O peregrino da época medieval sentia necessidade de ter pontos muito concretos de referência aos lugares ou coisas ligadas à vida dos Santos para tocá-los, senti-los, vê-los, ter quase um contato físico com os mesmos. Este tipo de referência para o peregrino, falava dos valores vividos por Maria e assim alimentava nele profunda espiritualidade Mariana, cheia de amor e ternura. Por isso, os lugares estão cheios de sentido, se ligam a textos bíblicos que alimentam a espiritualidade. Lugares ligados a Jesus e também à Maria.
A característica Mariana da Ordem está presente desde o início, pela dedicação a Maria do primeiro oratório no Monte Carmelo e pelo conseqüente Padroado de Maria sobre a Ordem. A escolha do “Padroado” envolve, neste caso, uma orientação espiritual no sentido da consagração ou “Obséquio”, ou seja, consagrar-se para viver não só em obséquio de Jesus, mas também de Maria sua Mãe. Isto implica uma dupla dimensão: – Da parte dos irmãos, estarem dedicados a Maria, honrá-la com o “Serviço”. – Da parte de Maria, o favorecimento com a mediação das graças e benefícios (a chamada de “Proteção”, “Patrocínio”). Então todo bem que vem de Deus à Ordem vem por meio de Maria.
A evolução para o atual título de: IRMÃOS DA VIRGEM MARIA DO MONTE CARMELO: Temos evidência disso: Numa polêmica com um padre Dominicano que provoca os Carmelitas a defender-se afirmando: APRESENTAR-SE COMO IRMÃO DE MARIA E FAZER DELA IRMÃ, ISTO É UMA OFENSA A ELA. COMO PODEM SER IRMÃOS DA ORDEM DE MARIA? Eles respondem: Como nossa Irmã, porque nós queremos viver do mesmo jeito que ela viveu. Nós queremos ter a mesma relação que ela teve com Deus e com Jesus. E por isso é que deveremos imitá-la, fazer parte de sua família.
O sucessivo desenvolvimento da característica Mariana leva as primeiras gerações carmelitas a verem também na Virgem Maria a forma ideal da encarnação de seu “propositum vitae”. Nasce assim a exemplaridade da Virgindade de Maria, não só como isenção do pecado (condição para o encontro com Deus) mas como disposição radical à união e à escuta da Palavra. O ulterior aprofundamento da natureza da devoção Mariana realizado por alguns autores espirituais, leva a uma familiaridade de vida com Maria a fim de seguir melhor a Cristo. Em particular, o primeiro a dar forma orgânica a todos os elementos marianos foi João Baconthorp no princípio do século XIV. A sua doutrina pode ser sintetizada em dois pontos: – Tudo o que o Carmelita faz, deve fazê-lo para honra e glória de Maria porque, consoante a vontade divina, esta é a razão da existência de sua Ordem, Maria é de fato a “DOMINA LOCI” (isto é, A Senhora do lugar, do Carmelo). A vida do Carmelita exige que ele a imite em todas as virtudes porque a conformidade é a melhor glorificação, e tender à mesma é manifestação de amor que, por sua vez, aumenta o amor. A idéia da exemplaridade de Maria expressada forte e amplamente por Banconthorp, é sucessivamente retomada por muitos autores até desenvolvê-la como um viver em conformidade com Maria, especialmente em relação à virgindade. Esta relação é a base de que Maria é Irmã, portanto não é só modelo a imitar, mas é presença na vida (afirmação do livro Formação dos primeiros Monges).
Depois de afirmar que o Carmelo pertence totalmente a Maria, chega-se a atribuir mesmo a ela o nascimento ou fundação da Ordem. A Patrona converte-se assim na MÃE DA ORDEM. De fato, no contexto do Padroado, para o caminho interior com “MARIA, RAINHA DAS VIRTUDES”(João Chemenot) muitas vezes se desenvolve a atenção à Virgem Maria como MEDIADORA E SOBRETUDO, AFIRMA-SE A SUA MATERNIDADE PARA COM A ORDEM: As Atas do Capítulo Provincial da Lombardia de 1333 começam: “Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e da gloriosa Virgem, MÃE DE NOSSA ORDEM DO CARMO”.
João de Cheminot definiu Maria como “Fonte das Misericórdias, Mãe nossa”. Ele com referência às lendas da visita de Maria ao Carmelo destaca seu caráter maternal: “Era conveniente que a Mãe das virtudes, por sua presença, enriquecesse o lugar da santidade e os filhos devotos.”
Frei Filomeno dos Santos O.Carm.