessas medidas são a implementação de canais de escuta, investigação isenta dos relatos e a promoção de um ambiente psicologicamente seguro para todas as pessoas”, exemplifica Renata Torres.
Muitas empresas já criaram seus canais de escuta. No entanto, sem uma atitude proativa por parte da organização, este meio não é o bastante, como explica Kaká Rodrigues, co-founder da Div.A e especialista em diversidade e inclusão. “Se você ficar neutra em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor”, essa frase do arcebispo sul-africano Desmond Tutu representa exatamente aquilo que acontece quando nos calamos diante de uma situação de violência no ambiente de trabalho, como assédio moral ou sexual. Se mesmo quando as mulheres fazem a denúncia, a empresa não toma providências adequadas para parar o agressor, isso é escolher o lado do agressor “, pontua.
A especialista destaca também que, em muitos negócios, é necessário haver uma mudança na cultura organizacional, pois várias pessoas colaboradoras se sentem intimidadas e sequer realizam a denúncia. “Isso acontece, principalmente, porque as pessoas afirmam ter medo de perder o emprego, medo de represálias, e porque sentem vergonha de viverem essa situação de abuso. Ou seja, mesmo quando a organização tem algum mecanismo de ouvidoria interna ou terceirizado para recolher relatos de assédio, essas informações muitas vezes não chegam ao conhecimento da alta administração. Para intervir nessa realidade, é preciso trabalhar o empoderamento das pessoas colaboradoras e criar uma cultura de tolerância zero ao assédio”, conclui Kaká.
O debate continua online – Para trazer a discussão para o dia a dia das empresas e da sociedade, a Div.A — Diversidade Agora promove duas lives debatendo diferentes vertentes sobre o assédio.
Com o tema “Enfrentando o assédio nas organizações”, o primeiro encontro reúne em uma roda de conversa, nesta terça-feira, dia 18 de abril, as especialistas em diversidade e inclusão Renata Torres e Kaká Rodrigues com as convidadas Talitha Ferreira, consultora e mentora em liderança feminina, e Elaine Ribeiro, diretora de Gente e Cultura da Santa Helena.
Em seguida, no dia 25, também terça-feira, uma nova live com o tema “Assédio e saúde mental” trará as cofounders da Div.A e Fátima Macedo, CEO da Mental Clean, consultoria em saúde mental.
As lives acontecem sempre às 19h30, nos canais do YouTube e Linkedin da Div.A Diversidade Agora, e são abertas ao público.