Jesus chama para seu grupo Mateus, o cobrador de impostos. É interessante como a função que Mateus exercia o caracteriza, certamente porque era muito conhecido pelo povo. Podemos imaginar Pedro quando soube que Jesus o chamara: “Mas como pode chamar este homem que todo mês nos explora com o imposto da pesca?” Também podemos acentuar a liberdade de Jesus em chamar qualquer pessoa sem preconceitos. Podemos olhar e dizer ‘como Ele escolheu mal.
Jesus vai à casa dele, toma refeição com ele e seus companheiros. O chamado de Mateus e a refeição-banquete, abrem a porta do Reino para “os pecadores”, os impuros, os excluídos.
Para Jesus o Reino de Deus é como uma “Grande Família” que se reúne em torno da mesa, para partilhar o pão, a vida. E todos são convidados ao “banquete”. Isto acarreta críticas dos fariseus: “Ele come com “os pecadores”, e aqui é bem um exemplo disto. Mateus pelo que tudo indica era “um cobrador comum”, alguém que tinha uma profissão “desonrosa”. Ele dependia de um chefe como Zaqueu que explorava seus comandados, Mateus portanto é um explorador explorado.
Os fariseus se sentem guardiães da separação que garante a pureza e com ela a santidade ou consagração do povo, entre as separações a mais importante é entre “justos e pecadores” (Sl 139, 19-22; Pr 29,27). À força da observâncias (por volta de 600), não entendem a Escritura, consideram-se são e santos. A prática deles através de “sacrifícios”, “esmolas” etc., através deles, pensam serem salvos, pensam ter comprado a salvação. Supõem insanável a situação que Jesus veio sanar (cf. Eclo 38,10-14). Não tem cura. Mas o primeiro passo para a cura e reconhecer a doença.
De que adiantam os sacrifícios, o culto, as celebrações? Tudo isso não agrada a Deus, pois ele quer amor em lugar de sacrifícios, conhecimento de Deus em vez de holocaustos. Em outras palavras, por meio de Oséias Deus exige que se faça justiça ao povo do campo, explorado em sua força de trabalho e alienado por uma religião que defende os interesses dos poderosos. Este é o pano de fundo do evangelho de hoje de Mateus, que repete: “Aprendam pois o que significa: ‘eu quero a misericórdia e não o sacrifício’ (Mt 9, 13) Esta frase é citada duas vezes no evangelho (9,13; 12,7), soa como um grito de suas comunidades para os legalistas. Este, para participarem do culto, evitam qualquer contato com gentios e pecadores e o fazem em nome de Deus – portanto, um Deus que discriminava. A misericórdia, é o amor de Deus em ação, que não exclui, como busca e acolhe os excluídos e os reintegra (12,9-12).
Jesus traz pra dentro da nossa história, a justiça que faz surgir o “Reino de Deus”. A primeira palavra dele no evangelho de Mateus é: “Deixa por ora, pois desse modo convém que realizemos toda a justiça” (3,15). Esta justiça do reino contrasta com a justiça do mundo e principalmente com a dos fariseus. No Sermão da montanha afirma: “Se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céus”. Para a justiça dos fariseus é preciso manter distância dos cobradores de impostos. Jesus pelo contrário se aproxima e convoca Mateus a segui-lo: ‘Siga-me”. E Mateus se levanta e segue Jesus. (v.9). Mateus aderiu plenamente ao convite de Jesus, e este se identifica com os excluídos pela justiça dos fariseus. Jesus senta à mesa com Mateus e os cobradores de impostos o que causa escândalo ao “puros”, “justos” fariseus. Daí o escândalo deles que perguntam aos discípulos: “Por que o Mestre de vocês come com os cobradores de impostos e pecadores?” Jesus intervém com muita ironia: “As pessoas que têm saúde não precisam de médicos, mas só as que estão doentes”. À primeira vista trata-se de um simples provérbio popular daquele tempo. Todavia, reconhecendo que Jesus é o Mestre da justiça, percebemos as duras críticas ao sistema religioso segregador defendido pelos fariseus. Estes é que são os doentes crônicos que rejeitam a cura e se afastam de Deus. Jesus usa a frase antológica de Oséias: “Eu quero a misericórdia e não o sacrifício”. Sacrifício era justamente uma das características deles: apego escrupuloso de todos os detalhes da Lei escrita e oral. E isso os tornava “piedosos” aos olhos da população. “Santos”, “justos” e “separados”. A última afirmação de Jesus retoma o tema da ironia: “Eu não vim para chamar justos, e sim pecadores”. Os fariseus consideravam-se justos por cumprir a Lei. Assim sendo colocavam-se como fim em si mesmos, sem precisar de Deus. Consequentemente punham-se à margem da mensagem de Jesus e de sua prática. Jesus nada pode fazer por eles, porque não precisam dele. Jesus mostra que ser justo é ser misericordiosos para com os excluídos. E ironiza a “justiça” e a saúde dos falsos cristãos. Os maus cristãos costuma afirmar uma fé inabalável em Deus, mas descomprometida com a transformação própria e da sociedade. Para se r discípulo do Mestre da justiça é preciso superar limites e deixar-se guiar pelo critério da misericórdia.
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.
Texto escrito a partir de: Roteiros homiléticos – Pe. José Bortolini.