RAFAEL BALAGO
DA FOLHAPRESS
Os motoristas que dirigem pelo trânsito – muitas vezes congestionado – de Istambul podem ver com frequência dois tipos de cartazes: da final da Champions League e de políticos, como o do presidente Recep Tayyip Erdogan dizendo “obrigado” pela reeleição.
A cidade, de 15 milhões de habitantes, recebe neste sábado (10) o jogo entre Manchester City e Inter de Milão, no Estádio Olímpico Atatürk.
A final do maior torneio de clubes europeu ocorre depois de meses turbulentos na Turquia. Em fevereiro, um terremoto deixou mais de 50 mil mortos e 200 mil prédios destruídos. O epicentro do tremor foi no sul do país, a mais de mil quilômetros de Istambul.
Houve, depois, uma campanha eleitoral acirrada. Em 28 de maio, Erdogan foi reeleito, em segundo turno, por margem estreita: 52% dos votos. Ele está no poder há 20 anos: foi premiê e, desde 2014, é presidente. Agora, terá mais cinco anos de mandato.
No cargo, ele foi concentrando poder e aproximou a Turquia do modelo de autocracia, no qual a oposição tem menos espaço e o partido no governo vai sufocando vozes discordantes.
Um dos sinais da falta de democracia está na internet: alguns sites de notícias estrangeiros, como a agência alemã DW, não estão disponíveis. Páginas como Wikipedia e Twitter já sofreram bloqueios. Pornografia e aplicativos de paquera LGBT são barrados. Erdogan tem posição conservadora e, na eleição, buscou apontar as relações homoafetivas como uma bandeira da oposição.
Na Turquia, a posse é rápida: ocorreu uma semana depois do pleito. No sábado (3), Erdogan começou o novo mandato, prometendo construir um “século da Turquia”.
Um dia depois do discurso, muitos carros foram para as ruas de Istambul, mas por outra razão. O Galatarasay, time de futebol do lado europeu da cidade, venceu o Fenerbahçe, que fica na parte asiática, por 3 a 0, na última rodada do Campeonato Turco, do qual já era vencedor antecipado.
Istambul fica na divisa entre Europa e Ásia e se estende por territórios dos dois continentes. As duas partes se separam pelo estreito de Bósforo, que tem apenas um quilômetro de extensão em alguns trechos e é atravessado facilmente por pontes e túneis.
A festa da torcida do Galatasaray no domingo se concentrou na praça Taksim, onde centenas de torcedores ficaram por horas cantando e agitando sinalizadores e bandeiras, sob olhar atento de policiais.
A Taksim foi cenário de muitos protestos contra o governo na década passada, como parte do movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe. Apesar das manifestações contrárias, Erdogan se manteve o poder.
Em Istambul, é comum haver detectores de metais e revistas de segurança na entrada de lugares públicos como em hotéis, em shoppings e no metrô. O procedimento, no entanto, muitas vezes é feito de maneira pouco rígida. Em estações, a reportagem viu detectores ligados, sem nenhum agente por perto.
A final deste ano terá reforço na segurança, para evitar um problema grave como o que ocorreu no ano passado, em Paris. Na ocasião, houve enorme confusão nos arredores do Stade de France, com bombas de gás usadas contra torcedores. Por causa disso, o início da partida foi adiado em 40 minutos.
Neste ano, haverá bloqueios a um quilômetro do estádio, para barrar pessoas sem ingresso. Os espectadores passarão por até três barreiras de segurança até o local do jogo. A venda de bebidas alcoólicas será controlada no entorno da arena e proibida dentro dela.
A final será no estádio Atatürk, que tem capacidade para 72 mil pessoas e fica na periferia de Istambul.
A expectativa é que a final leve mais de 65 mil viajantes para a cidade, e que possa gerar mais de US$ 120 milhões (R$ 589 milhões) em faturamento, estima a associação de turismo local. Espera-se que cada pessoa gaste em torno de US$ 2.000 (cerca de R$ 9.800) na visita.