Aos oito meses de idade, a Flavinha fez uma cirurgia delicada no coração, para corrigir um problema congênito. Um mês depois, completamente restabelecida e pronta para levar vida normal, a pequenina voltou à rotina diária da pré-escola, enquanto os pais Fernanda e Flavio trabalham. Esse retorno já seria um desafio importante na vida da família. Mas foi maior ainda por ocorrer exatamente no mês de junho, período em que as temperaturas caíram em Curitiba e as emergências médicas lotaram de crianças com problemas respiratórios. A família fez a escolha certa?
A resposta é sim, segundo consenso entre especialistas em educação e pediatras, além dos próprios pais da Flavia. Com a chegada do inverno, as preocupações com a saúde das crianças se intensificam, especialmente quando se trata de resfriados e outras doenças respiratórias. A angústia é grande entre os pais, principalmente entre os que não têm rede de apoio para manter os filhos em casa. Nesse período, é fundamental compreender a importância de manter as crianças pequenas na pré-escola, uma vez que isso contribui significativamente para seu desenvolvimento, sociabilização e fortalecimento do sistema imunológico.
A pré-escola desempenha um papel crucial no desenvolvimento infantil, oferecendo um ambiente propício para a aprendizagem e aquisição de habilidades socioemocionais. Durante as aulas, as crianças têm a oportunidade de explorar, interagir e aprender por meio de atividades estruturadas e lúdicas. A interação com colegas e colegas de classe estimula o crescimento intelectual, a curiosidade, a criatividade e a resolução de problemas, diz Franciele Fagu, assessora pedagógica da Pré-Escola em uma das maiores escolas da capital paranaense, o Colégio Santo Anjo. Dos seus 3 mil alunos, 1,2 mil têm de 4 meses a 6 anos, formando o maior grupo pré-escolar da cidade.
Além disso, a pré-escola é um espaço de sociabilização, onde as crianças têm a oportunidade de interagir com outras crianças de diferentes origens e culturas. Essa interação promove o desenvolvimento de habilidades sociais, como a comunicação, a colaboração, o respeito e a empatia. E, para todas essas atividades, o colégio proporciona espaços amplos, cobertos e arejados, proporcionando momentos ao ar livre, onde o ar circula, acrescenta Franciele Fagu.
Reforço da imunidade – No caso da Flavia e da maioria das crianças, mantê-las na pré-escola durante o inverno também é vantajoso para o fortalecimento do sistema imunológico. Embora seja verdade que o período de frio traga consigo um aumento nas doenças respiratórias, o contato com vírus e bactérias ajuda a desenvolver uma imunidade mais robusta.
Ao enfrentar esses desafios de forma moderada, o sistema imunológico da criança se torna mais resistente, pondera a pediatra Nicolle Schio. “A criança costuma ter pelo menos uma infecção mensal e neste ano é esperado que o número seja ainda maior, porque a circulação das pessoas voltou ao normal, após o isolamento da pandemia. E por consequência há maior circulação de vírus, bactérias e outros patógenos. Eles acabam ativando o sistema imunológico, a criança cria anticorpos para vírus semelhantes e os sintomas serão cada vez mais brandos ou até inexistentes nos próximos contatos.”
Para os pais de Flavia, Fernanda e Flavio da Cunha, essa orientação foi importante para retomarem a vida normal sem temores. “Nós estamos muito felizes com o retorno à escola. Ela é agora uma criança normal que passou por um evento traumático. Ficou 22 dias no hospital, isolada, sem estimulação. Foi bem difícil para todos nós, que nos revezávamos na UTI.
Agora ela precisa de estímulo para se desenvolver ainda mais. Quando viu a professora já riu. A escola nos acolheu com muito carinho e cuidado. Recebo fotos todos os dias e até agora ela não teve um resfriado”, conta Fernanda.
Como reduzir o risco de complicações –
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 90% das crianças entre 4 e 5 anos frequentam a pré-escola no Brasil. A experiência mostra que aproximadamente 30% das crianças em idade pré-escolar apresentam doenças respiratórias no inverno. No entanto, medidas de prevenção aplicadas podem ajudar a reduzir o risco de complicações:
- Higiene adequada: Incentive as crianças a lavar as mãos regularmente com água e sabão, especialmente antes das refeições e após usar o banheiro. O uso de álcool em gel também pode ser recomendado.
- Vacinação: Verifique se as vacinas das crianças estão em dia, incluindo as vacinas contra a gripe, que são atualizadas continuamente.
- Ambiente saudável: Mantenha uma pré-escola limpa e bem ventilada. Promova a separação regular dos espaços, brinquedos e utensílios compartilhados.
- Alimentação balanceada: Estimule uma alimentação balanceada e rica em nutrientes, o que contribui para um sistema imunológico mais forte.
Se uma criança de pré-escola apresentar sintomas de resfriado ou gripe, é importante adotar as seguintes medidas:
- Isolamento: Mantenha a criança em casa por alguns dias para evitar a disseminação da doença para outras crianças e educadores.
- Repouso e hidratação: Garanta que a criança descanse e beba líquidos em abundância para evitar a desidratação.
- Consulte um médico: Em caso de agravamento dos sintomas ou dúvidas, consulte um profissional de saúde para um diagnóstico adequado e orientações específicas.
Para a pediatra Nicolle Schio, a rotina da pré-escola é valiosa para a criança desenvolver autonomia e capacidade de comunicação. “Se a criança estiver resfriada, mas se sentindo bem, aconselhamos a seguir a rotina escolar. O mais importante nessa idade, além dos ganhos de imunidade, é o desenvolvimento social. Em casa, a família aprende a ler a comunicação não verbal. Na escola, ela deve achar novas maneiras de se comunicar e isso é muito positivo”, acrescenta.