NELSON DE SÁ
TAIPEI, TAIWAN (FOLHAPRESS) – “Enquanto alguns estiverem preocupados que a inteligência artificial tire seus empregos, alguém que é especialista em IA vai fazê-lo.” O alerta, com ironia, foi dado pelo CEO da Nvidia, Jensen Huang, aos formandos da Universidade Nacional de Taiwan, em Taipei, no sábado (27) à noite.
Nascido no Sul da ilha e naturalizado americano, Huang chegou à cidade um dia após ver as ações de sua empresa saltarem 25% na quinta, atingindo um valor de mercado de US$ 939 bilhões (R$ 4,7 trilhões), perto do clube de US$ 1 trilhão (R$ 5 trilhões) de gigantes de tecnologia como Apple ou petróleo como Saudi Aramco.
Antes identificada com chips para games, a americana Nvidia virou uma aposta de Wall Street para aplicar em inteligência artificial, porque também produz as GPUs (Unidades de Processamento Gráfico) que são usadas para treinar modelos de linguagem para IA generativa, como o ChatGPT.
Bilionário, Huang foi flagrado na sexta-feira (26) fazendo compras sozinho num dos mercados noturnos populares da cidade, na rua Raohe. A imagem que correu as plataformas de mídia social em Taiwan, como Line. Na palestra aos formandos, na noite seguinte, ele chegou acompanhado de seus pais.
Sua mensagem foi sobretudo aos próprios jovens, também acompanhados dos pais. “Vocês estão entrando num mundo muito mais complexo, com desafios geopolíticos e ambientais”, começou, comparando 2023 com 1984, quando se formou engenheiro no Oregon, nos Estados Unidos.
Se naquele ano Apple e IBM lançaram seus computadores pessoais, neste a mudança virá com IA. “Ela vai criar novos trabalhos que não existiam, tarefas automatizadas tornarão outros trabalhos obsoletos. Vocês precisam aprender a fazer coisas incríveis com um copiloto de IA ao seu lado.”
“É um renascimento da indústria de computadores e uma chance de ouro para as companhias de Taiwan”, disse Huang sobre as empresas. Na sequência, para estimular a persistência nos graduandos, contou que após se formar enfrentou décadas de insucessos, e detalhou três deles.
“O que você vai criar?”, provocou, por fim. “Seja o que for, corra atrás como nós fizemos. Ou você está correndo atrás de comida ou está fugindo de se tornar comida.”
Huang se contrapôs, de modo geral, à cautela de outros executivos com IA, como Sundar Pichai, do Google, e Robin Li, da Baidu.
Antes do salto nas ações da Nvidia e da viagem, Huang deu entrevista ao Financial Times de quarta (24), questionando o veto do governo americano às vendas de chips para a China que o deixou “com as mãos amarradas nas costas” e ameaça “dano enorme” ao setor americano de tecnologia.
“Se [a China] não puder comprar dos EUA, eles mesmos vão fazer. Os EUA devem ter cuidado. A China é um mercado muito importante para a indústria de tecnologia. Se formos privados do mercado chinês, não temos contingência para isso. Não existe outra China, existe só uma China.”
Sobre os estímulos governamentais para erguer novas fábricas locais de chips ou “fabs”, como são chamadas, afirmou que, “se a indústria americana precisar de um terço a menos de capacidade [pela perda do mercado chinês], ninguém vai precisar de fabs, nós vamos acabar nadando em fabs”.
Abordou também a produção taiwanesa, cujas “fabs” estão sendo levadas para os EUA. “Nós podemos, teoricamente, produzir chips fora de Taiwan, é possível, mas o mercado chinês não pode ser substituído. Isso é impossível. Portanto, você precisa se perguntar para que lado deseja avançar.”