Lírios ao vento…
Eles são apenas meninos…
Meninos e meninas soltos nas ruas, como lírios ao vento…
Não têm lar nem carinho, não sabem o que é aconchego e proteção.
Eles cheiram mal, dizem uns. São pivetes violentos, assaltantes, alegam outros…
São apenas crianças…
Somente quem se aproxima desses pássaros indefesos, com atenção, é que pode perceber fatos comoventes e de grande sensibilidade…
Certa vez ouvimos, dos lábios de um desses pequenos, uma oração sentida: Deus, meu Pai, ajude as crianças de rua, dê um lar para elas. Ajude essas pessoas que nos recebem e nos dão alimento e carinho.
Deus, meu Pai, ajude minha família, que não sei onde está, mas o Senhor deve saber. Vá até minha família, meu Deus, e a ampare.
Somente quem se aproxima desses lírios expostos ao vento, pode perceber que são apenas crianças abandonadas à própria sorte, sem rumo e sem esperança…
A pequena, cansada, se debruça e puxa a manga gasta do moletom, para esconder o dedo na boca, como se fosse uma chupeta.
São crianças como outra criança qualquer… que vagueiam pelas ruas, sem direção certa…
Esses pequenos talvez cheirem mal, como qualquer pessoa que ficasse muito tempo sem tomar banho.
Talvez sejam assaltantes, viciados, violentos… Mas são apenas crianças… Sem rumo e sem esperança.
Sem um lar, sem a orientação dos pais, eles criam mecanismos de defesa para não sucumbirem às circunstâncias da vida.
Agem por instinto. Instinto de sobrevivência, natural em todo ser vivo.
Muitos saíram de casa para fugir das agressões dos pais, padrastos, madrastas, ou de quem os deveria proteger.
Agora, vivem nas ruas defendendo-se dos perigos existentes nesse meio.
Muitos são explorados por adultos delinquentes. São constrangidos a roubar, traficar, se corromper, se prostituir.
Alguns trazem as marcas da violência sofrida no pequeno corpo em formação.
No entanto, mais profundas e doloridas são as marcas que trazem na alma dilacerada pela solidão, pelo abandono.
Que futuro os espera?
O que será dessas criaturas frágeis, após as ásperas rajadas de granizo sobre suas vidas indefesas?
O que esperar desses pequenos lírios açoitados pelo vento e pelas tempestades que os arrasam?
* * *
Se um dia você encontrar um desses pequeninos, pare um pouco e lhe pergunte sobre seus sonhos, seus anseios, suas vontades secretas.
É bem possível que ele lhe diga que quer um brinquedo, que deseja ter um lar para se abrigar das intempéries, um colo para se aconchegar…
Talvez peça apenas para não ter mais que dormir no escuro, pois sente medo durante a madrugada.
Quem sabe diga que deseja aprender a ler, escrever, fazer parte da História da Humanidade, como um ser humano, e não como um farrapo sem importância…
E se você puder atender um de seus desejos, pode guardar a certeza de que nesse instante a Humanidade estará melhor…
Se, porventura, ele receber você com indiferença ou agressividade, não leve em conta, pois ele estará apenas usando seus mecanismos de defesa, como fazem as criaturas frágeis, quando estão feridas…
Redação do Momento Espírita.
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